Washington Post desnuda Bolsonaro e questiona até sua permanência no cargo

Jornal dos EUA publica ampla matéria sobre situação do presidente brasileiro, relata sua acentuada queda de popularidade, escândalos de corrupção e diz que medidas econômicas fizeram pobres sofrerem mais na pandemia

Foto: The Washington Post (Reprodução)
Escrito en POLÍTICA el

O jornal norte-americano The Washington Post publicou uma ampla matéria na noite de segunda-feira (5), com 19 parágrafos, retratando a situação política do presidente Jair Bolsonaro, afundado na má-condução do país durante a pandemia e atolado nas recentes denúncias de corrupção envolvendo seu nome e de membros do seu governo.

Sob o título À medida que investigações sobre a pandemia avançam, Bolsonaro se vê cada vez mais ameaçado por escândalos de corrupção, o texto explica que as recentes denúncias criminosas contra o presidente amplificam os questionamentos sobre sua permanência no cargo e afirma que elas têm um potencial muito mais destrutivo para o chefe de estado brasileiro do que a conturbada condução da pandemia da Covid-19 orientada por ele, assim como as políticas econômicas adotadas por seu ministério, que só fizeram com que os pobres sofressem ainda mais.

O periódico estadunidense, famoso pela cobertura do escândalo Watergate, nos anos 70, que levou à renúncia de Richard Nixon, explicou os pormenores das denúncias de corrupção reveladas pelo deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e por seu irmão na compra da vacina indiana Covaxin, dando atenção especial para o fato de que Jair Bolsonaro vivia pechinchando com laboratórios que produzem vacinas de primeira linha por preços menores, enquanto pagou valores exorbitantes, até 1000% maiores, numa transação obscura para adquirir o imunizante da Bharat Biotech.

Falas do presidente da CPI, senador Omar Aziz (PDS-AM), e do acadêmico Matias Spektor, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, dão tom ainda mais dramático à publicação. O primeiro confirma que Bolsonaro prevaricou e que sequer se deu o trabalho de desmentir as denúncias de que não fez nada para impedir o desvio de dinheiro no caso Covaxin, enquanto o segundo afirma que a situação parece estar fora de controle para o presidente.

A matéria retrata ainda os crescentes protestos contra o governo Bolsonaro, que nos últimos dois meses tomou as ruas das capitais brasileiras em três ocasiões, contando agora com a participação de amplos setores da sociedade civil, o que reflete numa perda clara de apoio popular do presidente.

Os mais de 100 pedidos de impeachment que se acumulam na gaveta do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, também receberam atenção especial na reportagem assinada por Terrence McCoy, assim como a decisão do Supremo Tribunal Federal de aceitar a abertura de investigação contra Bolsonaro por prevaricação.

Um representante da Transparência Internacional e uma da consultoria Dharma Politics também foram ouvidos na matéria e afirmaram que para além do sofrimento causado às pessoas pela desastrosa condução das políticas públicas de Saúde durante a pandemia, como as negativas em fechar contrato com laboratórios para compra de vacinas, Bolsonaro agora tem um novo problema para sua permanência no poder: perder as ruas, o que o deixaria cambaleante.