O governo de Minas Gerais, chefiado por Romeu Zema (Novo), perdeu a oportunidade de fechar um acordo com a farmacêutica chinesa Sinopharm para fabricar uma vacina contra o novo coronavírus com eficácia de 79,3%. O motivo: lentidão na condução da conversa, segundo documentos obtidos pelo jornal Estado de Minas.
A falência da tratativa começou no horário que o governo Zema marcou a reunião que selaria o acordo, de acordo com o jornal: 16h do dia 17 de agosto. Acontece que, devido ao fuso horário, era madrugada em Pequim, sede da farmacêutica. A diferença entre a cidade chinesa e Belo Horizonte é de 11 horas.
Mas não foi só a gafe diplomática que influiu. A empresa chinesa avaliou que o ritmo de trabalho do Executivo mineiro estava abaixo da urgência de suas necessidades.
O acordo estava sendo costurado por um chinês que mora em Belo Horizonte e é presidente de uma multinacional, segundo o jornal mineiro. Um e-mail dele obtido pelo Estado de Minas relata por que o acordo naufragou.
“Eles (da CNBG, empresa que controla a Sinopharm) lamentam informar que não poderão atender a essa reunião com (o governo de) Minas Gerais às 3 da manhã no horário de Beijing”, escreveu ele na mensagem em inglês. “Eles também estavam muito entusiasmados para estabelecer essa cooperação”, diz. E aí vem a exposição dos demais motivos: “Entretanto, duas semanas após a assinatura do memorando, Minas Gerais ainda não propôs um plano de trabalho para os testes clínicos de fase 3, e também não tem propostas de companhias CRO (Clinical Research Organizations, empresas às quais se pode terceirizar um ensaio clínico). O atual estágio dos trabalhos preocupa a CNBG. Uma vez que a pandemia de COVID-19 ainda avança furiosamente, a equipe da CNBG está correndo contra o tempo todos os dias para oferecer ao mundo uma vacina segura e efetiva. Eles não podem mais esperar”.
Desconhecimento
Se fosse fechado o acordo, a vacina seria produzida pela Fundação Ezequiel Dias (Funed). A autarquia é responsável pelo único pólo nacional a distribuir doses do imunizante contra a meningite C.
No entanto, apesar dessa importância e de ser sediada em seu estado, Zema não a conhecia quando ainda era candidato ao governo mineiro.
Em outubro de 2018, perto do segundo turno das eleições, durante entrevista ao G1, ele mostrou desconhecer o que fazia a fundação. Questionado por um internauta sobre o que faria para fortalecer a Funed, ele perguntou o que era a Funed. Veja o vídeo.
Ao comentar a reportagem em suas redes sociais, o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) escreveu: “Zema não tem vergonha de ser um bajulador de Jair Bolsonaro. É um Bolsonaro de sapatênis. Como o Partido Novo é um PSL que usa guardanapo.” Para Correia, Zema copia o presidente “no descaso com os pobres, no descuidado com qualquer coisa que não se chame dinheiro. E na incompetência”.
Leia a reportagem completa do Estado de Minas aqui.