Cartas do Pai: "Chega de Mortes"

Trinta por cento das mortes violentas no Rio são causadas por policiais. A Ágatha faz parte desses 30%. Ágatha era negra e moradora de favela

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Rio de Janeiro, 25 de setembro de 2019. Pai. Já tinha falando em uma carta sobre uma morte de um criança, em uma favela, voltando pra casa, ainda com uniforme da escola. Desta vez foi uma menina, de 8 anos apenas. Agatha estava voltando pra casa com a sua mãe, quando levou um tiro de fuzil. Um tiro de fuzil, pai! Sempre em favela, né? Nunca acontece na zona Sul do Rio. Lá, as “balas perdidas” não encontram crianças, nem adultos. Nas favelas isso acontece toda hora. Alguns dias antes vi fotos de crianças abaixadas, se protegendo dentro de uma escola (em uma favela, é claro), pra se abrigar de tiros disparados por policiais, que atiravam de um helicóptero, sem se preocupar se acertariam algum inocente. Pois é! Sexta-feira passada acertaram mais uma criança inocente. E quando as mesmas pessoas que protestavam contra essas ações foram protestar por um crime que já estava sendo alertado que iria acontecer, o governador deu uma coletiva, acusando essas pessoas de usarem o caixão pra fazer palanque. Não coloque crianças dentro de caixões, e nós não transformamos elas em palanque. Nessa política de confronto morrem mais inocentes, morrem mais policiais e todo mundo fica com medo. Além de não resolver o problema. Vi hoje que 30% das mortes violentas aqui no Rio são causadas por policiais. A Ágatha faz parte desses 30%. Ágatha era negra e moradora de favela. Isso tem que parar, pai! Um beijo do seu filho, Ivan
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.