Fora Bolsonaro só com luta social, frente de esquerda e Lula Presidente – Por Julian Rodrigues

Derrotar a aliança entre o bolsonarismo e os neoliberais vai demandar muita luta e uma candidatura a presidente unitária

Foto: Pragmatismo Político (reprodução)
Escrito en OPINIÃO el

Derrotar a aliança entre o bolsonarismo e os neoliberais vai demandar muita luta e uma candidatura a presidente unitária 

  1. Está se tornando um padrão. Desde 2019, a cada crise do governo Bolsonaro a militância de esquerda se entusiasma com a possibilidade do impeachment. E, por algumas semanas, o “Fora Bolsonaro” se transforma no centro da ação política do campo progressista, gerando expectativas grandes, e, posteriormente, desilusão e até desalento.
  2. Claro que agitar a consigna do “Fora” é importante – aliás, tática mais que pactuada em todo o campo progressista. O problema é deixar que a mobilização em torno dessa bandeira bagunce a capacidade de análise, a tática, a perspectiva e a estratégia da esquerda.
  3. Desde de os primeiros meses do governo Bolsonaro, muita gente apostava em sua queda iminente. Ou em seu enquadramento. Sim, houve um movimento da direita liberal via STF, mídia e Congresso que freou arroubos neofascistas.
  4. Mas, nunca esteve – e não está – colocada a perspectiva de queda de Bolsonaro. Por inúmeras razões, a começar pela mais óbvia: nenhum governo com 30% de apoio sofre impedimento. Collor caiu porque só tinha 9% de apoio e Dilma, 8%. O resto é o resto.
  5. Há muita boa fé, esperança, expectativas entre nós com a chama direita neoliberal. Um mero editorial do Bonner nos anima. Um tuíte do Amoedo nos enche de esperanças. Se Rodrigo Maia pisca, a gente se deleita.
  6. É compreensível a ânsia para nos livramos de Bolsonaro o mais rápido possível, de qualquer jeito. Mas a esquerda não pode abrir mão de uma análise mais geral do quadro político nacional e internacional.
  7. O bolsonarismo só foi possível porque as elites romperam com o pacto de 1988 e deram um golpe. É verdade que queriam eleger um tucano, mas, não sendo possível, apoiaram o ex-capitão sem pestanejar.
  8. As diferenças que os neoliberais têm com os neofascistas são bem menores do que as que eles têm com a esquerda.  Guedes é o ministro forte de Bolsonaro, e, aos trancos e barrancos, há uma hegemonia ultraliberal que guia as políticas do governo.
  9. A presidência de Bolsonaro não é apenas mais uma na sucessão democrática normal. Trata-se de um governo eleito pós-golpe, com métodos neofascistas, com uma agenda ideológica permanente, o que muitos chamam de “guerras culturais”. O bolsonarismo não acabará se Bolsonaro cair amanhã. Trata-se de uma disputa de médio e longo prazo.
  10. O Brasil não sorrirá de novo se tirarmos Bolsonaro do governo federal. Sem derrotar o programa neoliberal e enfraquecer a ultradireita, de nada adianta um eventual – improvável – impedimento do atual presidente.
  11.  Não podemos cometer dois erros graves. O primeiro: subestimar Bolsonaro e a força do neofascismo. Tem gente que o chama de “incompetente” até hoje! O segundo erro é acreditar que uma “Frente Ampla” com os neoliberais seria a solução. Acreditar no “espírito democrático” daqueles que romperam com a Constituição de 1988 não dá.
  12. As mobilizações de rua em pleno agravamento da pandemia estão inviabilizadas. Seria uma contradição gigantesca a esquerda convocar aglomerações. Por outro lado, é importante intensificar a agitação de redes, os panelaços, as ações simbólicas. Sobretudo tendo como foco a volta do auxílio emergencial, a vacina para todas, emprego e renda. Desgastar o governo mostrando que ele não faz nada de bom para o povo. Tentar arrancar vitórias parciais no Congresso Nacional.
  13. Acuado, mais uma vez, Bolsonaro arreganha os dentes. Vai para cima dos seus adversários da direita (Doria é o grande antagonista) e volta a flertar com o fechamento do regime: “são as Forças Armadas que decidem se um país é democrático ou não”.
  14. A resposta dos capitalistas é pedir mais reformas neoliberais. Manifestos lançados em 18 e 19 de janeiro por entidades do setor industrial e de serviços clamam pelo aprofundamento da agenda de desmonte do Estado e das políticas públicas. Aproveitam o momento de fragilidade de Bolsonaro para emplacar sua agenda. Não cogitam derrubar o ex-capitão.
  15. Sem ilusões, é preciso construir a Frente de Esquerda e antineoliberal. Entender que estamos em um período de defensiva da esquerda no Brasil (embora haja sinais auspiciosos de retomada das forças populares na América Latina).
  16. É preciso fazer tudo para desgastar o governo Bolsonaro, desde já. Mas, devemos trabalhar com o cenário principal: ele estará no 2° turno em 2022.
  17. Por isso, é fundamental construir desde já uma unidade política e social e partidária. A Frente de Esquerda. Com um programa e identidades e objetivos comuns, combinando o jogo desde já.
  18. O PT, maior partido desse campo, tem como desafio não só impulsionar a Frente de Esquerda, como também garantir a unidade em torno de uma candidatura forte para 2022.
  19. Não é compreensível que, mesmo dentro do PT, se subestime a importância da luta pelos direitos políticos de Lula. O #anulaSTF diz respeito à própria reconstrução da democracia no Brasil. Se Lula não tem direitos políticos é porque toda esquerda segue interditada.
  20. Mas, além disso, Lula segue sendo o principal nome do campo popular. O único que pode agregar um grande leque de forças progressistas. Que pode polarizar o país contra Bolsonaro, sem que a esquerda fique refém de uma candidatura tipo Doria ou Huck. Lula é o único que pode trazer o PCdoB, e mesmo o PSOL (alguém acha que Boulos se candidataria contra Lula?), mais setores do PDT, do PSB e até nacos da centro-direita.
  21. O maior medo dos caras é Lula de volta. Que os cirominions não admitam isso eu entendo. Que boa parte do PSOL também não goste da ideia, idem. Mas, que no PT haja dúvidas sobre a centralidade de recolocar Lula no centro do tabuleiro é algo difícil de compreender.
  22. Derrotar o bolsonarismo vai demandar muita luta social. Muita unidade no campo progressista. Muita luta política e ideológica. De imediato, centralizar o movimento oposicionista. Para isso, é preciso apresentar um programa emergencial e uma candidatura à Presidência.
  23. Somente a campanha Lula presidente pode dar foco e trazer um sentido unitário ao campo progressista, colocando de novo, uma perspectiva de vitória eleitoral, um programa e a esperança da volta da esquerda ao governo.
  24. Nesse sentido, um realinhamento é necessário. E deve partir do PT, maior partido. Sim, vamos agitar o “Fora Bolsonaro e Mourão”. Mas, vamos construir desde já uma tática, um programa e uma candidatura para enfrentar o bolsonarismo em 2022.
  25. Retomar a pressão sob o STF e lançar Lula, com um programa emergencial e mais uma plataforma de reconstrução do Brasil, é a melhor maneira de potencializar a força popular contra o neoliberalismo e o neofascismo.
  26. Fora isso, é a dispersão de forças e o cultivo de ilusões com as elites golpistas. Ou pior, o reforço da fragmentação do campo progressista.
  27. LULA INOCENTE! #AnulaSTF! Lula Presidente! Fora Bolsonaro e Mourão! Nem Maia, nem Huck, nem Doria podem liderar a oposição! Esquerda no governo.