Ciro de saída do PDT: votação da PEC dos Precatórios não é o principal motivo

Com a declaração de hoje de Ciro de que ela está suspensa, a candidatura pelo PDT pode, na verdade, já estar caindo do telhado

Ciro Gomes (Foto: Fatima Meira)
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Hoje pela manhã o pré-candidato pelo PDT, Ciro Gomes, fez uma thread lacônica no Twitter anunciando que estava suspendendo sua candidatura a presidente da República. A decisão, segundo ele, teria relação com a votação da PEC dos Precatórios, aprovada em primeira votação na Câmara dos Deputados por conta do “sim” de ampla maioria dos deputados do PDT. Foram 15 parlamentares que seguiram a orientação do líder e votaram sim. A PEC foi aprovada por 312 votos, apenas 4 a mais que o mínimo de 308 necessário para esse tipo de proposta.

Ciro havia se posicionado contra a PEC. Mas mesmo entre os cinco deputados federais do PDT do Ceará, quatro votaram a favor dos interesses do governo Bolsonaro. O único que votou contra foi Idilvan Alencar, que é acusado de ter mudado de posição na última hora e de ter sido um dos articuladores pelo voto "sim", dialogando inclusive com sindicatos de professores.

Ou seja, se Ciro era tão contrário a PEC por que não conseguiu influenciar nem o voto dos deputados do PDT do seu estado? Por que durante a votação, segundo Gustavo Castajon, que funciona como um articulador para redes sociais do candidato, ele dormia? Por que não se posicionou de forma firme contra o anuncio da liderança de que o partido votaria sim enquanto a votação ocorria ainda no final da noite?

A decisão de Ciro Gomes de suspender a sua candidatura não teria relação tão “profunda” com a votação de ontem da PEC dos Precatórios. Ciro estaria insatisfeito com o PDT pela falta de apoio que está tendo dos seus correligionários para empinar sua candidatura.

Um dos candidatos mais fortes do partido a governos de estado é o senador Weverton Rocha (PDT-MA), que já foi a dois encontros com Lula, divulgou fotos nas redes sociais e também já afirmou claramente que quer abrir seu palanque para o petista no Maranhão.

O mesmo movimento agora está sendo feito pelo ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves, que vai se encontrar com Lula e que também pretende abrir seu palanque no Rio de Janeiro para o petista. Neste caso, o sinal de fumaça foi mais tóxico para Ciro Gomes, porque ele viu nesta ação o dedo do presidente do partido Carlos Lupi, que é do estado.

Lupi, inclusive, teria se reunido há alguns meses atrás com um grupo de comunicadores e militantes de rede do partido para discutir um trabalho mais organizado deles. O caso aconteceu antes da contratação de João Santana. E na ocasião, como quem não quer nada, Lupi perguntou aos presentes o que eles achavam que aconteceria com a militância de redes se porventura Ciro saísse do PDT. A surpresa foi enorme. Mas sobrou a certeza de que a hipótese levantada por Lupi não seria apenas uma provocação gratuita. O que eles achavam que era uma certeza, a candidatura de Ciro pelo PDT, podia ter subido no telhado.

Com a declaração de hoje de Ciro de que ela está suspensa, a candidatura pelo PDT pode, na verdade, já estar caindo do telhado.

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