45 anos sem Jango, 45 anos na história – Por João Vicente Goulart

Jango está na história, está no presente e está no desafio de modificar as estruturas sociais, econômicas e políticas do povo brasileiro

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Ainda no exílio, em conversas despretensiosas sobre o Brasil, debaixo da sombra de um sauce chorão, chimarrão na roda, olhos voltados ao céu como se fosse o mesmo de sua terra são-borjense e divagando sobre o tempo transcorrido em terras alheias, Jango, meu pai, pensando se voltaria ou não para seu país, ia trocando certezas nas palavras pronunciadas, alagadas de saudades e lembranças.

- Sabes meu filho, que cinquenta anos na vida de um homem é uma eternidade, mas não é quase nada na vida e história de um país.

- Se eu não voltar para minha terra, daqui uns anos verás ruas e avenidas com o nome de teu pai. Mas o importante é que verás a história dar-me razão na luta que travei pela melhoria do povo e dos trabalhadores brasileiros. E podes ficar sabendo que não me arrependo de nada, de absolutamente nada do que politicamente propus à nação brasileira, através da propositura e implantação das reformas estruturais, em benefício da distribuição e geração de riquezas para o nosso povo.

Vejo hoje, 6 de dezembro, há 45 anos de sua partida de nosso convívio, que tinha a soberba razão do que profetizava embaixo daquela árvore no exílio sobre o Brasil.

A nação, hoje, sob o manto do fascismo autofágico, 45 anos depois de sua morte e quase 60 do golpe de Estado de 1964, continua a ver ceifada a dignidade da maioria de nosso povo, além de enterrar qualquer tipo de vontade de autodeterminação nacionalista.

O modelo fascista ultraliberal  prossegue a entregar tudo o que durante anos o povo conquistou como patrimônio público, criando suas empresas estatais, protegendo o direito dos trabalhadores de consumirem aquilo que produzem, a terceirização e uberização como uma escravaria das senzalas ocultas atrás da hipocrisia da política do rentismo, da agiotagem oficial dos bancos privados, da falta de segurança alimentar por falta da Reforma Agraria, da entrega do nossos minérios a empresas privadas que acumulam a irresponsabilidade social como o que vimos em Mariana e Brumadinho.

Jango, cada vez mais estudado pela academia, por vários partidos que pregam suas REFORMAS DE BASE, através do nacional-desenvolvimentismo, e por meio do retorno de medidas essenciais a nossa nacionalidade, independência, autodeterminação e soberania, está cada vez mais vivo e altivo, para que possamos seguir suas reformas.

Agrária, tributária, reestatização das empresas públicas, estabilidade e valorização dos funcionários públicos para o combate à corrupção, reforma educacional freiriana para a formação de cidadãos com consciência nacionalista, reforma bancária para um melhor controle do crédito à produção e fortalecimento do pequeno e médio empresário nacional, aumento substancial do poder aquisitivo do salário mínimo para o desenvolvimento e aumento da produção de bens de consumo e o reerguimento dos sindicatos de trabalhadores para que possam, justamente, arguir suas reivindicações quando se faça necessário diante dos desiquilíbrios da relação capital-trabalho.

Jango vive, na esperança revolucionaria de mudar o Brasil. Jango vive no exemplo das leis de proteção aos trabalhadores.

Quarenta e cinco anos depois, Jango está na história, está no presente e está no desafio de modificar as estruturas sociais, econômicas e políticas do povo brasileiro.

JANGO, PRESENTE!

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.