Um episódio que não engrandece ninguém – Por Cid Benjamin

Ninguém, absolutamente ninguém, com a exceção do já citado Celso de Mello, fica bem na fita

Foto: Presidência da República
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Caso se tenha como referência o compromisso com a democracia, os citados no recém-lançado livro "General Villas-Boas – Conversa com o comandante" não saem com uma boa imagem.

Villas-Boas, o protagonista principal do livro, porque confessa que se movimentou para o Supremo Tribunal Federal não conceder o habeas corpus solicitado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então preso.

Decididamente, este não é papel de um comandante militar no regime democrático.

Seus colegas do Alto Comando do Exército também não se saem bem. Segundo conta o próprio Villas-Boas, participaram da mesma articulação e da redação da mensagem usada para intimidar o STF.

Este tampouco é papel de chefes militares numa democracia.

O ministro Edson Fachin, do STF, que na semana passada criticou aquelas pressões, não explica porque somente agora, três anos depois, protestou contra elas e contra o emparedamento da mais alta corte do Judiciário.

Os demais ministros da Suprema Corte também ficam devendo. Por que, com a honrosa exceção de Celso de Mello, até agora mantiveram-se calados, num silêncio injustificável?

Por fim, o próprio STF deve uma satisfação ao país por ter aceitado a tutela do Exército naquele período.

Sim, não há exagero nesta afirmação.

É preciso lembrar que o presidente do Supremo, o ministro Dias Toffoli, nomeou como seu "assessor especial" um general indicado pelos militares, que avalizava cada passo dado por aquela Corte.

Que caráter tinha essa "assessoria" nunca ficou claro para a sociedade, dado que o general não tinha formação jurídica.

Tudo indica que ele era mesmo uma espécie de supervisor dos trabalhos do STF, estipulando os limites para a sua atuação e dizendo até onde o tribunal poderia ir.

Enfim, este episódio todo não engrandece a democracia.

Ninguém, absolutamente ninguém, com a exceção do já citado Celso de Mello, fica bem na fita.

Que o livro do general sirva, pelo menos, para que se possa refletir sobre o papel dos militares num regime democrático.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.