Esquerda, pare de pensar em impeachment! Retorne ao trabalho de base – Por Raphael Fagundes

É preciso criticar o sistema, apresentar o ponto de vista da classe trabalhadora, somente assim será possível criar conscientização... Esqueçam Bolsonaro. Não esperem por um impeachment. É preciso pensar na construção do socialismo

Foto: Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
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A esquerda hoje parece ser levada por uma ilusão que conduziu o discurso de muitos ex-guerrilheiros pelegos. Alguns deles, que passaram a ser políticos nas mais diversas esferas, dizem que lutaram na ditadura civil-militar para recompor a democracia no país. Isto não é verdade. Eles tinham a missão de implantar o socialismo, como mostram os estudos do professor Marcelo Ridenti.

Herdeiros destes falastrões pós ditadura civil-militar, a esquerda de hoje está mais interessada em derrubar Bolsonaro que implantar o socialismo. Diz estar em defesa da democracia. Rara são as vezes que falam sobre socialismo. Isso a leva a ter fé em uma esperança falsa: o impeachment.

A vitória de Arthur Lira pode ser importante e benéfica. Pelo menos a esquerda pode se libertar dessa ideia, de querer resolver o problema a partir do Legislativo.

Mas a falsa esperança ainda vai ser testada pelo Judiciário. O discurso do presidente Fux, criticando o negacionismo ao lado do presidente Jair Bolsonaro, pode ter excitado muita gente, mas sem dúvida é mera fachada.

Por que se trata de uma falsa esperança? Porque ela é mais passiva que ativa. Porque ela depende de poderes constituídos, do establishment, do Congresso ou do STF.

Precisamos recuperar uma esperança autêntica. Mais ativa. Na qual a derrubada do governo não deverá ser feita por cima, mas a partir de baixo, a partir da conscientização e mobilização popular.

É preciso trabalho de base entre os trabalhadores. Pregar a consciência de classe na porta das fábricas, periferias e eventos sociais, principalmente, nos que há uma imensa composição de jovens.

Não adianta esperar por um impeachment, não vale a pena desejá-lo. É preciso alcançar os corações da classe trabalhadora.

Vejo uma esquerda ansiosa para saber o resultado da votação sobre quem será o novo presidente do Senado, ou da Câmara dos Deputados. Acompanham a tensão forjada pelos veículos de comunicação tradicionais, aliciados por estes.

Não é daí que virá a mudança.

Outra coisa é ficar criticando Bolsonaro. Às vezes, tenho a sensação de que a Globo se tornou de esquerda, ou a esquerda se tornou “global”. O foco no desgaste da imagem de Bolsonaro só alimenta e fortalece o sistema que ele defende: o ultraneoliberalismo (embora este vocábulo seja uma ideia em si pessimista).

Inclusive, a maior crítica feita pela Globo em relação à vitória de Rodrigo Pacheco foi o fato de o senador já ter se posicionado contra a privatização da Eletrobrás. Ou seja, ela quer é a venda mais rápida possível das empresas nacionais. Se Bolsonaro conseguir vendê-las, todos farão as pazes.

É preciso criticar o sistema, apresentar o ponto de vista da classe trabalhadora, somente assim será possível criar conscientização... Esqueçam Bolsonaro. Não esperem por um impeachment. É preciso pensar na construção do socialismo.

É como disse o historiador Jean Delumeau, sobre o pessimismo: “Nosso pessimismo atual é um sinal de imaturidade? Eu diria com mais sobriedade que ele revela nossa falta de paciência”. Acho que a esquerda precisa dessa falta de paciência e adotar métodos mais eficientes, principalmente em atingir a classe trabalhadora. Nossa falta de paciência não deve se tornar pessimismo, mas uma mudança de direção em relação ao que devemos esperar do futuro. O problema não é Bolsonaro, mas o capitalismo!