Promovendo alegria e amor, Rádio Cafuné se destaca frente à pandemia

Nova onda de rádios livres tem tecnologia como aliada, frente à burocracia estatal e limites financeiros.

Foto: Community Radio - Prosound South Africa
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A história do rádio no Brasil chega ao seu primeiro centenário. Enquanto alguns acreditavam que com as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) seu futuro era incerto, vimos justamente o contrário: o fortalecimento do rádio e a conjunção de tecnologias.

É o que confirmam as pesquisas sobre o tema (Kantar Ibope Media, 2020) e também o que vemos na prática durante a pandemia. Segundo o estudo citado acima, confrontando o isolamento social, os brasileiros passaram a ouvir muito mais rádio – grande parte via internet. Esse fato é percebido com a explosão de emissoras de rádio pela rede, ao exemplo da Rádio Cafuné.

Mas, o que é a Rádio Cafuné? Como surgiu? Qual é a sua proposta? Como se organiza?

Com quase cinco mil horas ininterruptas no ar desde setembro de 2020, criada despretensiosamente por Thiago Freitas (DJ Ternura), a rádio vem funcionando pelo aplicativo Zoom e uma agenda do Google vinculados ao site (www.radiocafune.com.br), que alimentam sua programação audiovisual, tratando dos mais variados temas, tão variados como uma revista de variedades.

Falando um pouco da experiência, o idealizador do projeto, DJ Ternura, ressalta: “A Cafuné tem em seu DNA o acolhimento e o carinho. Ela surgiu para que as pessoas pudessem tocar suas alegrias e tristezas do dia a dia na pandemia.”. Na mesma linha, outro organizador da rádio, o produtor cultural Marcelo Barki, declara: “Além de ser muito gratificante a construção de uma rádio livre, a Cafuné é esse espaço de disseminação de conhecimento e incentivo de projetos...”.

A dimensão comunitária e transformadora dessas rádios se destaca por diversas razões. No caso da Cafuné, que tem integrantes em todo o país, preconceitos de todos os tipos são combatidos e as mulheres são protagonistas. É o que afirma a psicóloga e DJ Denguin (Elaine Nadler): “A Cafuné tem sido um espaço de troca e criação de vínculos importantes, além de promover a reflexão sobre a disseminação de preconceitos e a igualdade de direitos”.

Fala que se congrega com suas companheiras de “rádia”: “Minha luta como organizadora é ser um espaço pra pretes e para mulheres. Fui organizadora do primeiro debate na Cafuné sobre o racismo, a primeira a sugerir a ocupação cafunelas e uma das organizadoras da ocupação do Dia da Consciência Negra, explica Karina Carvalho, a Dj La Reina. “Eu sou uma pessoa sociável, gosto de estar com outras pessoas. Nesse contexto de pandemia, a Rádio Cafuné é um oásis pra mim. É o ambiente que funciona como um coworking, no qual eu faço amigos, tenho contato com arte e cultura do Brasil e de vários lugares do mundo. Eu aprendo muito na Rádio e me sinto muito acolhida, diz Fernanda Lima, a Dj Fler

Segundo dados oficiais, temos cerca de 3.500 rádios livres com concessão no país – e mais de 30 mil, segundo projeções, atuando de forma ilegal. “A rádio digital e outras novas mídias populares e livres na internet tendem a tornar inócuos estes dilemas e limites” diz o professor da UERJ Mauro Sá Rego Costa, em seu estudo Rádios Livres e Rádios Comunitárias no Brasil (Revista Periferia, 2010).

A luta pela democratização dos meios de comunicação no Brasil tem uma história longa e encontra nas NTICs um reforço importante para vencer as dificuldades financeiras e burocrático-legais. O streaming já é uma realidade no Brasil e no mundo – e continua a crescer, seja pela facilidade de operação e/ou pelo acesso que pode ser feito por qualquer telefone celular.
 

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.