Certificações ambientais como caminho para a sustentabilidade – Por Ana Beatriz Prudente Alckmin

Em uma época em que os recursos naturais são escassos, as iniciativas sustentáveis deixam de ser opções para se tornarem obrigações

Imagem: Dutcham (Reprodução)
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Olhando para o mundo em que vivemos hoje, é necessário sempre ter em mente que precisamos viver em consonância com o meio ambiente. Quando compramos algo, quase sempre esquecemos do impacto que o produto causa para a saúde do nosso planeta. Com isso, não estou falando apenas do descarte (ou do lixo, por assim dizer), mas de toda a cadeia de produção deste produto e da passagem dele por nossas mãos, até o fim do seu ciclo de vida. Quais recursos naturais foram consumidos? Como foi a extração da matéria-prima? Será que essa empresa está fazendo um uso consciente das potencialidades do nosso planeta? Exatamente por conta destas perguntas, que as Certificações Ambientais se fazem tão necessárias. Além de chancelar empresas que realmente se preocupam em ter atitudes sustentáveis, as associações por trás destas certificações desenvolvem vários trabalhos de conscientização da sociedade e de preservação do meio ambiente, agradando também a todos os consumidores modernos que possuem a verdadeira percepção dos valores ecológicos para os dias atuais.

Em uma época de crise ambiental, onde os recursos são cerceados e depredados pelo avanço de meios produtivos predatórios, as certificações levantam um importante alerta. Será que para avançarmos, termos lucro e desenvolvermos novas tecnologias, precisamos destruir a natureza? Estou certa que não. Quando uma empresa é chancelada por alguma dessas certificações (como a AQUA, PROCEL, LEED, entre outras), existe um benefício mútuo: a companhia ganha em competitividade, velocidade de ocupação e custos; enquanto o meio ambiente adquire um potente aliado no retardamento da degradação dos recursos naturais. O FSC por exemplo, selo verde responsável por garantir que a madeira utilizada em produtos seja proveniente de um processo produtivo ecologicamente adequado, possibilita o uso racional dos recursos florestais sem comprometer o desenvolvimento da empresa, permitindo que elas continuem atuando de maneira extensiva.

O Brasil, por sua vez, também possui iniciativas que tangem à preservação do meio ambiente. A nova Política Nacional de Biocombustíveis, RenovaBio, busca promover a importância de todos os biocombustíveis, como o etanol, o biometano e o biodiesel, na matriz energética brasileira, atuando em três principais eixos estratégicos. O primeiro eixo diz respeito às Metas de Descarbonização, onde o governo estipula parâmetros para os próximos 10 anos, sendo essas metas desdobradas em objetivos individuais para empresas do setor de combustíveis de acordo com sua participação no mercado. Já o segundo eixo diz respeito à certificação de produtores de combustíveis ambientalmente responsáveis, atribuindo notas positivas ou negativas que dependem da quantidade de carbono produzido. O terceiro e último eixo se dá ao multiplicarmos as notas do segundo eixo com o volume de biocombustível comercializado, criando assim os Créditos de Descarbonização (CBIOs) que um determinado produtor poderá emitir e vender no comércio.

Essas iniciativas se tornam muito importantes, principalmente quando observamos que, segundo o SEEG – Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa –, os setores de energia e processos industriais foram responsáveis, apenas em 2019, pela produção de 2,2 bilhões de toneladas de gases nocivos para a atmosfera. Para retardar o deterioramento dos nossos recursos naturais, é extremamente necessário que coloquemos em discussão esses dados, principalmente se levarmos em consideração o tamanho do Brasil e de todas as suas potencialidades de gerar energias mais verdes e renováveis.

Quando olhamos para o atual estado do planeta, as estatísticas se mostram preocupantes. A Data de Sobrecarga da Terra de 2021 – uma data anual estabelecida pela Global Footprint Network e pela Agência Escocesa de Proteção do Ambiente (SEPA) –, que representa o dia em que a demanda da humanidade por recursos da natureza excede o que a Terra pode regenerar naquele ano, ocorreu no dia 4 de junho. Desde então, estamos consumindo mais do que o planeta pode aguentar até o fim do ano. Ter pessoas engajadas na mudança dos paradigmas atuais do nosso consumo é uma questão de urgência, sendo que as empresas também desempenham um papel importantíssimo nesse contexto. Mas os deveres não são só delas: precisamos nos conscientizar como indivíduos e cobrar atitudes mais ambientalmente responsáveis das companhias que consumimos e apoiamos. No fim das contas, criar um futuro mais brilhante não depende de atitudes gigantescas, mas da junção dos pequenos atos de sustentabilidade que podemos adotar pensando na saúde do nosso único e legítimo lar.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.