Os Beatles deveriam mesmo ser mais populares do que Jesus Cristo

A frase de John Lennon causou inúmeros problemas a ele e sua banda, mas era correta e calculada. Inúmeros artistas desde então têm muito mais views do que o Messias

Foto: Divulgação
Escrito en OPINIÃO el

John Lennon provavelmente tinha razão. O músico declarou, em 1966, que o seu grupo, os Beatles, eram mais populares do que Jesus Cristo. Se a gente der um google nos dias atuais, quase 50 anos após o fim da banda, Cristo – que continua firme nas paradas – ganha por pouca margem, com 216 milhões de resultados, contra 144 milhões da banda inglesa.

Imagine qual resultado seria na época, auge da popularidade dos rapazes de Liverpool?

Lennon quase foi crucificado após a frase. Ninguém ligou muito quando ela foi publicada pelo jornal londrino The Evening Standard. A ira dos céus, no entanto, decaiu sobre ele e a banda quando a polêmica declaração foi republicada nos Estados Unidos. Algumas estações de rádio pararam de tocar suas músicas, álbuns foram queimados em praça pública, coletivas de imprensa canceladas e a Ku Klux Klan fez ameaças ao grupo.

O beatle mais polêmico teve que se desculpar, mas mesmo assim as coisas nunca mais foram as mesmas. Muito provavelmente não por esta razão, mas as turnês acabaram logo a seguir e a banda anos depois. Lennon acabou sendo assassinado em 1980, por Mark David Chapman, um cristão renascido que diz ter sido motivado em parte pelas opiniões do cantor sobre religião e, sobretudo, a malfadada frase: "mais populares que Jesus".

Os Cristãos, no entanto, deveriam mesmo era se preocupar com Michael Jackson, por exemplo. O cantor americano deixa tanto os Beatles quanto o próprio Cristo no chinelo em termos de popularidade, com mais de um bilhão de resultados no Google.

Lady Gaga, por sua vez, quase alcança Cristo, com 178 milhões de resultados, enquanto o rapper Jay-Z ultrapassa em muito o líder católico, com 605 milhões. Não podemos nos esquecer que todos esses números partem de uma visão ocidental reduzida. Muito mais da metade da humanidade está do outro lado do planeta.

O fato é que nunca, jamais, em tempo algum, nenhum deles jamais alcançará a importância histórica e, sobretudo, espiritual, que Jesus Cristo sempre teve e, provavelmente, terá para bilhões de seres humanos na história da humanidade.

A frase de Lennon, descontextualizada e mal interpretada, tinha muito mais a ver com a importância desmedida que se passou a dar à cultura pop a partir do final da década de 50, começo de 60, do que propriamente fustigar a imagem de Cristo e do catolicismo. Mexeu inadvertidamente no vespeiro e nunca mais conseguiu se explicar satisfatoriamente.

O que ocorreu a partir da frase, naqueles idos de 1966, foi um prenúncio da cultura de cancelamento que só viria a surgir décadas depois, com a internet e suas redes sociais. Lennon não escaparia da sanha das redes, mas, por outro lado, também teria milhões correndo em sua defesa.

Mas, como dito acima, ele deveria ter razão mesmo no que dizia. Havia muito mais gente falando e ouvindo Beatles na ocasião do que os ensinamentos de Cristo. Criticado por um lado, o músico conseguiu com sua frase nos mostrar outro: a cultura do ódio e o fanatismo impregnado que, repetidas vezes ao longo da história, se manifesta e se repete.

Exatamente como temos visto e vivido nos nossos dias.