Brasil impresso: Trump vira garoto-propaganda na jornada rumo ao passado

Ex-presidente dos EUA, que saiu do cargo justamente tentando um golpe via fraude eleitoral, é usado como referência por bolsonaristas que querem mudança no sistema de votação aqui no país – Por Henrique Rodrigues

Foto: Redes sociais
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Há de tudo no Brasil dos bolsonaristas. Na jornada rumo ao passado, que tem como bola da vez a implantação de um processo eleitoral impresso, que nos últimos dias ganhou até mais uma proposta inacreditável, a contagem manual de votos, até a utilização da imagem do ex-presidente dos EUA Donald Trump é válida.

Uma igreja evangélica do município mineiro de Governador Valadares, na região do Vale do Rio Doce, tem usado banners, cartazes e placas com a foto ex-mandatário estadunidense extremista, com olhar fulminante, de punho cerrado, para fazer campanha pelo voto impresso, que seria mais seguro e auditável (o que já é). Curiosamente, Trump tentou dar um golpe de Estado em seu país por meio justamente de um questionamento fraudulento do resultado eleitoral, do qual saiu derrotado por Joe Biden.

A confusão, montada sobre argumentos sem qualquer vestígio de realidade e comprada por seus adeptos ultrarradicalizados, resultou numa vexatória invasão do Capitólio, em Washington, terminando com tiros, violência e quatro mortos.

“Trump ganhou, e o mundo todo sabe disso! Não deixem acontecer no Brasil o que aconteceu nos USA. Voto auditável já! Direita Cristã”, diz o outdoor colocado na fachada de um imóvel de uma avenida da cidade de Minas Gerais que, há décadas, figura como uma das que mais envia cidadãos para morar clandestinamente nos Estados Unidos.

Em novembro do ano passado, durante o período eleitoral no país norte-americano, moradores da cidade, e a mesma igreja evangélica, que já tinham usado cartazes e placas “apoiando” o ex-presidente, à época candidato à reeleição. Logo o homem que impôs a mais implacável das políticas anti-imigração das últimas décadas, com discursos abertamente xenofóbicos, especialmente contra latinos.

Pelo jeito, na luta pelo delírio do voto impresso, vale apelar até para os paradoxos e antíteses da lógica democrática, desde que o discurso e o currículo estejam alinhados a essa miragem de mundo ideal enxergada pelos fãs do extremismo tropical.