EVANGÉLICOS

MEC Gospel Feliz: Uma caixinha sem nenhuma surpresa! – Por pastor Zé Barbosa Jr

É urgente e necessário que, por incrível que pareça, um legado que passa pelas Reformas Protestantes seja resgatado, defendido e valorizado em nosso país: o Estado Laico. Precisamos desesperadamente que a laicidade

Milton Ribeiro, ministro da Educação (Agência Brasil).
Escrito en OPINIÃO el

Imagina um fast-food da educação, onde você chega com o seu pastor e sai de lá com uma verba, uma “ajuda de custo”, ou até mesmo um combo completo: verba + apoio político + garantia de uma educação castradora conforme “a moral e os bons costumes. Imaginou? Pois isso acontece aos montes depois que o Ministério da Educação (MEC) virou um puleiro de pastores (a começar do seu Ministro) que querem fazer da educação brasileira uma grande “escola bíblica”, com os ingredientes que os pastores determinarem. Um verdadeiro sanduíche de fundamentalismo e bizarrices. O molho especial? Tudo “em nome de jesus” (com minúsculas propositais aqui).

É o MEC Gospel Feliz. Pra pensar sempre dentro da caixinha e com as bençãos divinas da Igreja Presbiteriana do Brasil, da Convenção Batista Brasileira e de Malafaias, Valadões, Macedos e toda corja de vendilhões do templo que a gente conhece por aí, que fazem do governo federal sua sucursal de ensino confessional e contra os fantasmas invisíveis do “comunismo”, da “ideologia de gênero”, e tantos outros inimigos que sejam inventados para fazer valer suas projeções doentias de poder e domínio.

Não há surpresa alguma na caixinha desse fast-food educacional que se transformou o MEC. É o velho projeto de poder neopentecostal, aliado ao pior do protestantismo histórico fundamentalista em sua ganância governamental. Pensam que impondo os “princípios bíblicos” (que nem são princípios, nem bíblicos – só pura doutrinação confessional) de cima para baixo terão um país abençoado e próspero. Sim! Neste aspecto o fundamentalismo e o neopentecostalismo são irmãos siameses ligados pelo bolso e pela mão direita, ansiosas pelo “cetro do Rei”.

O que agora vem à tona a nível federal sempre aconteceu dentro das possibilidades e proporções das políticas municipais e estaduais. Troca de favores entre prefeitos, vereadores e pastores é lugar comum nas cidades do interior. Qual igreja nunca quis eleger um vereador só para ter ônibus grátis em suas excursões, acesso a espaços públicos para seus eventos (que já lhe seriam garantidos sem a “ajuda” legislativa) e aqueles “favores de ocasião”? Vi isso a vida inteira em Teresópolis, minha cidade natal, e em tantas outras cidades onde vivi. A política de Belo Horizonte, por exemplo, é uma extensão das Igrejas da Lagoinha e Getsemani, com a Oitava presbiteriana de olho na sobra.

É urgente e necessário que, por incrível que pareça, um legado que passa pelas Reformas Protestantes, seja resgatado, defendido e valorizado em nosso país: o Estado Laico. Precisamos desesperadamente que a laicidade não seja apenas uma das cláusulas não cumpridas de nossa Constituição. O processo e o projeto de “talibanização” do Estado brasileiro correm a passos velozes nas mãos de pastores vendidos e vendilhões, como é o caso do Ministro da Educação: o pastor presbiteriano Milton Ribeiro. Suas falas e ações são inadmissíveis e incompatíveis com o cargo que ocupa. Aliás, como são inadmissíveis e incompatíveis todas as falas, ações e cargos do atual (des)governo do Brasil.

Caso o projeto de transformar o MEC num fast-food educacional permaneça, sofreremos pela má qualidade do ensino, a luta incessante pela desqualificação da figura do professor como ser pensante e promovedor do livre pensar, e a “gospelização” dos princípios educacionais, transformando nossas escolas em extensões des-graçadas de igrejas que nada têm a oferecer ao país senão projetos pessoais de poder, dominação e alienação. Esse combo do “MEC Gospel Feliz” não alimentará nossas crianças, alienará os adolescentes e transformará adultos em peças “técnicas” de um país sem memória, sem cérebro e sem alma.

Só quem “ama muito tudo isso” são os donos da religião, os empresários da fé, os vendilhões do templo. E, usando uma frase do amigo Ronilso Pacheco: chega de tentar “dialogar com quem Jesus perdeu a paciência e expulsou do templo à base do chicote.”

Chega de MEC-zice gospel! Que a verdade nos liberte!

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.