EVANGÉLICOS

Uma herança maldita dos Batistas para o Brasil – Por pastor Zé Barbosa Jr

Não tenho dúvidas em afirmar que o que ficou conhecido como “República de Curitiba” foi forjada, sonhada e elaborada nos corredores das igrejas batistas da capital paranaense

Ex-procurador Deltan Dallagnol (Redes sociais).
Escrito en OPINIÃO el

Minha coluna de hoje é um desabafo! Em 2017, num culto na Capela do Seminário Batista do Sul do Brasil, faculdade de Teologia onde estudei de 2006 a 2008 (e que apesar do nome fica na Tijuca, no Rio de Janeiro), o então presidente da Convenção Batista Brasileira, Luiz Roberto Silvado disse que eu era “uma herança maldita dos batistas para o Brasil”. Sua fala teve um único motivo: em junho do mesmo ano eu havia falado, na abertura da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de São Paulo que “Deus abençoa toda forma de amor.” A única motivação de Silvado tinha nome: HOMOFOBIA! Disfarçada de “pureza teológica e bíblica”, mas homofobia!

Por que trago esse desabafo hoje? Porque o pastor que me chamou de “herança maldita dos batistas para o Brasil” é o pastor de ninguém menos que o “digníssimo” Deltan Dallagnol, político-jurista conhecido pela “genialidade” de criar um “power point” pelo qual agora terá que indenizar o presidente Lula. Sua apresentação era uma farsa, como foi farsa toda a perseguição a Luiz Inácio, simplesmente pelo fato de que seria eleito e os poderosos, aliados aos fanáticos religiosos como Dallagnol não suportariam mais um governo onde o pobre tivesse direitos reconhecidos e possibilidades de uma vida digna. Isso é inadmissível para um batista de Curitiba.

Não tenho dúvidas em afirmar que o que ficou conhecido como “República de Curitiba” foi forjada, sonhada e elaborada nos corredores das igrejas batistas da capital paranaense, principalmente a Primeira Igreja Batista (PIB) de Curitiba e a Igreja Batista do Bacacheri (Igreja da qual Dallagnol é membro). O projeto ganhou corpo nas eleições de 2010. A partir dali nada mais seria novidade na sanha por criminalizar o PT e prender o seu maior líder, o melhor presidente que este país já teve.

Nas eleições de 2010 um vídeo criminoso, repleto de acusações infundadas e mentirosas (as fake news não são novidades da campanha de 2018-2022), foi veiculado em muitas igrejas brasileiras. Era um vídeo de 11 minutos do pastor Paschoal Piragine Junior, pastor da PIB de Curitiba, onde falava da “institucionalização da iniquidade”. No vídeo, acusa o PT de ter um projeto de mordaça para as igrejas e favorável à pedofilia e toda sorte de “iniquidades”. O vídeo viralizou entre as igrejas evangélicas e, como prêmio, Piragine foi eleito presidente da Convenção Batista Brasileira em janeiro de 2011. Isso mesmo: a mentira de Piragine foi PREMIADA pela CBB.

Assim começava o império da “República de Curitiba” sobre os batistas brasileiros. Piragine presidiu a CBB nos anos de 2011 e 2012 e foi sucedido por... Luiz Roberto Silvado, que foi presidente no biênio 2013/2014 e voltou em 2017/2018. Desde então a Convenção Batista Brasileira (que diga-se, nunca foi muito afeita à democracia – com raras e honrosas exceções como David Malta e Djalma Torres) tornou-se um “puxadinho” do golpe, calando vergonhosamente quando se trata de pautas sociais relevantes em nome de uma “isenção política”, mas vociferando quando as pautas “morais” são acionadas.

Não é à toa que o Instituto MUDE, usado por Dallagnol para captar recursos de empresários e espalhar pelo Brasil (principalmente igrejas) as “10 medidas contra a corrupção”, teve como endereço da sede o mesmo endereço da Igreja Batista do Bacacheri. Isso mesmo: o instituto responsável por alavancar recursos para a Lava-Jato funcionava na Igreja de Dallagnol, do pastor que me chamou de “herança maldita dos batistas para o Brasil”. O envolvimento dessas igrejas batistas de Curitiba com a Lava-Jato não foi um “acidente”, foi um projeto. No caso, não foi “a ocasião que fez o ladrão”, mas os ladrões criaram a ocasião.

Mas taí... hoje, 5 anos depois, quando todos são desmascarados e pensando aqui que Dallagnol, Moro, Instituto Mude e tantos outros males da democracia brasileira devem ser consideradas “heranças benditas” pelo pastor Silvado, até que me orgulho da minha “maldição”.

Deve ser horrível ser um "bendito" pra essa gente!

Deus me livre! Amém!

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.