EM NOME DE DEUS E DO MESSIAS

Fogo evangélico? Esquema Milton Ribeiro no MEC expõe racha de base bolsonarista

Forasteiro, Ribeiro é alvo de "fogo-amigo" de setores da bancada evangélica, que teve racha aprofundado pelo empenho de Jair Bolsonaro em colocar parlamentares da frente sob as asas do PL.

Jair Bolsonaro e o ministro da Educação, Milton Ribeiro.Créditos: Reprodução/Twitter Milton Ribeiro
Escrito en OPINIÃO el

Qualquer jornalista com o mínimo de experiência política sabe que denúncias como a que envolve o pastor Milton Ribeiro, ministro da Educação, com áudio envolvendo o presidente, Jair Bolsonaro (PL), não chegam às páginas principais dos jornais com um propósito claro.

Por outro lado, qualquer político com o mínimo de experiência sabe que a melhor forma de detonar a reputação de adversários é vazando denúncias por meio de jornalistas.

Das denúncias desse tipo, mais de 90% delas chegam até às redações por meio de "fogo-amigo" - e não pelo jornalismo investigativo. Uma quebra de confiança entre aqueles que participam do esquema.

Forasteiro da bancada evangélica, Ribeiro foi alçado ao posto de "terrivelmente evangélico" no MEC por Bolsonaro para atender uma demanda da Associação dos Juristas Evangélicos (Anajure), que aspirava ainda a vaga prometida pelo presidente no Supremo Tribunal Federal (STF) - preenchida depois por André Mendonça.

Ribeiro permaneceu no cargo - após a queda dos três ministros anteriores - por uma questão ditatória do governo: sua submissão a Bolsonaro.

No áudio, que revela a relação promíscua e criminosa com os pastores, Ribeiro diz claramente que seguiu ordem de Bolsonaro para implantar o esquema com os pastores na Educação. E é Bolsonaro quem deve responder pela ordem dada ao ministro.

Fogo da bancada evangélica

Nos bastidores, uma coisa é certa: Ribeiro é alvo do chamado fogo-amigo que partiu da própria bancada evangélica, que está rachada desde a troca de comando da frente parlamentar, que privilegiou Sóstenes Cavalcante (União-RJ), ligado a Silas Malafaia e ao braço carioca do evangelismo, à recondução de Cezinha de Madureira (PSC-SP), que é ligado Assembleia de Deus no Brás – Ministério de Madureira e mantém boas relações com os paulistas do Republicanos, de Edir Macedo.

Após Malafaia vencer a queda de braço na Câmara, a filiação de Bolsonaro ao PL, de Waldemar da Costa Neto, aprofundou o racha entre os evangélicos.

Macedo e seu braço político acusam o PL, de Bolsonaro, de assediar políticos do Republicanos, que cobra mais espaço no governo para se manter fiel ao presidente durante as eleições - usando artilharia pesada nos templos contra Lula.

Depois de se tornar o maior partido na Câmara, com 62 deputados, o partido de Costa Neto, preso por corrupção no caso do Mensalão, avança sobre o Senado.

Com sete senadores - incluindo Flávio Bolsonaro, após o troca-troca em busca de um lugar para o pai -, o PL quer chegar a uma bancada de 10, muito acima dos Republicanos, que tem apenas um representante no Senado.

Bolsonaro, no fundo, quer esvaziar o poder de fogo dos Republicanos para concentrar seu comando no PL, mas não pode melindrar antes das eleições a relação com a sigla, que tem bombas ainda mais potentes contra o presidente do que a que explodiu no MEC - alvo de assédio dos evangélicos por causa da chamada pauta dos costumes e por ter o segundo maior orçamento da União.

A explosão fez com que o presidente adiasse o lançamento de sua pré-candidatura à reeleição marcada para o domingo (27). Como provocação à trupe de Edir Macedo, o PL transformou o ato no lançamento do movimento "Filia Brasil, é com ele que eu vou".

É mais uma batalha da guerra travada pelo comando do eleitorado evangélico ultraconservador no país em que foram transformados em massa de manobra de um governo que tem seus interesses acima de tudo e de todos.