BOLSOLÃO DO MEC

A “pastorização” do MEC – Por Chico Alencar

Esses pastores, que servem ao deus dinheiro, "pastam" à vontade na pasta da Educação. Quem toca o berrante para eles se reunirem são o presidente da República e seu ministro da (des)Educação

Pastor-ministro Milton Ribeiro (Redes sociais).Créditos: Alan Santos/PR
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A política educacional no Brasil chegou ao fundo do poço. O atual titular do Ministério de Educação e Cultura (MEC), Milton Ribeiro, escancarou: "Atendo os pleitos do pastor Gilmar Santos e dos seus amigos; isso é um pedido especial do presidente Jair Bolsonaro". A denúncia foi feita em uma reportagem da “Folha de S.Paulo” e as palavras do ministro foram devidamente gravadas pelo jornalista.

Vale lembrar que o atual ministro é o quarto em três anos e três meses de governo Bolsonaro. Mas um deles foi só nomeado, não chegando a tomar posse. Descobriu-se que tinha falsificado informações no currículo apresentado...

Esse pastor Gilmar, citado pelo ministro, teria recebido delegação do presidente da República para, juntamente com outro, Arilton Moura, "liberar" recursos do MEC para municípios. Registre-se que nem um nem outro ocupa qualquer cargo público. Não é ação de caridade: havia o "retorno" de um percentual para o "patrono", para a sua "igreja".

Quem disse isso foram prefeitos que buscavam recursos do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), controlado pelo Centrão.

O prefeito de Luiz Domingos, no Maranhão, fez outra denúncia: o pastor Arilton pediu uma comissão de 15% para tratar das demandas da prefeitura junto ao MEC, além de "um quilo em ouro" (existe mineração na sua região).

Definitivamente, as coisas não cheiram bem.

Esses pastores, que servem ao deus dinheiro, "pastam" à vontade na pasta da Educação. Quem toca o berrante para eles se reunirem são o presidente da República e seu ministro da (des)Educação, outro que coloca seus esquemas negociais religiosos acima do interesse público.

Está tudo escancarado. A catraca é livre no MEC para esses mercadores da educação e da fé!

Aliás, o "piedoso" Milton Ribeiro não poupou mentiras em uma nota distribuída depois que tudo veio à tona: afirmou, ao contrário do que estava gravado, que Bolsonaro nunca tinha pedido "atenção especial" para ninguém (!?), que respeita o caráter laico do Estado (!?) e que "não há hipótese" de destinação de verbas públicas para igrejas de qualquer denominação (!?).

O presidente, por sua vez, mesmo o escândalo tendo sido amplamente divulgado, afirmou que não pretende demitir o ministro e que não viu “nada demais” nos diálogos.

Para os crentes, mentira é pecado, senhor ministro. E tráfico de influência, desvio de finalidade e corrupção, numa República digna desse nome, dá em investigação, processo, destituição do cargo e cassação de mandato. Mais: caso haja provas dos crimes, condenação judicial e cadeia para os culpados.

Isso vale não só para o ministro, mas também para o seu chefe, igualmente acusado, aquele que o nomeou.

Para onde quer que se olhe, o governo Bolsonaro parece dar a impressão de estar pondo em prática um projeto de destruição do País e de suas instituições. Mas o que ainda há de resistência republicana no Brasil precisa reagir. É um imperativo cobrar, exigir apuração.

E quem usa o nome de Deus em vão para fazer negociatas trai tudo o que prega. São vendilhões do templo, "missionários" da hipocrisia.

No caso do MEC, diante dessa farra com o dinheiro público, é preciso denunciar o embuste do uso do nome de Deus em vão e essa espúria intermediação, onde "Jesus é o caminho", mas pastores atravessadores são o pedágio.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.