MACHISMO

O estupro e misoginia sempre foram armas de guerra – Por Monica Benicio

O que o deputado do MBL fez na Ucrânia envergonha todo o nosso país. Precisa ser cassado e expulso da política

Arthur do Val, o Mamãe Falei, na Ucrânia.Créditos: Reprodução/Instagram
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O estupro, o assédio e a misoginia sempre foram uma arma de guerra. Desde os primórdios, na Grécia e em Roma, o estupro de mulheres chegou a ser considerado uma premiação de guerra. Era o que se dava aos vencedores: os corpos das mulheres.

Antes de serem prêmios, o sexo das mulheres era usado como ferramenta de terror, humilhação e desmoralização de povos e nações inteiras na guerra. Quando os romanos invadiam a Palestina e estupravam as mulheres judias e as engravidavam, queriam, assim, botar em risco a continuação de um povo inteiro.

O estupro de mulheres em várias sociedades religiosas, como a nossa, foi durante muito tempo visto como um crime de desonra para os homens! Porque a virgindade e a pureza de meninas não deveriam ser asseguradas pelas suas vontades, direito à infância e maturidade, mas, sim, pelos homens que determinariam a quem seus corpos seriam entregues e em que momento. Estuprar uma mulher era, portanto, desonrar o homem que a tinha como posse. Marido ou pai.   

Estupros de mulheres são relatados como táticas de guerra na Bósnia, no Vietnã, durante a Segunda Guerra Mundial. Em um passado ainda bastante recente.

Como o conhecido “Estupro de Nanking”, quando as tropas do Império Japonês invadem a cidade de Nanquim, na China, e estupram e matam dezenas de milhares de pessoas. Ou como a recente guerra civil do Congo, onde homens, mulheres e até bebês têm sido estuprados em massa.

No mundo todo, o estupro, o assédio e a misoginia são instrumentos de guerra. Assim como foi o Brasil, colonizado e fundado como nação miscigenada sob o estupro de milhares de mulheres negras e indígenas.

Eu queria poder dizer que a atitude asquerosa e criminosa do deputado estadual de SP, Arthur do Val, é um caso isolado e um resquício misógino da nossa cultura. Mas, infelizmente, atrás dele há mais de 500 mil votos e na mesma turma política em que ele se forjou há um presidente fascista, antidemocrático e em exercício, que ficou famoso por dizer que não estupraria uma colega parlamentar porque ela não merecia.

Essa é a verdadeira violência política a que estamos submetidas. Aquela que, através do dinheiro público, leva homens a assediarem sexualmente mulheres refugiadas no meio de uma guerra. Onde elas lutam pelo direito primordial à vida e são ainda objetificadas, vistas como prêmio de guerra, como moeda de barganha, onde um homem como esse poderia até lhe oferecer um pão diante da fome por um boquete. Sim, é esse nível de vulgaridade que temos que lidar todos os dias.

O que o deputado do MBL fez na Ucrânia envergonha todo o nosso país. Precisa ser cassado e expulso da política! Política feminista é coisa muito séria. Mesmo sob tanta agressão há uma tarefa imensa pela frente, em botarmos pra fora essa corja de bolsonaristas misóginos que hoje comanda e se farta da política brasileira.

Não daremos mais trégua alguma numa guerra contra nós. Na guerra ou fora dela seguimos em luta para que nossos corpos não sejam vistos como territórios a serem dominados.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum.