TERRIVELMENTE

Mendonça pagará por “traição” a bolsonaristas, mas atitude fez algum bem ao Brasil

Ainda que siga como um conservador doentio, a decisão do ministro de condenar Silveira alivia um pouco a noção de absurdo que reinava na corte. Até Toffoli, que faz chamegos em militares, parabenizou o colega – Por Henrique Rodrigues

André Mendonça, ministro do STF.Créditos: Supremo Tribunal Federal/Reprodução
Escrito en OPINIÃO el

O ministro André Mendonça, do STF, decretou sua própria implosão no universo paralelo bolsonarista após decidir pela condenação do deputado federal Daniel Silveira (PTB), um brucutu descontrolado e violento que ameaçou os magistrados da mais alta corte do Judiciário brasileiro. O mais novo integrante do Supremo foi indicado por Jair Bolsonaro e passou então a figurar como um personagem nada isento dentro do tribunal, já que sua subserviência e seu ultraconservadorismo doentios geraram uma percepção de absurdo na sociedade e no mundo jurídico. O ato desta noite diminui um pouco essa noção e fez algum bem ao Brasil.

Ainda é muito cedo para dizer se a decisão de não ceder às pressões de extremistas destrambelhados raivosos é um ponto de virada na sua postura de cachorrinho de Bolsonaro (assumido) dentro Supremo Tribunal Federal. No entanto, é muito óbvio que Mendonça, a partir de agora, pagará um preço alto por não atender às expectativas da matilha de cariz assassino que sustenta as estrepolias e escatologias do presidente mais obtuso e bizarro da História. Em poucas horas, até os mais estrelados bolsonaristas já dispararam nas redes sociais ofensas e recadinhos em tom ameaçador ao ex-AGU que foi escolhido para uma vaga no STF por ser “terrivelmente evangélico”.

O voto pela condenação, diferente da decisão do outro bolsonarista, Nunes Marques, que absolveu o parlamentar sem limites, não foi com o mesmo vigor dos demais ministros. Mendonça pediu, inclusive, uma pena menor para Silveira. Só que nada disso será suficiente para que ele não se torne o novo inimigo das falanges extremistas irracionais que idolatram Bolsonaro. Seu inferno astral está só começando, mas se quiser ter o respeito de alguém minimamente sério um dia, terá que se despir paulatinamente dessa pecha de “juiz particular” da família de bandidos.

Até Dias Toffoli, o ministro do Supremo que jura lealdade à democracia e sensatez em suas decisões, mesmo vivendo em meio a chamegos com generais e chamando o Golpe Militar de 1964 de “movimento”, foi ao palanque parabenizar a “coragem” de Mendonça ao contrariar os desejos da turba de bárbaros desajustados. Para ele, o voto do colega foi difícil, mas o peso “da cadeira e da toga” venceu, fazendo valer a Constituição Federal.

O Brasil fica um pouquinho menos bolsonarismo e dá um pequenino passo na estrada de quilômetros que nos conduzirá à libertação da loucura quando um magistrado da Suprema Corte contraria a insanidade de seus admiradores patológicos e resolve seguir o que manda a lei.

Que as coisas sigam assim. Um passo de cada vez.