OPINIÃO

O favoritismo do Lula, por Emir Sader

De salto alto, tênis ou sandália havaiana, não há duvida: Lula é favorito para ganhar as eleições presidenciais de outubro, no primeiro ou no segundo turno.

Lula e o povoCréditos: Ricardo Stuckert
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De salto alto, tênis ou sandália havaiana, não há dúvida: Lula é favorito para ganhar as eleições presidenciais de outubro, no primeiro ou no segundo turno.

Por que o Lula é favorito e o que significa que ele seja favorito?

Lula é favorito, pelas pesquisas, em que ele nunca baixa de 40% de preferências. Em que ele tem não apenas vantagem razoável em relação ao Bolsonaro, como também tem uma rejeição bem mais baixa que este.

Em que o Lula lidera as pesquisas em São Paulo, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, além de ter votação exponencial no nordeste: 62% no primeiro turno na Bahia, 72% em Pernambuco e uma média sempre acima de 60% em toda a região. 

A oposição joga na reativação do anti-petismo, que foi o bordão mais forte da direita contra o PT, baseado nas acusações de corrupção, nos supostos riscos morais de uma vitória do Lula, na ameaça de reprodução aqui de regimes diabolizados, como os da Venezuela, Cuba, Nicarágua. Além dos tradicionais alertas sobre possíveis situações de descontrole social, de mobilizações populares para atacar a alvos institucionais e da mídia.

A disputa, desse ponto de vista, se daria entre o anti-bolsonarismo e o anti-petismo. A situação se reverteu para a direita, quando o anti-bolsonarismo passou a ser maior que o anti-petismo. 

Mas o maior favoritismo do Lula não vem desses aspectos, mas vem de um outro lugar. Na campanha eleitoral Lula deve ter um desempenho que pode lhe angariar apoios em grande escala, gerando um movimento avassalador de adesões.

O favoritismo do Lula virá sobretudo da sua campanha. Antes de tudo, pela linguagem do Lula, pela sua sensibilidade para falar com todos os setores da massa da população. As caravanas pelo Brasil - de que eu pude participar -, foram uma confirmação dessa identidade plena, desse amor mútuo correspondido do Lula com o povo.

Além disso, Lula dispõe de um discurso que recolhe as preocupações da grande massa da população: a fome, a miséria, o desemprego, a precariedade do trabalho, a falta de direitos. Lula faz a crítica da catástrofe que é o governo Bolsonaro, tanto para a massa dos trabalhadores, como para o país, inclusive pelo mundo afor

A partir da desastrosa situação atual dos trabalhadores, Lula recorda como a vida de todos já foi muito melhor, quando o PT governou o país. Recorda as razões disso, como havia trabalho para todos, como as desigualdades sociais e regionais, tinham diminuído drasticamente.

Lula foi afinando esse discurso mediante centenas de reuniões com distintos setores da população – de trabalhadores sem terra nos seus acampamentos, a jovens da periferia, com sindicatos, mulheres, movimentos negros. Lula difunde seu discurso, preparando a militância dos movimentos sociais para a campanha.

A campanha do Lula tende a se transformar em um tsunami, em um movimento avassalador, com adesões e participações cada vez maiores dos mais distintos setores da população. As concentrações de massa tendem a se multiplicar, a chegada do Lula será sempre um grande acontecimento nas cidades e em todos os lugares por onde ele andar.

As adesões políticas já são uma realidade, muito mais além dos partidos que oficialmente o apoiam. No nordeste esse fenômeno já é uma realidade, trazendo para o Lula apoio de políticos e candidatos de quase todos os partidos e correntes.

Que político não vai querer somar a imagem do Lula à sua campanha? E qual vai querer associar seu nome ao do desgastado Bolsonaro e seu governo?

Em suma, ao longo da campanha o Lula tende a crescer sempre, elevando o apoio que recebe a índices que nunca nenhum candidato a presidente chegou a ter. A campanha deve ser o maior acontecimento de massas que o país já conheceu, consagrando o Lula como o único grande líder popular nacional do Brasil.

Conforme a polarização entre os dois candidatos mais fortes for se consolidando ainda mais, o voto útil tende a favorecê-los cada vez mais, com a preferência pelo Lula se estendendo. Ele conta com os seus votos históricos, com os que foram aderindo ao seu discurso, com os que votarão nele para derrotar o Bolsonaro e os que votarão como a opção mais favorável para tirar o país da pior da crise da sua história.

Aos que se perguntam quando Lula vai começar sua campanha, não se dão conta que ela começou há tempo. Que esta é a campanha que o Lula fará e que deve aumentar seu favoritismo.