EVANGELISTÃO BOLSONARISTA

Eu tive fome e você me chamou de vagabundo! – Por pastor Zé Barbosa Jr

O Bolsonarismo trouxe à tona (sim, há uma ligação visceral entre bolsonarismo e a “coragem” desses pastores em falar essas coisas) o que há de pior em todos os campos, e não foi diferente no meio evangélico

Homem em situação de rua nos EUA.Créditos: Departamento de Relações Comunitárias do Governo do Estado da Geórgia (DCA)/Reprodução
Escrito en OPINIÃO el

Surpreendendo um total de ZERO pessoas, o pastor Marcos Granconato, pastor da Igreja Batista Redenção, em São Paulo, fez uma postagem em suas redes sociais que causou alvoroço. Em seu post, o líder batista disse que “a maioria dos mendigos têm o dever bíblico de passar fome, pois Paulo diz aos Tessalonicenses: “se alguém não trabalha, que também não coma”.”

Não! Você não leu errado. Ele disse exatamente isso: que a maioria dos mendigos, biblicamente, devem mesmo passar fome, pois já que não trabalham, não têm direito à comida. E ainda põe a culpa no apóstolo Paulo, por ter escrito isso aos Tessalonicenses.

O Bolsonarismo trouxe à tona (sim, há uma ligação visceral entre bolsonarismo e a “coragem” desses pastores em falar essas coisas) o que há de pior em todos os campos, e não foi diferente no meio evangélico. Tudo aquilo que se falava às escondidas, que pastores e líderes temiam dizer em público, com medo de “soar mal” veio à superfície. E veio com ares de celebração.

Como disse, não me espanta a postagem do pastor mencionado, tendo em vista que ele ultimamente tem apostado exatamente no ridículo e na barbárie como forma de “pastorear” (a exemplo de tantos outros). O ridículo/asqueroso/violento como forma de poder tem sido a tônica de Bolsonaro e de todos aqueles seus seguidores, seja em quais campos de representação estiverem. Assim também tem sido nas igrejas: os pastores bolsonaristas partiram para o “tudo ou nada”. Todo o lixo teológico que esconderam debaixo do tapete durante esses anos agora espalham com força e vigor.

O que, de alguma forma, me causa espanto (não que eu não esperasse, mas...) nesse cristianismo sem Cristo, cada vez mais distante do Evangelho, é a CELEBRAÇÃO dessa forma medíocre, anticristã e perversa de transformar pecados estruturais como o racismo, a lgbtfobia, o machismo e a aporofobia (aversão ao pobre) em uma “forma de ser cristão”.

Não há NADA, repito, NADA nesse “bolsocristianismo” que tenha alguma identificação com Jesus, o POBRE de Nazaré, que inclusive era sustentado por algumas mulheres que acreditavam no seu ministério. Seria Jesus um “vagabundo”? Aos olhos de Granconato, com certeza.

Aliás, é esse mesmo Jesus que diz que um dos critérios de julgamento das nações seria o fato de darem comida a quem tem fome e água a quem tem sede:

“Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram;

necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’.

(...)

‘Digo-lhes a verdade: o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram’. (Mateus 25:35-40)

Parece que na Bíblia desse “estudioso das Escrituras” esse verso foi suprimido, como todos os outros versos bíblicos que falam de amparo ao pobre, ao órfão, à viúva e a todos os desamparados. Mais interessante ainda é o fato de usar um texto da carta de Paulo aos Tessalonicenses, onde o apóstolo defende que os pastores deveriam TRABALHAR POR FORA para não serem pesados às igrejas pobres, o que acabaria com a dinâmica dos pastores sustentados pela exploração dos dízimos das pessoas menos favorecidas.

Para esse e outros pastores, a tradução bíblica deveria ser “Tive fome e vocês me chamaram de vagabundo; tive sede e vocês disseram que eu estava de corpo mole; fui estrangeiro e vocês gritaram que eu era uma escória da humanidade, necessitei de roupas e vocês disseram que eu não fiz nada pra estar vestido; estive enfermo e vocês riram de mim, estive preso e vocês empunhavam cartazes dizendo que ‘bandido bom é bandido morto’.” Essa é a “Bíblia de Granconato”... E poderia ser de Malafaia, de Feliciano, dos Valadões, de Valandro Jr, de Yago Martins, de Linhares e tantos outros... Pastores de si mesmos, vendilhões do templo, malditos!

Enquanto o pão não for NOSSO, ninguém pode chamar a Deus de Pai NOSSO! Ou o pão é para todos ou não é para ninguém. Termino com os versos finais de um hino bem conhecido de muitos cristãos brasileiros, “Que estou fazendo se sou cristão”, do Rev. João Dias de Araújo:

“Aos poderosos eu vou pregar,

Aos homens ricos vou proclamar

Que a injustiça é contra Deus

E a vil miséria insulta os céus.”

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.