AMÉRICA LATINA

Colômbia: Derrota histórica do uribismo e possibilidade do 1° governo popular – Por Daniel Valença

A Colômbia vive uma encruzilhada histórica, e as possíveis eleições de Petro e Lula podem fazer a América Latina dar um verdadeiro cavalo de pau

Gustavo Petro, candidato progressista da Colômbia..Créditos: Divulgação
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Essas eleições colombianas ocorreram sob condições bastante particulares. Para além da crise social, política, econômica e sanitária de nossos tempos, se deram ainda sob influência do Paro Nacional, uma paralisação nacional e explosão social reprimida violentamente pelo governo uribista de Ivan Duque, chegando ao redor de 80 vítimas; em contexto de assassinatos de líderes em massa – somente em 2022, já são 78 – e de violência e ameaças ao processo eleitoral. Para se ter uma ideia, Gustavo Petro chegou a cancelar agenda no Eje Cafeero, em virtude de a inteligência ter apontado possibilidade de emboscada contra sua vida e sua vice, Francia Marquez, foi retirada às pressas de um palanque após terem apontado um laser em sua testa.

O resultado das urnas significou, antes de mais nada, a derrota do uribismo. Com décadas de domínio político, após abdicar de sua candidatura original e apoiar a Federico Gutierréz em decorrência do resultado do fracasso nas prévias partidárias, o uribismo viu Gutierréz ser derrotado por Rodolfo Hernández, que fará o segundo turno contra a esquerda.

Rodolfo Hernández é empresário, milionário, ex-prefeito de Bucaramanga e tem 77 anos. Apesar de estar sendo taxado de o Trump colombiano e de, certa vez, ter dito ser admirador de Hitler – fato do qual se retratou logo após, dizendo que se referia a Albert Einstein – seu programa não se aproxima nem do de Trump nem do de Bolsonaro – há, por exemplo, a defesa de pautas ambientais e de direitos humanos. Mais correto seria associar seu triunfo à sua posição demagógica de negação da política (em cenário de crise profunda do uribismo e dos partidos tradicionais da direita, ponto em que se aproxima da conjuntura brasileira), a ser um outsider milionário de direita e que manejou bem as redes sociais, especialmente o Tik Tok.

Já Gustavo Petro representa a possibilidade de, pela primeira vez na história, a Colômbia vir a ser governada pela esquerda. Ele é economista, foi guerrilheiro no Movimiento M-19 na década de 80 e, na de noventa, após acordo de paz com o Estado, se incorporou à vida política institucional. 

Foi deputado, senador, se destacou como principal liderança de oposição a Álvaro Uribe. Em 2010 foi o terceiro colocado em sua primeira disputa presidencial e, em 2018, ficou em segundo, sendo derrotado pelo atual presidente Ivan Duque.

Petro e Francia Marquéz defendem um programa de centro-esquerda, com as pautas da reforma agrária, taxação de grandes fortunas, a defesa dos direitos humanos, especialmente de mulheres, indígenas e negros, do meio ambiente, mudanças profundas nas forças repressivas colombianas e seu vínculo com o paramilitarismo,  o restabelecimento de relações com a Venezuela e deslocamento da política externa, de uma posição de submissão ao imperialismo norte-americano para um lugar de soberania e priorização das relações sul-sul.

Abertas as urnas, com uma participação de 55%, Gustavo Petro, do Pacto Histórico, atingiu 40%; Rodolfo Hernández, da Liga de Gobernantes contra la Corrupcion, 28%; Federico Gutiérrez, da Equipo por Colômbia, 23% e Sérgio Fajardo, do Centro Esperanza, 4,20.

O uribismo e Gutiérrez já anunciaram apoio a Hernandéz. Mas, o segundo turno que se realizará em 19 de junho não será mera solução aritmética. De um lado, Petro tentará conquistar também os 45% que optaram por não votar; de outro, Hernandéz poderá perder votos com o apoio do uribismo – fato que ocorreu com Gutierréz no primeiro turno – e a contradição com a sua narrativa de negação da política que o levou até aqui.

A Colômbia vive uma encruzilhada histórica, e as possíveis eleições de Petro e Lula podem fazer a América Latina dar um verdadeiro cavalo de pau. A conferir. 

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.