OPINIÃO

Globo e Estadão distorcem entrevista de Lula à Time e resgatam "uma escolha muito difícil" de 2018

Não é sobre Zelensky, nem sobre "falta de clareza" ou "descontrole verbal". Globo, Estadão não têm escrúpulos para cumprirem determinações do patrão "mercado", mesmo que seja para (re)eleger governos fascistas.

Jair Bolsonaro na Globo em 2018 e Lula na Time em 2022.Créditos: Reprodução
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Bastou Lula dar uma dimensão mundial às eleições no Brasil quatro anos após ser preso e impedido de disputar o Planalto, que a mídia liberal resgatou uma antiga estratégia - a de "falta de clareza" e do "descontrole verbal" -, que resultou no histórico editorial "uma escolha muito difícil" em 2018 e na consequente eleição de Jair Bolsonaro (PL).

Em editorial em seu folhetim político, a família Marinho diz que "Lula deveria expor suas propostas com clareza e detalhes", ressaltando que o petista "deixou claro em entrevista à revista americana Time seu apego ao passado e sua incapacidade de vislumbrar uma saída para os problemas presentes e futuros do Brasil".

Já o Estadão foi além - e desde os tempos escravagistas, o jornal sempre vai - ao classificar recentes declarações de Lula como "descontrole verbal" que "expôs uma preocupação crescente na pré-campanha do petista a três dias do lançamento oficial da chapa com o ex-governador Geraldo Alckmin".

Ainda nos anos 1970, Caetano Veloso já cantava que "Narciso acha feio o que não é espelho" e desde que Lula é Lula, quando emergiu à política na mesma época, a mídia liberal "acha feio" as posições do ex-líder sindical que não refletem os anseios da doutrinação que busca impor aos políticos de estimação.

Lula deu uma entrevista histórica à Time - tanto que foi capa e é a mais lida no site da publicação na manhã desta quinta-feira (5) -, mas Globo, Estadão e a mídia liberal distorceram uma colocação do presidente, sobre a responsabilidade conjunta de Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin, além da Otan, pela Guerra na Ucrânia.

É que a mídia liberal acha feio falar a realidade e desnudar as narrativas impostas pelos patrões da América do Norte. 

Na verdade, a "clareza" cobrada de Lula pela mídia hegemônica sempre disse respeito à questão econômica. O próprio O Globo ressalta isso em seu editorial ao afirmar que "questionado sobre seus planos para a economia — área crítica em qualquer governo —, voltou a tergiversar".

Foi assim em 1989 - quando a Globo fraudou o debate para dar a vitória ao neoliberal Collor -, em 1994, em 1998, em 2002 - com a Carta ao Povo Brasileiro endereçada aos banqueiros.

Foi assim que a mídia impôs e celebrou a nomeação de Joaquim Levy no ministério da Fazenda de Dilma Rousseff (PT) em 2014 - enquanto iniciava o golpe com Aécio Neves.

Foi assim em 2018, quando Estadão soltou seu fatídico "Uma escolha muito difícil", comparando um ex-militar protofascista a um professor. 

Sempre foi a economia. E por isso a Globo, o Estadão e a mídia liberal acham Lula feio, por ele não ser espelho dos anseios de um projeto econômico de devastação das riquezas do país, do desmonte dos direitos dos trabalhadores, de ser servil aos interesses dos senhores da guerra - como está sendo Zelensky.

Globo, Estadão, a mídia liberal e seus "colonistas" não têm escrúpulos para cumprirem as determinações dos seus patrões do sistema financeiro. Elegeram um governo fascista em 2018 e podem reeleger Bolsonaro na base de distorções - o cerne das fake news propagadas nas redes de ódio do capitão - caso Lula não espelhe seus interesses mais nefastos.