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Derrotar Bolsonaro é questão de sobrevivência nacional – Por Chico Alencar

Num clima de fim de feira – ou de “xepa”, como definiu em recente artigo Gilberto Maringoni – trata de aprovar a toque de caixa tudo o que de pior ainda estava na lista de espera em seu projeto de destruição do país e ataques ao povo e aos interesses nacionais

Créditos: Agência Brasil
Escrito en OPINIÃO el

Diante do agravamento da crise social e de seguidos indícios de que perderá a eleição de outubro – talvez, até, no primeiro turno – o presidente Jair Bolsonaro tem demonstrado crescente desespero. Cada vez mais parece ter tocado o “dane-se” – para usar verbo mais polido do que o comumente utilizado.

Retoma os ataques contra as urnas eletrônicas. Multiplica as afirmações de que “só Deus” o retirará do poder. Repete os ataques ao Judiciário. Intensifica os comentários cafajestes que sempre o caracterizaram.

Em vez de priorizar as buscas para que sejam encontrados o indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, desaparecidos nos últimos dias na Amazônia, possivelmente vítimas do crime organizado que avança sobre os territórios indígenas, os responsabiliza pelo que pode ter acontecido.

Num clima de fim de feira – ou de “xepa”, como definiu em recente artigo Gilberto Maringoni – trata de aprovar a toque de caixa tudo o que de pior ainda estava na lista de espera em seu projeto de destruição do país e ataques ao povo e aos interesses nacionais.

Apoiado pela esdrúxula aliança do Exército com pastores inescrupulosos, parcelas do Judiciário, milicianos de variados tipos e o que há de pior na política brasileira, o famigerado Centrão, só nos últimos dias aprovou a admissibilidade de penhora do imóvel único de uma família, empurrou a responsabilidade pela alta dos combustíveis para os governadores, acobertou o desmatamento recorde e permitiu que se restrinja ainda mais a cobertura de doenças pelas quais os planos de saúde devem atender, sob o olhar cúmplice da agência que deveria regulá-los, cooptada pelos que ela deveria fiscalizar.

Enquanto isso, o inacreditável orçamento secreto é usado para a compra descarada de parcelas do Congresso, o desemprego vai a recordes históricos e os dados sobre o crescimento da fome são alarmantes. 

Segundo o IBGE, 106 milhões de brasileiros sobreviveram com R$ 13,83 por dia em 2021.

Nos últimos dois anos, a disparidade de distribuição de renda – que já era vergonhosa – foi a cifras verdadeiramente pornográficas: a parcela com fome já representa 15,5% da população do país, enquanto os que têm U$ 1 bilhão ou mais são 0,000029% dos brasileiros.

Não à toa, em entrevista recente o escritor italiano Domenico de Masa referiu-se ao Brasil de hoje em termos muito pouco elogiosos.

“No momento vocês estão nas mãos de um ditador (...) Essa ditadura reduz a inteligência coletiva do Brasil. Durante a pandemia, Bolsonaro se comportou como uma criança, de um jeito louco. Ou seja, o ditador conseguiu impor um comportamento idiota a um país muito inteligente. Porque é o que fazem as ditaduras.”

Como discordar dele?

Por isso, derrotar Bolsonaro em outubro, responsabilizando-o por seus crimes, deixou de ser apenas uma necessidade política e foi além disso: passou a ser questão de sobrevivência nacional.

Antes que esse clima de xepa torne a reconstrução do país ainda mais difícil.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.