OPINIÃO

Bruno Pereira e Dom Phillips: mais dois assassinatos na conta da política genocida de Bolsonaro

Informação, negada pela PF, foi divulgada pela esposa de jornalista a André Trigueiro da Globo. Assim como incitou negacionismo na Covid, Bolsonaro instigou corrida do ouro, das armas e das drogas no Vale do Javari.

Bruno Pereira e Dom Phillips.Créditos: Reprodução/TV Globo
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Nesta segunda-feira (13), quando o Brasil conta 668.036 mortes pela pandemia da Covid-19 - negada veementemente por Jair Bolsonaro (PL) -, o mundo recebe a notícia trágica de que foram encontrados dois corpos AMARRADOS EM ÁRVORES na Amazônia, que tudo indica seriam do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Philips, que estavam desaparecidos há pouco mais de uma semana na região do Vale do Javari, uma terra indígena cravada em meio à floresta que faz parte dos municípios de Atalaia do Norte e Guajará, na fronteira com o Peru.

A Terra Indígena, demarcada em 2 de maio de 2001 no governo Fernando Henrique Cardoso, é habitada pelos marubos, matsés, matis, kanamari e kulina, além de ser propriedade de ao menos quatro etnias indígenas que vivem isolados. E sempre foi alvo da cobiça de garimpeiros, que buscam ouro nas terras desses povos originários.

O quase certo assassinato de Bruno e Dom, no entanto, faz parte de um novo cenário vivido na região desde que Bolsonaro tomou o poder de assalto - com a ajuda imprescindível de seu ex-ministro da Justiça, Sergio Moro - e levou os garimpeiros para dentro do Planalto.

Além do garimpo, exaltado por Jair Bolsonaro, a região se tornou desde então terra de narcotraficantes e traficantes de armas, as mesmas que são linha de frente da política do atual governo

Com um delegado da Polícia Federal - Marcelo Augusto Xavier da Silva - que serve aos interesses de ruralistas, a Funai foi esvaziada e passou a atuar contra os povos indígenas.

Vale lembrar que a Terra Indígena do Vale do Javari foi demarcada em 2001, bem depois do chamado marco temporal, um delírio defendido por Jair Bolsonaro e ruralistas que, se julgado procedente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), só reconhecerá as terras indígenas demarcadas na Constituição de 1988, o "marco temporal". Dessa forma, a região seria uma das dezenas que seriam abertas à exploração.

Foi essa série de fatores - além das promessas de campanha de Bolsonaro de que não demarcaria "um centímetro" mais de terras indígenas e quilombolas - que levou à corrida do ouro, das armas e das drogas no Vale do Javari.

Bruno Pereira, responsável pela Coordenação Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) da Funai até outubro de 2019, foi um dos quadros perseguidos e expelidos do órgão, por ordem de subordinados do então ministro Serio Moro.

Pereira foi exonerado por fazer cumprir a lei, de atear fogo em embarcações e ferramentas usadas ilegalmente por garimpeiros para roubar ouro na terra indígena.

Em seguida, com a perseguição crescente, se licenciou da Funai para defender os indígenas contra a política genocida do governo Bolsonaro.

Dom Phillips acompanhou tudo o que aconteceu na região desde 2018, quando fez sua primeira expedição com Bruno Pereira na região. Indignado com o que via, em 2019 indagou Bolsonaro de forma educada sobre a política de proteção a Amazônia e despertou a ira do presidente brasileiro: "Primeiro você tem que entender que a Amazônia é do Brasil, não de vocês", retrucou Bolsonaro, repetindo a ladainha mentirosa da preservação da floresta.

Assim como fez na pandemia, classificando a Covid-19 como "gripezinha" e atuando como agente propagador do coronavírus, incitando apoiadores a não usarem máscaras e consumirem medicamentos sem eficácia contra a doença, Bolsonaro instiga garimpeiros e traficantes de drogas e armas a levarem adiante o genocídio dos povos indígenas - a ponto de responder a uma ação no Tribunal Penal Internacional, em Haia, por isso.

Se confirmados, os assassinatos de Dom Phillips e Bruno Pereira serão dois mais na conta da política genocida de Jair Bolsonaro, que nesse caso tem como cúmplice Sergio Moro, um dos artífices do golpe que fez com que o fascismo chegasse ao poder.

Em tempo: A informação de que os corpos de Bruno e Dom teriam sido encontrados foi divulgada pelo jornalista André Trigueiro, citando como fonte a esposa do jornalista britânico. No entanto, a Polícia Federal, a Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava) não confirmam que os corpos foram encontrados.