MEIO AMBIENTE E MULHERES

Disparidade de gênero no âmbito climático – Por Ana Beatriz Prudente Alckmin

Segundo a ONU Mulheres, a população feminina representa menos de 30% dos chefes de delegação para negociações climáticas globais, todos os altos cargos que tomam as decisões sobre o clima são ocupados por homens

Créditos: Nações Unidas
Escrito en OPINIÃO el

Para discutir sobre o meio ambiente e a pauta das mudanças climáticas, é necessário que as questões étnicas e de gênero também participem do debate. O fato é que as mudanças climáticas já estão afetando as comunidades mais pobres se levarmos em conta as reduções produtivas, a queda da qualidade dos cultivos e o aumento de pragas e doenças. Reconhecer as diferenças de gênero consideradas a vulnerabilidade e a adaptação permite que políticas mais sensíveis sejam apropriadamente introduzidas para reduzir a vulnerabilidade das mulheres quanto às mudanças climáticas.

Segundo a ONU Mulheres, a população feminina representa menos de 30% dos chefes de delegação para negociações climáticas globais, todos os altos cargos que tomam as decisões sobre o clima são ocupados por homens.

Os dados também mostram que apenas 20% da população das áreas rurais tem acesso a água potável, e que aqueles que não têm acesso são obrigados a percorrer longas distâncias em busca de água, e essas pessoas geralmente são as mulheres da família. Alguns dados mostram que mulheres gastam 16 milhões de horas indo em busca de água em países da África subsaariana, diferente dos homens que gastam 6 milhões de horas, isso nos mostra mais do que nunca o tamanho da disparidade dos gêneros no âmbito climático. Promover ambientes mais colaborativos é uma necessidade.

Precisamos transformar os conceitos de equidade em ações verdadeiramente políticas. Por conta disso, a justiça climática visa repensar a estrutura da representatividade na pauta do clima, permitindo que todos tenham acesso aos mesmos benefícios ligados ao avanço tecnológico e sustentável.  Embora o plano de ação de gênero da ONU promova a igualdade entre as nações, ele ainda não faz a intersecção entre gênero e etnia, partindo do pressuposto de que todas as mulheres do mundo se encontram em uma mesma posição, como se as desvantagens raciais já tivessem sido resolvidas.

Essas questões étnicas estão diretamente relacionadas com a representatividade de participação na agenda ambiental, fator este que revela a verdadeira situação da desigualdade climática. Infelizmente, as lideranças africanas ainda possuem pouca visibilidade no campo da justiça climática, sendo que elas têm muito a nos dizer. Na África, 23% das mortes estão ligadas ao meio ambiente. Algumas agências pontuam que “o continente vem sendo atormentado por conta do difícil acesso à água potável, do saneamento inadequado, da infraestrutura deficiente, das mudanças climáticas e da rápida urbanização não planejada”. Lembrem-se de que a África é um continente e, portanto, as realidades dos países africanos não são iguais.

A agropecuária brasileira, por sua vez, em sua esmagadora maioria é composta por pessoas de gênero masculino, acima de 55 anos de idade, ou seja, uma área em que mulheres não têm grandes oportunidades, infelizmente.

Mesmo com toda a modernização que o mundo vem trazendo, e que reflete muito também na agricultura, criação de animais, trabalhos florestais e pesca, o número de mulheres tendo papéis importantes de liderança e chefia nas respectivas áreas ainda é muito pequeno se comparado com a quantidade de homens que encabeçam esse nicho brasileiro.

O acesso à educação para pessoas que moram em áreas mais afastadas das zonas urbanas é mais difícil, especialmente nas etapas de ensino avançado. Mas, ainda assim, podemos ver o empenho feminino, visto que jovens mulheres, mesmo morando em áreas mais afastadas, em sua maioria costumam terminar todas as etapas dos estudos.

Ainda assim, com essas mulheres tendo poucas oportunidades dentro da região em que residem, fica evidente a discrepância da desigualdade de gênero. Consequentemente, temos mais mulheres com problemas financeiros, depressão e ansiedade. O acesso a tudo fica muito limitado e essas mulheres não conseguem se atualizar, para conseguir criar novas oportunidades de emprego, precisando assim de incentivo do governo, que por sua vez deve ser muito atuante ao ampará-las.

Os avanços das mulheres na política também acabam refletindo muito no que diz respeito às mudanças climáticas, visto que, quando há mais mulheres no parlamento, os países adotam políticas mais rigorosas para proteção contra desastres naturais.

Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.