JUSTIÇA

Pau que dá em Genivaldo não dá em Nivaldo – Por pastor Zé Barbosa Jr

Definitivamente, no Brasil, pau que dá em Genivaldo, não dá em Nivaldo. A polícia, seja ela Militar, Federal e agora até a Rodoviária Federal, tem seu alvo predileto: a cor da “mosca” nos exercícios de tiro

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Nos últimos dias dois assuntos ficaram entre os mais comentados em mídias e redes sociais. Primeiramente o assassinato de Genivaldo de Jesus Santos, executado por agentes da Polícia Rodoviária Federal de forma covarde e violenta na pequena cidade sergipana de Umbaúba. Os policiais rodoviários improvisaram uma “câmara de gás” (o que imediatamente nos remete ao nazismo) e asfixiaram até à morte o homem negro, que tomava remédios controlados por conta de uma esquizofrenia. Tudo isso porque foi pego dirigindo uma moto sem usar o capacete.

O outro caso que ganhou as manchetes, e que a cada dia traz novos lances e novidades, diz respeito à carreira milionária de Nivaldo Lima, um dos mais famosos nomes do chamado “sertanejo universitário” no Brasil. Nunca ouviu falar em Nivaldo? Ah! É que ele atende pelo nome artístico de Gusttavo. Ele mesmo, tche tchererê tche tche... Gusttavo Lima e você! Nivaldo foi “descoberto” em contratos milionários para apresentação de seus shows em prefeituras de cidades minúsculas, algumas com um orçamento quase igual a de um simples show dele.

Genivaldo foi cruelmente executado pela Polícia. Nivaldo, por sua vez, recebeu uma homenagem de policiais antes de seu show em Divinópolis, no dia 31/05. Quanto a Genivaldo, preto e pobre, o excrescentíssimo presidente da república insinuou se tratar de bandido. Já Nivaldo, branco e muito rico, recebeu da Polícia outro tratamento: “Gusttavo, primeiramente venho trazer a solidariedade da Polícia Militar para você. Fique tranquilo, que essa casaca parda está contigo”, declarou o tenente-coronel Flávio Santiago, chefe da comunicação da PM.

Definitivamente, no Brasil, pau que dá em Genivaldo, não dá em Nivaldo. A polícia, seja ela Militar, Federal e agora até a Rodoviária Federal, tem seu alvo predileto: a cor da “mosca” nos exercícios de tiro. Os corpos pretos e pobres são os prediletos para serem achados por balas perdidas e esculachados por bandidos que vestem fardas. O Brasil está entregue a muitos desses. Muitos. E a depender deles, o pau continuará dando em Genivaldos e tantos outros sem nome que andam por aí, como o “homem negro” (é assim que todas as matérias o chamaram) covardemente asfixiado – não morreu por pouco – em uma ação da Guarda Civil da capital paulista. Além da violência na “abordagem”, ainda teve um “flagrante” totalmente forjado.

Já Nivaldo continua em sua vida nababesca de mansões, carros de luxo, iates, helicópteros, e uma infinidade de prefeituras que esperam para um “showzinho” em sua cidade. Nivaldo, se investigado, podem apostar, não perderá nada do que já “conquistou” (ainda que seja provado que com dinheiro desviado da educação e saúde de municípios que rastejam em seus míseros orçamentos. Terá um ou outro show cancelado, neste momento de holofotes, mas em nada terá seu patrimônio e honra(?) atingidos. O “pau” das polícias passa longe de Nivaldo.

Quando, no mito bíblico da criação, Caim mata seu irmão Abel, ouve do Criador a seguinte frase: “Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra.” (Gênesis 4:10). Esse, segundo o texto bíblico, foi o primeiro assassinato na existência humana. Ainda que levando em conta o caráter mítico da narrativa, uma coisa é certa: o sangue de um inocente ganha voz diante de Deus, e grita!

Chega de injustiça, violência e morte para o povo preto do Brasil. O racismo estrutural e estruturante precisa ser combatido com todas as forças. As injustiças que tiram comida e educação dos mais pobres precisam ser investigadas e punidas com todo rigor, doa a quem doer. Genivaldos não podem mais morrer e Nivaldos não podem mais continuar tirando do povo massacrado os direitos mínimos em acordos suspeitos e acintosos com prefeitos e políticos corruptos! O sangue dos inocentes clama da terra. O sangue de Genivaldo ganha voz, ganha vozes, vira um coro contra toda impunidade e desigualdade.

A nossa voz será a voz de Genivaldos. E não nos calarão. E essa voz abalará céus e terra. Amém!

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.