OPINIÃO

Brasil: Um país evangélico como o Diabo gosta – Por pastor Zé Barbosa Jr

A explosão evangélica trouxe a reboque o crescimento da violência doméstica, do feminicídio, da LGBTFobia, do racismo religioso e de muitos outros preconceitos e doenças sociais que estavam ou estagnadas, ou tinham desaparecido

Imagem ilustrativa.Créditos: Quora/Reprodução
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Era fim da década de 80. Nas igrejas evangélicas brasileiras duas frases apareciam tímidas aqui e ali, mas ganhando força paulatinamente: “O Brasil precisa de um presidente evangélico” e “O Brasil será abençoado quando tivermos maioria evangélica”.

Sim! O projeto de poder evangélico não foi uma invenção do neopentecostalismo nos anos 2000. Vem de antes, muito antes! O neopentecostalismo só é a face desavergonhada (cara-de-pau para os mais populares) de uma proposta que já ganhava corpo nas últimas décadas do Século XX aqui no Brasil. Basta assistir a uma pregação do pastor Caio Fábio, em 1991, num Congresso da VINDE, onde já avistava o perigo de um messianismo político-religioso que desgraçaria todo o Brasil, mas seria celebrado por boa parte dos evangélicos.

30 anos depois, a profecia se cumpre. O Brasil é hoje uma “pátria evangélica” (a cultura “gospel” já é dominante em muitos espaços), a despeito de ainda não ser maioria numérica, mas sem dúvida alguma exercer o “protagonismo” religioso, já que, com o perdão dos irmãos Romanos, um evangélico que “marcha para Jesus” vale por uns 3 “católicos nominais”. Vivem por uma missão, por um chamado, por uma vocação. Mas essa missão hoje tem um resultado inusitado: O Brasil é um país evangélico como o diabo gosta.

A explosão evangélica trouxe a reboque o crescimento da violência doméstica, do feminicídio, da LGBTFobia, do racismo religioso e de muitos outros preconceitos e doenças sociais que estavam ou estagnadas, ou tinham desaparecido. O negacionismo científico é um exemplo desses: O Brasil que havia erradicado algumas doenças por conta de campanhas magníficas de vacinação desde a mais tenra infância volta a enfrentar, pasmem, casos de sarampo e poliomielite (paralisia infantil). E esse retrocesso tem muito os pés fincados num fundamentalismo religioso, doentio e anticientífico, característica marcante do evangélico que hoje grita “mito” num culto para receber o presidente Bolsonaro.

O País que, depois de séculos de desigualdade, tinha conseguido sair do mapa da fome, volta a ocupar essa triste estatística por conta de políticas de opressão, retirada de direitos, aniquilamento de projetos sociais e a pregação equivocada e criminosa de que “pobres são vagabundos” e que o símbolo da benção de Deus é a “prosperidade financeira”. Assim, uma espécie de “meritocracia espiritual capitalista” é inserida no pensar evangélico brasileiro, fusão de um neocalvinismo barato aliado à perversa “teologia da prosperidade”. Afundamos como país, empobrecemos como coletivo, mas os poucos prósperos (principalmente os mercadores da fé, donos de mansões, carrões e jatinhos) arrotam aqui e ali essa “benção do Senhor” sobre a nação.

O dizer-se “cidadão de bem, conservador e cristão” é lugar comum de boa parte dos homens e mulheres (majoritariamente homens e brancos da classe média) que cometem os crimes mais absurdos e violentos possíveis. É normal ver essa “autodeclaração” nos perfis em redes sociais dos principais sociopatas, psicopatas e assassinos dos últimos acontecimentos trágicos no solo brasileiro.

É... já foi o tempo em que se imaginava que um país de maioria evangélica seria um Brasil mais justo, menos desigual, com direitos e justiça sendo vivido plenamente por todas, todos e todes. Um país onde o amor fosse o vínculo principal, onde quaisquer resquícios de preconceitos e discriminações seriam banidos pelo Espírito pacificador, agregador e acolhedor que seriam marcas predominantes da fé cristã abençoando a nação. E, principalmente, como os que antes sofreram perseguições em seu começo histórico, cristãos defenderiam acirradamente um verdadeiro Estado Laico, única garantia de plena liberdade religiosa. Só que não...

O Brasil se transformou num inferno “em nome de Jesus”. As maiores atrocidades e barbaridades são feitas em nome do Filho de Deus. Um presidente mau, perverso, mentiroso e nojento é celebrado em igrejas como um novo “messias”. Leis injustas e opressivas são festejadas como “vitória do povo de Deus”. E ações que buscam igualdade, saúde para todos e justiça social são vistas como “obras do inimigo para destruir a igreja”, numa lógica invertida de deixar quaisquer estudantes da psicologia humana boquiabertos. A igreja brasileira, em sua imensa maioria, está perdida. Cega, pobre e nua, para utilizar um termo bíblico bem pertinente. Abandonou o seu primeiro amor. Perdeu-se e leva o Brasil à perdição!

Definitivamente, o Brasil tornou-se um país evangélico, do jeitinho que o Diabo gosta!

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.