CHICO BUARQUE

“Que tal um samba”, de Chico Buarque, evoca o prazer, cita Caetano e ainda faz dançar

Com uma simplicidade que chega a ser desaforada, Chico mostra mais uma vez o seu talento indestrutível de compositor, cantor e sambista

Chico Buarque.Créditos: Francisco Prooner/Divulgação
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Chico Buarque acaba de entrar na modernidade das plataformas por demanda e lança um single com a canção “Que tal um samba?”, que vai batizar a próxima turnê nacional do artista, que começa em setembro e se estende até o próximo ano.

A turnê, sempre bom lembrar, terá a participação da cantora Mônica Salmaso.

A canção, uma forma divertida e engenhosa que o compositor encontrou para propor novos e melhores dias, sugere: “Um samba pra alegrar o dia, pra zerar o jogo, Coração pegando fogo e cabeça fria, um samba com categoria, com calma”.

Um tanto mais bem-humorada e otimista, “Que tal um samba?” pede mais uma vez com rimas inusitadas, pra de maneira escancarada pular fora da sequência de coisas ruins que o país novamente insistiu em cair, dessa vez por conta própria: “Cair no mar, lavar a alma, Tomar um banho de sal grosso, que tal? Sair do fundo do poço”.

A melodia, carregada de suingue próprio, nos remete a várias outras obras de Chico, sobretudo dos anos 70, com um formato de composição em que os versos são ditos sobre poucas notas repetidas, como “Construção”, por exemplo.

Na gravação, dirigida por Luiz Claudio Ramos, que também toca violão, Chico traz parte da mesma banda que o acompanha há vinte anos, com João Rebouças no piano, Jorge Helder no baixo e Jurim Moreira na bateria, além da participação de Thiago da Serrinha na percussão e o bandolim de Hamilton de Holanda.

Com uma simplicidade que chega a ser desaforada, Chico mostra mais uma vez o seu talento indestrutível de compositor em que a relação harmonia – que passeia em círculos – letra que aparentemente repete ideias, mas que se renovam vertiginosamente, e por fim o samba propriamente dito, nos entrega mais uma obra-prima.

Lá pelo meio, Chico faz surpreendente homenagem ao amigo Caetano Veloso, logo ele que foi alçado ao involuntário papel de contraponto ao tropicalismo, e cita a canção “Beleza Pura”, ode ao prazer em tempos tenebrosos:

“Fazer um filho, que tal? Pra ver crescer, criar um filho, Num bom lugar, numa cidade legal Um filho com a pele escura, Com formosura, Bem brasileiro, que tal?, Não com dinheiro, Mas a cultura, Que tal uma beleza pura no fim da borrasca?, Já depois de criar casca e perder a ternura, Depois de muita bola fora da meta.”

Ao fim e ao cabo, aos 78 anos, Chico permanece entre os maiores e segue antenado com seu tempo e sem tempo pra preguiça.

Ouça abaixo: