OPINIÃO

Os ataques contra Dino, o "fogo-amigo" que abastece a mídia liberal e a sucessão no STF

Na lista de indicados para o STF, Flávio Dino avança nas ações contra narcomilícias no Rio e, como diz Lula, "desperta muitos adversários, que não se conformam com a perda de dinheiro e dos espaços para suas atuações criminosas".

Flávio Dino anuncia a criação do Comitê Integrado Contra a Lavagem de Dinheiro no Rio de Janeiro.Créditos: Tom Costa/MJSP
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Na publicação em que sai em defesa de Flávio Dino nesta quarta-feira (15), o presidente Lula dá algumas pistas do que pode estar por trás do que ele classifica como "clara ação orquestrada" nos ataques ao ministro da Justiça feitos pelo Estadão e O Globo, que alimentam a máquina de fake news da ultradireita bolsonarista e se propagam na horda de radicais que - ainda - adula Jair Bolsonaro (PL).

Antes de mais nada é preciso destacar que a reportagem do Estadão - que já ataca Dino insistentemente desde o editorial de 17 de agosto, quando o chamou de "animador de auditório" - é um baita factóide.

Luciane Barbosa Farias foi escolhida pelo Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura do Amazonas (CPTEC-AM) para participar de encontro do Ministério dos Direitos Humanos, em Brasília.

Luciane também esteve na Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça acompanhando a ex-deputada Janira Rocha, vice-presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da ANACRIM-RJ, no dia 19 de março. E no dia 2 de maio, e encontrou com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).

À época, Luciane não possuía quaisquer condenações na Jusitça. Ela havia, inclusive, sido inocentada da acusação de tráfico de drogas por "ausência/fragilidade das provas". A condenação só aconteceu no mês passado, como levantou Leandro Demori no Twitter.

Além disso, o apelido de "dama do tráfico", conforme apuração de Cynara Menezes, aqui da Fórum, foi inventada por um dos autores da primeira reportagem no Estadão, que chegou a tuitar que  "foi uma expressão usada por uma fonte" e que "achei peculiar e coloquei no texto".

Luciane, enquanto presidenta da Associação Instituto Liberdade do Amazonas, foi ao governo pleitear direitos dos detentos, incluindo do marido Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, que seria ligado Comando Vermelho.

"O que acontece é a criminalização dos familiares dos presos", como disse presidente da CEPCT-AM, a advogada Natividade Maia, à Folha.

Ou seja, o caso é um grande balão de ensaio da mídia liberal, que agiu em "clara ação orquestrada" - como disse Lula - com a horda bolsonarista para atacar Dino.

Mas, por qual motivo?

O caso foi claramente criado para atacar Flávio Dino. E agora resta saber quem e o que estaria por trás desses ataques. E, para isso, basta observar o movimento da própria mídia liberal, em especial da Globo, que comprou a pauta, como se diz no jargão jornalístico.

Logo após Lula dizer que as ações de Dino no Ministério da Justiça "despertam muitos adversários, que não se conformam com a perda de dinheiro e dos espaços para suas atuações criminosas", a GloboNews falou em "fogo-amigo" nos ataques a Dino.

No início de outubro, Dino anunciou um investimento de R$ 900 milhões, a serem usados até 2026, da Justiça e Segurança Pública em ações contra o crime organizado. Além disso, o ministro criou o Comitê Integrado Contra a Lavagem de Dinheiro.

O anúncio foi feito justamente no Rio de Janeiro, onde o ministro pretende investigar a fundo quem comanda, dos condomínios da Barra da Tijuca, as milícias que atuam nas comunidades periféricas.

“É um escárnio, um absurdo, inaceitável que os industriais da morte estejam com mansões em Angra dos Reis, avião, helicóptero. Isso é um tapa na cara dos cidadãos honestos do país... A nossa proposta é levantar os CNPJs nas áreas mais conflagradas, fazer um rastreamento na Secretaria de Fazenda junto com o Coaf para ver disparidades no faturamento. Também é importante identificar CNPJs ligados a criminosos já conhecidos”, disse Dino.

Nesta segunda-feira (16), na segunda fase da operação Tamoios, a Polícia Federal anunciou o bloqueio de contas bancárias e sequestro de bens móveis e imóveis no valor de até R$ 126 milhões do tráfico de drogas no Rio de Janeiro.

Entre os bens sequestrados estão: dois apartamentos de luxo localizados em frente à praia da Barra da Tijuca/RJ, uma casa em Angra dos Reis/RJ, automóveis de luxo e motos aquáticas adquiridos pelos investigados.

Não é de hoje que se sabe que a classe política fluminense, em seu mais amplo espectro, está ligada diretamente a líderes de grupos milicianos. Ou seja, Dino está incomodando diretamente uma parcela da classe política e dos endinheirados que lucram com o crime organizado.

O "fogo-amigo", propagado pela GloboNews, contra Dino teria partido de fonte(s) da mídia liberal, que pautaram os jornalistas sobre o caso da "dama do tráfico".

Em seu blog no jornal O Globo nesta quinta-feira, Malu Gaspar coloca todo o "fogo-amigo" em um pacote que une crime organizado, bolsonarismo e até mesmo uma ala do PT. Todos contrários à indicação de Dino à vaga de Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal (STF).

O lobby, que prefere a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias - que evita se pronunciar sobre a decisão, reservada a Lula, até nos círculos mais íntimos -, seria o responsável por repassar as informações sobre o factóide contra Dino. E, também, pela propagação de fake news sobre o caso.

Em seu tuite, Lula afirma que "não haverá recuos diante de criminosos e seus aliados, estejam onde estiverem, sejam eles quem forem". Diante da repercussão do caso e dos prováveis autores ocultos dos ataques, Lula deve mesmo encontrar e punir os culpados. Sejam eles quem forem.