MODA E POLÍTICA

Zara enfurece mundo árabe após chacota com palestinos

Marca espanhola, enlameada em polêmicas há anos, retirou do ar peças publicitárias que remetem ao massacre do Estado de Israel em Gaza  

Créditos: Instagram @zara - Campanha da rede espanhola causou revolta no mundo árabe e entre apoiadores da causa Palestina
Escrito en OPINIÃO el

A Zara mais uma vez chafurda na lama da falta de noção e da abundância de insensibilidade. A polêmica da vez é uma campanha publicitária com estátuas envoltas em branco e manequins sem membros. 

Nas fotografias, a modelo Kristen McMenamy está em um ambiente aparentemente em ruínas e manequins fragmentados. Em uma das imagens, ela aparece carregando nos ombros um manequim coberto com um tecido branco, de maneira semelhante ao modo como os palestinos transportam os mortos em Gaza.

Instagram @zara

As peças, no contexto do massacre perpetrado pelo Estado de Israel contra o povo palestino na Faixa de Gaza, enfureceu o mundo árabe.

Manifestantes se reuniram em frente a uma loja da rede espanhola de fast fashion na capital da Tunísia, Túnis, nesta segunda-feira (11). As pessoas, indignadas, cantaram e agitaram bandeira da Palestina. Uma das vitrines foi marcada com tinta vermelha. Assista ao vídeo.

Reprodução X - Vitrine marcada com tinta vermelha em Túnis.

Um vídeo que não identifica a cidade, afirma que há protestos nos quais pessoas jogam roupas em frente a uma Zara nos EUA.

 

Outro vídeo também sem informar a cidade também mostra manifestações contra a grife. 

A conta da Zara no Instagram foi inundada por dezenas de milhares de reclamações sobre a campanha. Os internautas apontaram que as imagens das peças publicitárias lembravam fotos de cadáveres em mortalhas brancas em Gaza. 

No X (antigo Twitter) a hashtag "#BoycottZara" foi parar nos assuntos mais comentados na na plataforma de mensagens.

"Mal entendido"

Trata-se do enésimo "caso isolado" no qual a Zara fomenta indignação mundo afora. Para refrescar a sua memória, preparei uma lista que segue abaixo neste texto.

Diante dos protestos em frente à loja física e nos perfis nas redes e da convocação de boicote aos seus produtos, como de praxe, a marca retirou a campanha publicitária do ar. 

Seis postagens que apresentavam a campanha “Atelier” foram apagadas da página do Instagram da Zara.

A dona da marca, a Inditex (ITX.MC) comentou que as fotos foram retiradas de todas as plataformas. A Zara já havia retirado a sessão de fotos do site e do aplicativo na segunda-feira.

A coleção "Atelier", de seis jaquetas, é uma das mais caras da Zara, custa de 229 dólares dos EUA (cerca de 1.137 reais) para um blazer de lã cinza com mangas grossas de malha, a  799 dólares dos EUA (cerca de 3.967 reais) para uma jaqueta de couro com tachas. As jaquetas ainda seguem à venda nos sites da marca.

A Zara informou em um comunicado publicado em sua conta no Instagram que a campanha, que também apresentava manequins sem membros, foi concebida em julho e fotografada em setembro, antes do conflito eclodir em outubro, e pretendia mostrar esculturas inacabadas no estúdio de um escultor.

O grito da empresa, no texto todo escrito em caixa alta, é uma sucessão de chavões cínicos, dignos da turma que comete atrocidades e depois tenta explicar o inexplicável: "foi mal, estava doidão". 

Na nota a Zara observou que "alguns clientes sentiram-se ofendidos com estas imagens" e que  "lamenta esse mal entendido".

Leia a nota na íntegra

Reprodução Instagram @zara

"Depois de ouvir os comentários sobre a última campanha da Zara 'Atelier', gostaríamos de compartilhar com nossos clientes:

A campanha, concebida em julho e fotografada em setembro, apresenta uma série de imagens de esculturas inacabadas no estúdio do escultor e foi criada com o único propósito de mostrar vestuários artesanais num contexto artístico.

Infelizmente, alguns clientes sentiram-se ofendidos com estas imagens, que agora foram removidas, e viram nelas algo longe do que se pretende quando foram criadas.

A Zara lamenta esse mal entendido e reafirma nosso profundo respeito por todos."

Estilista islamofóbica

Instagram @qaherhar

Em junho de 2021, o modelo palestino Qaher Harhash, conhecido por trabalhos com H&M e Yves Saint Laurent, divulgou em sua conta no Instagram prints de mensagens islamofóbicas recebidas de Vanessa Perilman, principal designer da linha feminina da Zara.

Nas mensagens, Perilman, entre outros comentários controversos, afirmou: "Se o seu povo fosse educado eles não explodiriam hospitais e escolas”.

A Zara emitiu comunicado no qual condenou as declarações da estilista e reafirmou seu compromisso com a diversidade e a não discriminação. Não houve desdobramentos. 

Zara zerou: acusação de racismo

Em outubro de 2021, a loja Zara do Shopping Iguatemi em Fortaleza (CE), passou a ser investigada por racismo após criar um código para alertar funcionários sobre a presença de clientes negros ou vestidos de forma "simples". 

O código "Zara zerou" era usado para monitorar essas pessoas consideradas fora do padrão da loja. A investigação começou após a delegada Ana Paula Barroso relatar ter sido vítima de racismo na loja, alegando ter sido barrada por um segurança. 

A Zara argumentou que a proibição ocorreu porque ela estava sem máscara e consumindo sorvete, mas houve relatos de tratamento diferenciado para clientes brancos. Imagens de circuito interno confirmaram o tratamento desigual. 

O gerente da loja foi indiciado por racismo e movimentos negros entraram com uma ação judicial pedindo indenização por dano moral coletivo. 

A Zara se pronunciou, enfatizando sua política de não discriminação e diversidade. Outras testemunhas e vítimas também relataram experiências semelhantes na mesma loja.

Trabalho análogo à escravidão

Bianca Pyl (via Repórter Brasil - Uma das oficinas da cadeia produtiva da Zara flagrada com trabalho escravo em 2011.

Em maio de 2014, a Zara admitiu a ocorrência de trabalho análogo à escravidão na fabricação de seus produtos em 2011. Foi a primeira vez desde que uma fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgatou 15 trabalhadores imigrantes costurando peças da marca em três oficinas terceirizadas, em maio e junho daquele ano, em Americana (SP) e São Paulo (SP).

Os representantes da marca, no entanto, insistiram que não tinham conhecimento sobre a subcontratação de oficinas promovidas por suas fornecedoras. A alegação é que quem teria obtido lucro com a exploração foi a intermediária, e não a marca. 

Em maio de 2015, a grife Zara foi autuada pelo MTE por descumprir o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2011 para corrigir condições degradantes que caracterizaram trabalho escravo na cadeia produtiva da empresa.

Dois anos depois, a Justiça decidiu que a Zara Brasil é a responsável pelo caso de trabalho análogo à escravidão registrado na cadeia produtiva da marca em 2011. A determinação da 4ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo foi divulgada em novembro de 2017. 

Pijama infantil do holocausto

Reprodução Zara

Em agosto de 2014, a Zara enfrentou polêmica ao vender um pijama infantil com listras escuras e uma estrela amarela de seis pontas, semelhante aos trajes dos deportados judeus durante o regime do III Reich. 

Inicialmente inspirada nos filmes de faroeste, a peça gerou controvérsia, especialmente após um site israel-palestino sugerir que o produto era direcionado especificamente aos consumidores israelenses. 

A Inditex, grupo que controla a Zara, respondeu rapidamente, retirando a peça de venda e esclarecendo que a inspiração veio das estrelas dos xerifes dos westerns, e não tinha a intenção de ser desrespeitosa. 

A empresa enfatizou o compromisso com o respeito e a dignidade e destacou a diversidade de nacionalidades e culturas entre seus funcionários. 

Maior roubo de salários da história

WRC - Mulheres em confecção na Índia

Em janeiro de 2022, o Worker Rights Consortium (WRC) classificou um episódio da indústria da moda indiana como "o maior roubo de salários já ocorrido". 

O relatório acusa fabricantes locais de não pagar o salário mínimo a mais de 400 mil trabalhadores desde 2020, com salários cerca de R$ 347,85 mensais. 

O caso envolveu grandes marcas como a Zara, H&M, Nike e outras, totalizando mais de 255 milhões em salários não pagos. 

As empresas responderam com promessas de exigir que seus fornecedores cumpram as leis trabalhistas, enquanto o WRC destaca a gravidade da violação dos direitos humanos.

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