OPINIÃO

Tragédia ceifa vida de torcedora do Palmeiras e debate público sobre violência no futebol é medieval

“Análise” de importante figura da imprensa esportiva culpa a vítima pela própria morte e ignora dois fatores essenciais para entender o tema: as contradições dentro das próprias torcidas e a elitização dos estádios

Gabriella Anelli, 23 anos, torcedora do Palmeiras morta durante confusão com flamenguistas em 9 de julho de 2023, em SP.Créditos: Reprodução /Redes Sociais
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No último sábado (8) os dois principais clubes do Brasil nos últimos anos, aqueles que somaram mais conquistas e têm jogado o melhor futebol, se enfrentaram no Allianz Parque, em São Paulo. Mas pouco se falou sobre a partida entre Palmeiras e Flamengo, que empatou em 1 a 1 com gols de dois dos seus principais ídolos, Dudu e Arrascaeta. O espetáculo, infelizmente, deu lugar à tragédia que pôs fim à vida da jovem torcedora Gabriella Anelli, palmeirense de 23 anos atingida na jugular por um estilhaço de garrafa de vidro atirado por torcedor rival. Um verdadeiro luto se instala na comunidade palmeirense ao longo desta semana, como é facilmente verificável, entre outros, nas redes sociais.

Gabriella era moça trabalhadora, moradora de Embu das Artes na Grande São Paulo, e tinha uma enorme paixão pelo Palmeiras – e quando dizemos “enorme” dentro desse assunto, falamos de algo colossal.

Ela estava com o namorado e com amigos em um bar na Rua Padre Antônio Tomás. A mesma via que dá acesso às piscinas do clube, aos camarotes da torcida alviverde e à torcida visitante – ora proibida em clássicos paulistas, em medida que busca suprimir o contraditório e o diferente – mas essa discussão fica para um próximo artigo.

A briga iniciou depois que flamenguistas chegaram ao local em quatro vans e trocaram xingamentos com os palmeirenses que estavam ali. Em vídeo, é possível ver Gabriella próxima da barreira metálica que separa as torcidas antes de ser atingida pela garrafa de vidro que lhe tirou a vida. Ela chegou a ir para um hospital em estado grave, mas não resistiu. Sofreu duas paradas cardíacas antes de falecer.

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O homem suspeito de ter lançado a garrafa foi preso em flagrante e logo solto, por falta de provas de que tenha sido, de fato, o autor do arremesso fatal – o que está correto, apesar da sanha punitivista que se registra em nossa sociedade, sobretudo em casos relacionados ao futebol.

Segundo o delegado César Saad, o suspeito assumiu o risco de matar e, por isso, responderá por homicídio doloso. "Ele arremessou uma garrafa, ele sabia que podia atingir o resultado morte e foi o que aconteceu," disse. Mas em depoimento à Polícia Civil, o torcedor flamenguista nega ter arremessado qualquer objeto de vidro para o lado dos palmeirenses e afirma ter revidado os ataques com pedras de gelo, que não chegaram a atingir a barreira.

Independente se foi esse rapaz ou não, é dever do Estado e descobrir a verdade. Descumprir essa obrigação é uma falta severa com ambas as torcidas e, sobretudo, com a família e os amigos da vítima que, a essa altura, ainda convivem com o inferno mental do luto precoce. Mas além disso, há uma série de questões a serem questionadas no que diz respeito à reação da sociedade em relação a este caso e outros semelhantes.

Debate público medieval mata a vítima pela segunda vez

Seu corpo mal esfriou e o apresentador Tiago Leifert vem a público em uma live para afirmar o seguinte: “Segundo a polícia militar, dois torcedores do Flamengo passaram por ali, começou uma briga e o estilhaço de vidro pegou nela. Ela é da Mancha Verde, não estava na bilheteria para entrar no estádio, estava do lado de fora junto com outros torcedores, gente de organizada que fica nas ruas para bater nas pessoas que passam. Se passar uma pessoa de vermelho no jogo contra o Flamengo, vão perguntar por quê. Quem é de organizada, assume um risco”.

Parênteses: a briga com os dois flamenguistas ocorreu depois que Gabriella já estava no hospital e Leifert se desculpou pela notícia mal dada. Mas essa não foi a única desinformação propagada por ele.

Para além do efeito vil de imputar à vítima a culpa pela própria morte “por ser de uma torcida organizada”, a fala simplesmente desinforma o público a respeito do que são as torcidas organizadas, de quem as compõem, e distancia dos debates em curso que buscam lidar com a gênese da violência registrada no futebol para, de alguma maneira, remediá-la.

Na sua ânsia criminalizadora – que não é apenas de Leifert, mas de toda uma gama de deformadores de opinião que buscam definir, biopolíticamente, o jeito “certo” de fazer as coisas; seja torcer, protestar ou realizar qualquer outra atividade – o apresentador simplesmente ignora as contradições que existem dentro das próprias torcidas organizadas.

Quando aponta que aquelas pessoas “só estavam a fim de confusão,” induz o público a ignorar o fato de que a maioria dessas pessoas que estão nas redondezas são alheias às grandes pancadarias. E mesmo dentro das torcidas organizadas, as emboscadas e “guerras” não são protagonizadas pela maioria dos seus associados, mas praticadas por grupos diminutos e equivocados mas não menos torcedores.

Ao contrário, torcedores organizados e comuns costumam povoar o entorno do Allianz Park (e de outros estádios pelo Brasil) simplesmente por não possuírem condições financeiras de bancar os pornográficos preços de ingressos do futebol brasileiro. A fala de Leifert ofende esses torcedores, que se encontram aos finais de semana para festejar o futebol quando estão de folga das lojas, call centers, aplicativos, salas de aula e quaisquer outros ofícios.

“Ninguém que está ali na rua ‘tá de bobeira’ [procurando briga]. Está ali porque quer estar perto do clube, quer estar ali porque não tem condições de pagar um ingresso caro. Mas quer viver, estar junto da torcida, da família, dos amigos. Não é para arrumar confusão, é para escutar um samba, gritar ‘vamos Palmeiras’ e, mesmo não entrando no estádio, poder passar uma vibração positiva. É isso que não entra na cabeça das pessoas na hora que vão falar em uma câmera. Fato é que ninguém quer arrumar confusão com ninguém, só queremos estar perto do time. Mas apenas 42 mil podem entrar no estádio. E o resto? Faz o que? E quando tem jogo de quarta-feira que não passa na TV aberta, só no maldito streaming? Faz como? Isso me revolta”, desabafou para este jornalista um torcedor palmeirense que não quis se identificar.

Torcidas organizadas e suas contradições

Sem romantismos, é claro que há pessoas violentas dentro das torcidas organizadas que protagonizam episódios lamentáveis. Da mesma maneira, há pessoas violentas dentro das próprias famílias. Basta observar os índices de maus-tratos a crianças ou de violência contra a mulher, por exemplo, para verificar o dado. No entanto, não se pede para “acabar com as famílias em nome da paz”, e nem se fala que “todo pai de família é um bárbaro agressor”.

Parênteses: não se trata de forçar uma falsa equivalência. A ideia é simplesmente apontar que vivemos, talvez em âmbito global, em uma sociedade extremamente violenta, mas não completamente violenta – e repleta de nuances. E assim o é, também, no futebol.

Como as próprias famílias, as Torcidas Organizadas são grupos grandes, heterogêneos, de adesão muitas vezes subjetiva, e surgidas no seio do povo brasileiro, sobretudo da juventude das classes trabalhadores urbanas. Como dito, há, sim, aqueles violentos. Mas as torcidas também são responsáveis, o que se expressa nas prática das massas que as compõem, pela festa dentro dos estádios, pelo apoio incondicional aos clubes em qualquer lugar do mundo, por carnavais e ações sociais.

Não raro vemos, em qualquer torcida organizada de qualquer clube, ações de doação de brinquedos, roupas, agasalhos, remédios e alimentos para populações vulneráveis. Invariavelmente vemos as torcidas organizadas oferecerem lazer, seja nas arquibancadas, nos sambas, festas nas sedes e em uma série de outras ocasiões, para a juventude históricamente negligenciada pelos pomposos “projetos de cidade” que nunca a levam em consideração.

Gabriella era uma dessas pessoas. Uma moça trabalhadora, apaixonada pelo seu clube, que gostava de festa, de diversão e da emoção que o seu Palmeiras lhe proporcionava. “Existem pessoas ali (torcidas organizadas) dentro que são negativas, mas a minha filha não, ela tinha vários amigos, fazia ações sociais, sempre ajudando, sempre amando o time dela. É lamentável o que aconteceu, tiraram a nossa menininha da gente”, disse Jucilene Prado Anelli dos Santos, a mãe de Gabriella, em vídeo de cortar o coração.

O pai, Ettore Marchiano Neto, confirma as palavras da mãe de Gabriella:“A diversão dela era praticamente essa [ir aos jogos], todos os finais de semana, as viagens que ela fazia”, declarou.

É incrível que em nenhum debate televisivo ou digital tenha sido levada em consideração a ideia de que jovens como Gabriella possam se reunir com segurança em um bar, próximo do time que torcem, para assistir a um jogo com um mínimo de segurança. Ao contrário, parece mais fácil colocar toda uma coletividade no mesmo saco da criminalização. Até proibição da cerveja pudemos ter a infelicidade de ler como proposta de reação à tragédia – às favas, inclusive, com os bares que pagam seus impostos e servem sua cerveja em copos de plástico.

Um pouco de história para um debate deveras atrasado

Como o torcedor brasileiro já sabe, Palmeiras e São Paulo se enfrentaram na final da Supercopa São Paulo de Juniores em 20 de agosto de 1995, no Pacaembu e, após a vitória da equipe alviverde por dois a um, com um Gol de Ouro na prorrogação, uma batalha campal ocorreu entre as torcidas e deixou 101 feridos e um torcedor são-paulino morto, Márcio Gasparin da Silva, de 16 anos.

Este episódio é emblemático quando se fala em violência com morte durante brigas entre torcidas no Brasil. Foi a partir daí que começaram as políticas proibicionistas em relação às torcidas organizadas e seus materiais que, ao invés de encerrarem a violência, tiveram o efeito reverso de espalhá-la e tirá-la do controle das próprias diretorias das torcidas. Paralelamente, corroía tudo aquilo que as torcidas poderiam apresentar de positivo.

Semanas antes do episódio do Pacaembu, na final do Campeonato Paulista de 1995, em Ribeirão Preto, entre Palmeiras e Corinthians, já havia tido uma briga de grandes proporções, inclusive televisionada. Naquele período, as brigas em estádios entre torcidas organizadas [o que não foi o caso de Gabriella], que haviam começado pra valer no final dos anos 80, tomavam proporções gigantescas. Mortos começavam a entrar na estatística e o Estado se viu obrigado a tomar providências. Muitos torcedores dizem, de forma enviesada, que a Batalha do Pacaembu teria sido uma armadilha para impor a agenda de proibições e criminalização das agremiações.

E a primeira medida adotada - a partir de pressão do então promotor público Fernando Capez - foi a extinção das torcidas organizadas envolvidas no episódio do Pacaembu. Mais tarde, o próprio Capez reconheceu o fracasso, uma vez que as torcidas passaram a se reunir com outros nomes. Além disso, a pedido da Polícia Militar que encontrava dificuldade em identificar os grupos organizados - que não usavam mais seu material e assim se espalhavam em grupos menores - a proibição caiu. Mas o pedido da PM vinha com um obrigatório cadastramento de todos os membros das torcidas.

É importante mencionar que no início dos anos 1990 houve uma grande ampliação das torcidas organizadas fundadas nas décadas anteriores. As principais agremiações passaram de dois ou três mil associados, para 20, 30 ou até 50 mil associados, o que, segundo torcedores mais velhos com quem conversamos, gerou um “choque na sociedade”. Principalmente nas autoridades, que quiseram então colocar limites ao poder das torcidas.

“Naquela época as torcidas estavam tomando proporções muito grandes, todas, não só a Mancha Verde, mas a Gaviões e a Independente também. A Mancha, em especial, tinha até projeto de convênio médico para associados”, exemplifica Luizinho, torcedor do Palmeiras que testemunhou a Batalha do Pacaembu, em matéria publicada por este jornalista no Brasil de Fato, em 2022.

O rápido crescimento das agremiações nos anos 90 se refletia nos estádios e nas ruas. E os problemas também começaram a aumentar, com brigas que escalavam para o uso de bombas caseiras e artefatos explosivos em geral. Mas ainda se concentravam em núcleos centrais dentro do próprio âmbito das organizadas.

Em 23 de janeiro de 1992 ocorreu o primeiro caso de um torcedor assassinado por uma torcida adversária dentro de um estádio no Brasil. Na ocasião, Corinthians e São Paulo se enfrentavam no Estádio do Nacional (Nicolau Alayon, na Barra Funda, em São Paulo), pela Copa São Paulo de Futebol Júnior, quando uma bomba caseira foi lançada, provavelmente da torcida são-paulina, e caiu sobre o corintiano Rodrigo de Gasperi, de apenas 13 anos. O garoto morreu seis dias depois. Como resposta, a FPF (Federação Paulista de Futebol) anunciou a primeira proibição de bandeiras com mastros, instrumentos musicais e fogos de artifício nos estádios. É claro que não resolveu o problema.

“Depois que lançaram essa primeira bomba na torcida do Corinthians, as brigas começaram a se tornar cada vez mais violentas. O que antes eram brigas ‘na mão’, coisas de moleques bagunceiros, com esse aumento passou a ficar mais perigoso, principalmente na periferia. Então você dizer: ‘sou da Gaviões, sou da Mancha, sou da Independente’ começou a gerar consequências maiores, o que de certa forma assustou as autoridades e culminou em 1995 na armadilha que as torcidas caíram”, argumentou o torcedor palmeirense.

Perguntado por que a briga do Pacaembu foi chamada de “armadilha” por ele, argumentou que um estádio em obras, sem policiamento, e com dois times que viviam um momento de muita rivalidade, já seriam motivos suficientes para que o Pacaembu fosse considerado uma armadilha e as autoridades tivessem algum plano para evitar uma tragédia. Ele tem uma percepção muito comum a outros torcedores do Palmeiras ouvidos na ocasião, integrantes da Mancha ou não, de que foi criado um ambiente para que essa violência fugisse do controle das próprias torcidas organizadas. E que quando as proibiram, teria sido também descartado o diálogo com suas lideranças mais tradicionais. E isso, aliado ao crescimento do número de associados, teria fortalecido as subsedes de bairros da capital e cidades do interior, que passaram a frequentar os jogos sem passar pelo crivo da sede central, ou passando por ele com mais folga. Em termos de violência, esse processo descentralizou o comando das torcidas, tornando-as incontroláveis pelas próprias sedes centrais e espalhou as brigas pela cidade de São Paulo, não mais restritas ao ambiente do estádio.

“Pulverizaram as lideranças que poderiam conter essa loucura, o poder de decisão acabou indo naturalmente para cada bonde de cada quebrada, e isso gerou muita discórdia interna e mais violência externa, porque agora podia vir de qualquer lado. A maneira que pensaram para acabar com isso chegou ao ponto que hoje em dia não temos mais festa como antes, clássico de visitante, fogos, nada. E apesar dessa elitização e ‘higienização’ que fizeram nas arquibancadas, a violência só aumentou”, refletiu o torcedor do Palmeiras.

Caminhos para se pensar no problema

Conforme o tempo foi passando, esse modelo criminalizador de multidões heterogêneas e “fiscal de bandeira” simplesmente faliu. E em todos os sentidos. É por isso que a fala de Tiago Leifert não é apenas um deslize, um erro ou um ato falho, mas nociva a uma vida saudável em sociedade.

É impressionante como pessoas com zero estudo sobre determinado tema querem comentar coisas tão importantes ao quente, que é justamente quando nos revelamos. Para pensarmos alguns caminhos de mitigação ou resolução do problema vejamos o que disse, um ano atrás, um dos maiores pesquisadores do tema no país, a este mesmo jornalista, na matéria supracitada.

Para o pesquisador Bernardo Buarque de Hollanda, do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, do departamento de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), não existe uma fórmula pronta para resolver um problema complexo como esse. Entretanto, começar a pensar soluções a partir de pontos de vista distintos do convencional, como fizeram os alemães, pode apontar um caminho.

“A situação vai ficando cada vez mais complexa e não existe uma solução que vá resolver a todos os problemas. Temos que levar essa complexidade a sério se quisermos encontrar uma maneira de lidar com essa questão, o que envolve articular as dimensões estrutural e conjuntural, repressiva e preventiva. Nesse sentido, delegar à Polícia Militar ou ao Ministério Público a resolução desse problema é uma solução cômoda, e basta ver como a polícia se comporta com bombas de gás lacrimogêneo e agressões, simplesmente dispersando a tudo e a todos que encontra pela frente ao sinal de alguma confusão. Não há um pensamento, uma ação coordenada, inteligente e preventiva por trás, que antecipe, previna, ou que crie diálogo. Nada. Além disso, é preciso combinar esse novo modus operandi com reeducação, o que ainda é tratado como um horizonte utópico devido às rivalidades futebolísticas. O ponto é que nada vai se resolver chamando a polícia, por isso que gosto de trazer à luz o exemplo alemão, onde se valorizou outras áreas para tratar a questão, como o serviço social e todo um conjunto de atores que não se restringe somente a polícia e torcida”, avaliou.

Bernardo Buarque de Hollanda então apontou que do ponto de vista geral existem basicamente dois tipos de atuação das autoridades. Uma mais punitiva, como vimos na Inglaterra após o desastre de Hillsborough em 1989, que deixou uma centena de torcedores do Liverpool mortos e que assim como no Brasil também acompanhou mudanças de infraestrutura nos estádios; e outro modelo, adotado na Alemanha, onde buscou-se preservar as associações de torcedores, desenvolvendo em paralelo um programa de resolução de conflitos entre os grupos.

“Quando vemos, por exemplo a ‘muralha amarela’ do Borussia Dortmund, sabemos que por trás dela existe uma concepção de que é necessária a continuidade da presença da torcida com seu aspecto efervescente e multicolorido nos estádios, inclusive para se contrapor a uma torcida que se dedica meramente ao confronto. Já o modelo Inglês, que foi o mais adotado, e que é mais fácil de ser adotado, é justamente o de criar mais restrições, punições, fazer doer na carne do clube a penalização, corresponsabilizá-lo, e assim por diante. Adotou-se essa segunda estratégia no Brasil. São medidas normativas gerais, que você aborda valendo para todos, e, como diria o mestre Maurício Murad, ‘quem pune a todos, não pune ninguém’”, afirma o pesquisador.

Em outras palavras, pensando no Palmeiras e Flamengo como exemplo, a solução não passa pela criação de uma mentirosa e inatingível “cultura de paz” em que palmeirenses e flamenguistas, rivais interestaduais históricos, entrem aos beijos e abraços nos estádios. Mas é, sim, possível, focar no aspecto lúdico e de paixão das torcidas, para desencorajar os grupos violentos, além de fazer um trabalho de prevenção também com o torcedor comum que evite os pequenos e descentralizados conflitos, como o que matou Gabriela.

Além disso, é importante que se pare de olhar para o jovem pobre como um mero baderneiro – que fica na porta do estádio “para arrumar briga” – e, no caso das pessoas que querem assistir aos jogos perto do estádio, dar-lhes segurança independente de serem organizadas ou não. No mundo real, inclusive, torcedores comuns e organizados também se misturam, mas aparentemente nossos deformadores de opinião não estão preparados para esse debate. É realmente medieval a forma como o tema é tratado por essas bandas.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.