O Guarujá, e outras localidades do litoral sul de São Paulo, tornaram-se palco de uma crescente ocorrência de violações de Direitos Humanos, especialmente no que diz respeito às mortes provocadas pela polícia na região sob o argumento de combate à criminalidade mas com claro objetivo de revide após a morte de um policial em serviço.
Essa questão alarmante levanta sérios questionamentos sobre a atuação das forças de segurança e a garantia da integridade e dignidade das pessoas que ali residem. Apesar dos “especialistas” de plantão insistirem que é um assunto para quem entende de segurança pública, fica claro, uma operação com um número equivalente de pessoas mortas e presas, teve tudo, menos inteligência.
O Estado deve investigar, prender e processar suspeitos de crime. Mas o que tem ocorrido é execução sumária e muito pior, pessoas que não estão sendo processadas por este mesmo Estado estão sendo executadas sob aplausos do comando.
O que mais impressiona é justamente a desfaçatez dos discursos do chefe do executivo estadual diante dos órgãos de impressa. Tarcísio “jura de pés juntos” que não há ocorrência de violações e que o trabalho da polícia (que em tese não é executar pessoas) tem sido conduzido de maneira primorosa.
Mas de onde vem essa banalização das execuções sumárias no discurso do Governador de SP?
Muita gente conhece Tarcísio de Freitas como o carioca que se tornou governador de SP. Alguns o idolatram por ser militar. O que muitos ignoram é que Tarcísio fazia parte do “time” de oficiais brasileiros sob o comando do General Heleno que estavam no Haiti quando da ocorrência de um dos maiores massacres pela missão de “pacificação” brasileira no Haiti.
Apesar de ter chegado após o fatídico 6 de julho de 2005, quando tropas da Missão de Estabilização da ONU no Haiti (Minustah) com cerca de 300 homens armados para guerra invadiram o bairro Cité Soleil em Porto Príncipe executando 63 pessoas, deixando outras 30 feridas e que futuramente foi objeto de uma denúncia na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) baseado em relatório elaborado pelo Centro de Justiça Global e da Universidade Harvard (EUA), Tarcísio figurou entre os grandes nomes da Minustah no Haiti sob o comando de Heleno.
O citado massacre desencadeou uma crise sem precedentes que culminou na retirada do comando do General Augusto Heleno ( e outros oficiais) pelo então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há quem diga ser esse o grande motivo dos rancores de Heleno.
Entretanto, outras tantas intervenções como essa trouxeram uma marca histórica para a campanha Brasileira no Haiti.
Em 1º de junho de 2022, ainda pré-candidato , Tarcísio declarou em um vídeo que missão de paz no Haiti é parecida com o dia a dia da polícia de São Paulo. Na ocasião sustentava que a experiência de enfrentamento no Haiti conferia conhecimento de causa para conduzir o trabalho policial em São Paulo.
Diante da “larga experiência” não se pode esperar que o chefe do executivo seja criterioso com a investigação das violações ou defensor de uma polícia menos letal. Bata analisar que a Minustah (tão defendida pelo governador quando em campanha ao cargo que ocupa) em 13 anos de atuação deixou um legado de pelo menos 30 mil mortes e mais de duas mil vitimas de crimes sexuais e demais violações de Direitos Humanos. Para Tarcísio, O Haiti é aqui.