Reportagem divulgada pelo site Metrópoles nesta quarta-feira (31) revela que a Polícia Federal (PF) teria colhido informações que mostram que Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e um jet ski não voltaram da declarada "pescaria" de Jair Bolsonaro (PL) durante a ação de busca e apreensão contra Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) na casa do clã na praia de Mambucaba, uma vila histórica de Angra dos Reis (RJ), ocorrida na segunda-feira (29).
LEIA TAMBÉM:
Carlos Bolsonaro: por que a PF deu bom dia ao filho de Bolsonaro mais próximo de Ramagem
FALA, ROVAI: Por que os Bolsonaro fugiram de barco?
Te podría interesar
Após revelação de que Bolsonaro e os filhos teriam fugido em embarcações pelo mar antes da chegada dos investigadores, a defesa do ex-presidente se apressou em dar a sua narrativa.
Às 11h36, Fabio Wajngarten, ex-Secretário de Comunicação (Secom) e advogado do ex-presidente, afirmou na rede X que "Bolsonaro saiu para pescar as 5:00 com filhos e amigos".
Te podría interesar
Em nota divulgada à noite, o mesmo Wajngarten, juntamente com os também advogados Paulo Amador da Cunha Bueno e Daniel Tesser, omitem o horário da "pescaria".
"Cumpre aclarar que no momento da chegada dos agentes da Polícia Federal na residência, o ex-Presidente e seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro, não estavam no imóvel, pois haviam saído cedo para pescar em local próximo. Ao tomarem conhecimento da busca que se realizava na residência do ex-Presidente, todos retornaram imediatamente para acompanhar e atender plenamente ao mandado judicial, prestando os esclarecimentos necessários e colaborando com os agentes policiais", diz o texto.
Em vídeo publicado nas redes sociais na madrugada desta quarta, o deputado federal Zucco (PL-RS), que estava com o clã, afirma que "em torno de 5h50 a gente saiu com tempo bom, mar calmo, sem vento" e complementa que "a gente usou barco, jet ski para fazer deslocamento marítimo".
Zucco afirma ainda que a pescaria foi combinada ao fim da live no dia anterior e que, na segunda, "somente 9h40 o advogado do presidente conseguiu entrar em contato relatando que uma equipe da PF estaria em sua residência", disse.
"O presidente, o Carlos foram na frente. Eu e o Flávio viemos um pouco atrás. O presidente chegou na casa por volta de 10h30", afirma.
Citando fontes da investigação, o Metrópoles diz que Bolsonaro saiu para pescar às 6h40. Com ele estavam além de Carlos, Flávio, Zucco e seguranças, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que também participou da live na noite anterior. O grupo teria usado dois jet skis e um barco para deslocamento.
Os agentes da PF teriam chegado à casa em Mambucaba, vindos de helicóptero do Rio de Janeiro, às 8h40. Eduardo teria voltado por volta das 9h30 para negociar o retorno de Carlos. Após as tratativas Carlos e Bolsonaro teriam retornado às 11h, acompanhados dos seguranças e do deputado Zucco.
O segundo jet ski e Flávio não teriam retornado na manhã. O senador teria alegado que foi a um almoço. A PF suspeita de que ele estaria ocultando provas.
O senador disse que não retornou pois teve que devolver o jet ski ao dono, o empresário Renato Araújo, lançado por Bolsonaro dias antes da operação como pré-candidato a prefeito de Angra.
"Eu não devia, mas vou explicar. Eu não voltei para a residência porque estava em um jet-ski que não era meu, que eu tinha que devolver para a pessoa no local que não era a Vila Histórica de Mambucaba. E depois fui para um almoço. E depois do almoço eu voltei para a residência na vila histórica de Mambucaba", disse Flávio.
Em publicação nas redes, às 17h12 - pouco mais de uma hora após Flávio dar sua versão -, Wajngarten mostra as duas moto aquáticas na garagem de Bolsonaro e diz que o segundo jet ski, que estaria com Flávio, "retornou posteriormente para o mesmo endereço em Mambucaba, aonde se encontra desde o início da estada do Presidente na região".
"Arrumando novamente a bagunça de fake News: o Presidente @jairbolsonaro saiu para pescar com filhos e amigos as 5:50 de 2feira, com um bote e 2 moto aquáticas ( jetski). Assim que recebeu a notícia da ação policial em desfavor de seu filho Carlos, ambos retornaram imediatamente com um dos jets. O outro jet retornou posteriormente para o mesmo endereço em Mambucaba, aonde se encontra desde o início da estada do Presidente na região. É completamente absurda qualquer ilação destoante da versão acima", escreveu Wajngarten.
Segundo Metrópoles, o ex-Secom teria dito que chegou às 12h45 no local e encontrado Flávio Bolsonaro. O senador, no entanto, alega que saiu para um almoço após devolver a moto aquática e só retornou à tarde.
Diante dessas narrativas, 10 pontos sinalizam que Bolsonaro teria fugido de barco e teria conhecimento prévio da operação. Vamos a eles:
- Na operação do dia 25, a PF encontrou com Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin, computadores e celulares que pertencem à agência;
- Os investigadores apuram se Ramagem seguia recebendo informações da Abin mesmo após deixar órgão. Há suspeitas de que essas informações seriam repassadas a Carlos Bolsonaro;
- Ramagem se encontrou com o atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa. As suspeitas de que ele teria recebido informações sobre a investigação fez com que Lula demitisse o número 2 da agência, Alessandro Moretti, que já havia trabalhado com Anderson Torres e era considerado bolsonarista por interlocutores do Planalto;
- Um dia antes da ação contra Ramagem, Bolsonaro divulgou um tuite misterioso em que dizia que "vivemos momentos difíceis, de muitas dores e incertezas" e que "as próximas semanas poderão ser decisivas". A publicação sinaliza que a operação pode ter sido vazada;
- O desencontro de informações sobre a "pescaria" do clã pouco antes da chegada da PF na casa de Mambucaba. Nem mesmo as pessoas que participaram do evento sabem precisar o horário exato que o ex-presidente e os pescadores embarcaram e saíram para o mar. E nem a hora exata e quem retornou à casa;
- Eduardo Bolsonaro ficou na casa ou estava com os irmãos na pescaria? Até o momento ninguém do clã se pronunciou se o filho "03" saiu para pescar ou não;
- A narrativa sobre um dos jet skis e de Flávio Bolsonaro, que não teriam retornado junto com Bolsonaro, Carlos e a comitiva da pesca. Após o senador afirmar que devolveu a moto aquática ao dono, Wajngarten divulgou foto com os dois jet skis na garagem da casa do clã;
- O silêncio de Bolsonaro sobre a pescaria e o papo de maluco do ex-presidente com apoiadores para atacar a PF no caso da ‘Abin paralela’;
- A narrativa de vitimização do clã Bolsonaro e a reação enérgica logo depois convocando novo ato golpista, sem explicar de forma direta o que realmente teria acontecido durante a pescaria (aliás, cadê os peixes?). Além disso, o incitamento ao ódio contra a jornalista Daniela Lima, da GloboNews, que divulgou a informação sobre a suposta fuga;
- A possibilidade de Carlos ter usado justamente a casa em Mambucaba para esconder provas sobre a Abin Paralela após ação contra Ramagem. O local está no nome do pai e, caso ele não estive por lá, os agentes da PF não poderiam realizar a busca e apreensão no local.