OPINIÃO

Seguindo a tradição, PCO defende Neymar em discussão sobre privatização das praias

Segundo o PCO, a “esquerda pequeno burguesa” – fazendo coro com a imprensa burguesa e com capitalistas do futebol europeu que querem dominar o futebol brasileiro – tem “tara por criticar Neymar”.

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Doutor em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professor da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Especialista em Jornalismo pela Faculdade Iguaçu (FI). Autor de quinze livros, entre eles "A ideologia dos noticiários internacionais" (Editora CRV).
Seguindo a tradição, PCO defende Neymar em discussão sobre privatização das praias
Neymar e o símbolo do PCO. Reprodução / Lucas Figueiredo CBF

A PEC 3/22, relatada por Flávio Bolsonaro, que transfere a propriedade dos terrenos do litoral brasileiro do domínio da Marinha para estados, municípios e proprietários particulares, abrindo brecha para a privatização das praias, tem movimentado o debate político nacional.

Nas redes sociais, as discussões sobre a PEC 3/22 foram marcadas pela “treta” envolvendo a atriz Luana Piovani (contrária à privatização das praias) e o jogador Neymar (que, por interesses econômicos, é favorável à PEC 3/22). Embora não se trate de uma pessoa progressista, nesse caso, a esquerda, por uma questão de princípios, saiu em defesa da atriz e repudiou o posicionamento do atacante do Al-Hilal.

No entanto, houve uma voz dissonante. Seguindo a tradição de defender bolsonaristas, o Partido da Causa Operária (PCO) se manifestou em favor de Neymar. Em postagem no X, o presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, cuja opinião deve ser seguida fidedignamente por todos os seus militantes, apontou que “há uma marcação em cima do jogador. O Neymar se transformou num judas de malhação da esquerda brasileira. Ele não está fazendo lobby no Congresso. Ele está construindo um condomínio, inclusive começou antes da lei da privatização. O problema todo é a marcação em cima do Neymar”.

Além do trecho acima, que resumiu as duas únicas funções do PCO no debate político brasileiro, isto é, defender a extrema direita e atacar a esquerda, Rui argumentou que a esquerda “não falou nada” sobre a deputada federal Maria do Rosário ter se oposto ao veto do presidente Lula às “saidinhas”, sobre Alberto Cantalice defender a instituição da prisão perpétua e sobre o Eduardo Leite, “que colocou centenas de milhares da rua da amargura”.

Apesar de uma coisa não ter nada a ver com a outra, ou seja, criticar Neymar não significa, necessariamente, defender as posturas de Maria do Rosário, Cantalice ou Leite; só para nos atermos ao último exemplo, desde que chegaram as primeiras notícias sobre a tragédia gaúcha, a esquerda tem frequentemente denunciado e apontado a política neoliberal de Eduardo Leite como principal fator que explica a situação adversa do Rio Grande do Sul.

Mas, como Rui Costa Pimenta cria sua própria realidade, em que a esquerda brasileira está sempre equivocada, provavelmente não se deu conta dessa postura crítica de políticos e imprensa progressistas.  

Ainda segundo o PCO, a “esquerda pequeno burguesa” – fazendo coro com a imprensa burguesa e com capitalistas do futebol europeu que querem dominar o futebol brasileiro – tem “tara por criticar Neymar”.

Sobre esta questão, vale a pena resgatar as duas maiores críticas feitas pela esquerda ao jogador, antes do atual debate sobre a PEC 3/22. Em 2020, no auge da pandemia da Covid-19, quando havia a necessidade de manter o distanciamento social para evitar a rápida propagação do novo coronários entre a população, Neymar promoveu uma festança para cerca de 500 convidados, em uma mansão em Mangaratiba (RJ). Dois anos depois, na eleição presidencial, ele declarou apoio a ninguém menos do que Jair Bolsonaro. Naturalmente, a esquerda abominou as duas posturas.

Porém, o PCO aplaudiu o Menino Ney em ambos os casos, pois também é negacionista e vive flertando com a extrema direita em busca de engajamento digital. No partido, a figura de Neymar só está abaixo de Rui Costa Pimenta no quesito “reverência”.

Por fim, é importante ressaltar que um dos principais ataques do PCO à esquerda brasileira, como já dito, é acusá-la de “fazer coro com a imprensa burguesa”. Pois bem, quem também defendeu Neymar recentemente foi a Folha de São Paulo. Conforme matéria publicada no jornal, na terça-feira (4/6), “não há evidências de que Neymar apoie a 'PEC das Praias', ao contrário do que diz Luana Piovani”.

Quem diria! O PCO, que gosta de se vender como “esquerda raiz”, fazendo coro com a “burguesa” Folha de São Paulo.

*Francisco Fernandes Ladeira é doutorando em Geografia pela Unicamp

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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