De LISBOA | O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, teve a desfaçatez de aparecer em Nova York, na sede da ONU, para discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta sexta-feira (27). Por determinação sua, o país que governa vem espalhando um morticínio pelo Oriente Médio, deixando um rastro de sangue e destruição em vários países que ele classificou em sua fala como “a rota da maldição”.
Quando foi anunciado e se dirigiu ao púlpito, a maior parte das delegações diplomáticas deixou o plenário em sinal de protesto. Até uma vaia e gritos insultuosos foram ouvidos contra o homem que age como um selvagem diabólico lançando mísseis ultramodernos contra locais cheios de civis, em plena luz do dia, explodindo milhares de mulheres, crianças e idosos.
É necessário frisar que Israel tem o tal direito de defesa contra agressões, em que pese o fato de ocupar territórios onde outro povo já estava estabelecido, mas a forma horrenda, covarde e desproporcional como age, ignorando pessoas comuns e lugares onde há apenas civis inocentes, colocou praticamente todo o mundo civilizado em posição contrária a seus feitos. Claro, Netanyahu tem “aliados”, mas as aspas mostram que países como os EUA e alguns membros da União Europeia vêm fazendo um malabarismo para defender essas atitudes macabras e desumanas, gerando até críticas e ataques por parte de quem deveria apoiá-lo, ainda que não façam nada além de manifestarem esse tímido descontentamento.
E por falar nos EUA, que vivem um período eleitoral acirrado e um problemaço com a guerra na Ucrânia, é possível dizer que o discurso do premiê israelense esta tarde soou como um atestado de otário. Os norte-americanos são os fiadores e fiéis escudeiros do Estado judeu e isso remonta tempos passados, desde a criação de Israel. Ainda financiam sua máquina de guerra de última geração e se colocam no personagem do amigo forte e valentão que “garante” o fracote folgado na escola. A maior potência econômica e militar do mundo está numa enrascada e cada vez mais desautorizado e impotente diante das ações de Netanyahu, para quem já deu o recado direto que aquilo precisa parar. Ele dá de ombros, dobra a aposta e segue matando. É preciso lembrar que Washington é o patrão de Telavive, não o contrário.
“Meu país está em guerra, lutando por sua vida. Devemos nos defender desses assassinos selvagens. Nossos inimigos buscam não apenas nos destruir, eles buscam destruir nossa civilização comum e nos devolver a uma era sombria de tirania e terror”, disse Netanyahu. Há uma verdadeira paleta de absurdos e incoerências em tal alegação, e podemos citar como exemplo a Arábia Saudita, um país de regime ditatorial, com uma sociedade sob o jugo de um fundamentalismo religioso intragável, mas que foi chamada de “aliada árabe” no mesmo discurso, por puro comodismo e oportunismo.
A fala de Netanyahu no ponto mais destacado do grande salão onde as nações deveriam se congregar para promover a paz, em termos práticos, não mudou em nada a realidade que se passa no Oriente Médio e que pode escalar para uma guerra total. A bola está com o Irã também, atacado e injuriado pelo líder israelense do alto da tribuna, e que tem em suas mãos duas possibilidades: seguir tentando contornar os ataques avassaladores que comprometem a capacidade militar de seus aliados e satélites, ou entrar de cabeça num caminho sem volta que levaria igualmente a um morticínio dentro do território do Estado judeu.
Até aqui, segue a apreensão. De novo, só mesmo a cara de pau de Netanyahu de tentar justificar ao mundo seus crimes indescritíveis e ininterruptos.