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Eu, Iluminati, por Carlos Castelo

A mensagem começava com "Saudações, irmão iluminado". Ora, até onde sei, meu grau de iluminação se limita à luz fria da tela do notebook e ao abajur do quarto

Escrito en Opinião el
Piauiense, de Teresina, e reside em São Paulo desde os três anos de idade. Além de cronista e frasista juramentado, é sócio-fundador do grupo de humor Língua de Trapo.
Eu, Iluminati, por Carlos Castelo
O símbolo dos Iluminati. Pinterest

Vira e mexe, recebo e-mails de um certo Peter Smith. Nome tão genérico que cheira a disfarce. Ele sempre me convida para integrar a seleta organização dos Iluminati. No primeiro e-mail, pensei que fosse spam. No segundo, duvidei da origem. No terceiro, comecei a achar que talvez o destino do mundo ocidental realmente dependesse de mim, e que os senhores das sombras haviam finalmente percebido o meu potencial.

A mensagem começava com "Saudações, irmão iluminado". Ora, até onde sei, meu grau de iluminação se limita à luz fria da tela do notebook e ao abajur do quarto que pisca quando chove. Mas confesso que a saudação mexeu comigo. "Irmão iluminado", que coisa mais bonita. Soa como se eu tivesse uma aura feita de lâmpadas de LED em cima do cocuruto.

Peter explicava que os Iluminati buscam mentes excepcionais para unir-se em prol da Nova Era da Razão. Achei um pouco pretensioso, mas, convenhamos, toda seita tem esse discurso. Fiquei imaginando o formulário de inscrição: nome, e-mail, CPF e qual seu plano para a dominação global?

Na minha cabeça, já me via participando das reuniões secretas. Uma sala subterrânea, paredes de pedra, túnicas pretas e uma mesa redonda (porque, claro, tudo que é misterioso acontece em mesas redondas). Lá estaria eu, entre Elon Musk e uma múmia egípcia ressuscitada, discutindo os rumos do planeta.

- Irmãos iluminados, eu diria, ajustando minha capa, proponho que mudemos o algoritmo do Instagram para favorecer fotos de porquinhos da índia pensativos.

Mas logo percebi o peso da responsabilidade. Ser um Iluminati não deve ser brincadeira. Deve haver uma cota mínima de conspirações para cumprir por mês. Um relatório trimestral sobre quantas vezes você conseguiu manipular o preço do petróleo. E as reuniões devem ser longuíssimas, com aquele tipo de gente que começa as frases com "se vocês soubessem o que eles estão tramando…".

Mesmo assim, a ideia não me largava. Passei a olhar o mundo de outro jeito. Cada símbolo no dólar, cada pirâmide, cada triângulo em logotipo de pizzaria parecia um recado cifrado para mim. Quando a campainha tocava, eu já imaginava: "Chegou o mensageiro dos Iluminati!". Era o zelador entregando a conta de luz, claro, mas quem garante que ele também não fosse um infiltrado da seita?

Ainda não respondi a Peter Smith. Mas deixei o e-mail marcado como importante. Vai que o cara não é fake, me descola um crachá, e um plano odontológico premium? Nunca se sabe.

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