Boulos ministro: Lula leva força das ruas ao Planalto para enfrentar Centrão e bolsonarismo
Lula decidiu levar Boulos ao Planalto após as eleições municipais de 2024, quando enfrentou as máquinas de Ricardo Nunes e Tarcísio de Freitas - além do fascismo extremo de Marçal. Agora a missão visa combater o ódio nas ruas, nas redes e no Congresso até a disputa presidencial em 2026.
O decreto publicado na edição desta terça-feira (21) do Diário Oficial da União com a nomeação de Guilherme Castro Boulos (PSol-SP) para o lugar de Márcio Macedo como ministro de Estado da Secretaria-Geral da Presidência é fruto de longas conversas entre Lula e o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Alçado à Câmara Federal com mais de 1 milhão de votos do conservador eleitorado paulista, Boulos disputou uma prévia de 2026 nas eleições na capital do Estado no ano passado, quando obteve mais de 2,3 milhões de votos no segundo turno ao enfrentar as máquinas municipal, de Ricardo Nunes (MDB) - do grupo de Michel Temer (MDB) -, e estadual, de Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos). Além do fascismo bolsonarista elevado ao extremo, com Pablo Marçal (PRTB).
Há tempos, Lula enxergava seu reflexo em Boulos, chegando a confidenciar que gostaria de ter seu legado levado adiante por ele. Nas eleições municipais de 2024, em meio à multidão levada à Paulista no final do primeiro turno, o presidente enxergou Boulos com novos olhos, que remetiam ao final dos anos 1970, quando seu discurso em um megafone, de cima de uma mesa de bar, ecoava pela voz dos trabalhadores no estádio municipal da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo.
As conversas com Lula, aprofundadas durante a disputa paulistana, foram em grande parte transcritas por Boulos no livro "Para Onde Vai a Esquerda", em que faz uma análise do recrudescimento do fascismo e propõe medidas para levar novamente o povo às ruas e, principalmente, às redes para fazer o enfrentamento.
Após a campanha, Lula já sinalizava que levaria Boulos para uma experiência no Executivo, como ministro de Estado. Mas o presidente ainda lhe confiaria uma última missão.
Foi, então, que o deputado pegou a estrada para se aproximar ainda mais do povo e dos movimentos sociais com a finalidade de organizar o "contra-ataque" e mobilizar a esquerda rumo a 2026.
Nos últimos meses, Boulos passou por cidades em 15 estados. Conversou com sindicatos, movimentos sociais, ativistas culturais e militantes. Ouviu e foi ouvido. Organizou uma rede virtual para enfrentar, desde já, as fake news e o ódio.
O resultado, em grande parte, foi visto nos atos que levaram milhões de brasileiros às ruas por todo o país contra a PEC da Bandidagem - que expôs de forma vexatória o conluio entre bolsonaristas e Centrão na Câmara Federal.
Diante da posição do Centrão de se aliar ao bolsonarismo em sua nova face e alçar Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) como candidato anti-Lula da terceira via - consórcio que une o fisiologismo político à Faria Lima e mídia liberal -, Lula decidiu levar Boulos e a força das ruas para dentro do Planalto.
A decisão de Lula leva em conta a estratégia articulada por Tarcísio, Bolsonaro, Ciro Nogueira (PP-PI), Valdemar da Costa Neto (PL), Antônio Rueda (União), Marcos Pereira (Republicanos), Aécio Neves (PSDB) e Temer, de ressuscitar o velho método Eduardo Cunha de instalar pautas-bombas no parlamento para implodir as contas públicas, visando o ano eleitoral.
Em conversa com Costa Neto, presidente do PL, nesta segunda-feira (20), Bolsonaro determinou que seja feito um acordo em torno do chamado PL da Dosimetria, para evitar que ele cumpra pena de 27 anos e 3 meses de prisão na Papuda, em troca da adesão da bancada bolsonarista às bombas para o governo no Congresso. O objetivo é inviabilizar novos projetos sociais, que podem selar a reeleição de Lula ao quarto mandato.
Como ministro, Boulos terá a missão de organizar uma frente para combater achaques do Centrão e do bolsonarismo no Congresso Nacional. E, para isso, vai usar aquilo que os políticos do velho campo fisiológico mais temem: o povo nas ruas.