Vida e finitude

“Caramelo”: filme da Netflix reafirma a diversidade e excelência do cinema brasileiro

O longa-metragem mais visto da plataforma de streaming entrega uma história tocante sobre amizade e a finitude da vida

Escrito en Opinião el
Jornalista (USJ), mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP) e doutor em Ciências Socais (PUC-SP). Professor convidado do Cogeae/PUC e pesquisador do Núcleo Inanna de Pesquisas sobre Sexualidades, Feminismos, Gêneros e Diferenças (NIP-PUC-SP). É autor do livro “A construção da heternormatividade em personagens gays na televenovela” (Novas Edições Acadêmicas) e um dos autores de “O rosa, o azul e as mil cores do arco-íris: Gêneros, corpos e sexualidades na formação docente” (AnnaBlume).
“Caramelo”: filme da Netflix reafirma a diversidade e excelência do cinema brasileiro
“Caramelo”: filme da Netflix reafirma a diversidade e excelência do cinema brasileiro. Divulgação/ Netflix

Desde que “Ainda Estou Aqui” (2024) trouxe o Oscar de Melhor Filme Internacional para o Brasil, virou lugar-comum afirmar que o cinema brasileiro vive um grande momento. E isso é pura verdade. Basta lembrar de alguns títulos recentes: “Homem com H”, “Outra Vez Oeste”, “O Último Azul” e “O Agente Secreto”, que já é destaque internacional.

Esse bom momento do cinema brasileiro se consolida ainda mais com o sucesso estrondoso de “Caramelo” (2025), dirigido por Diego Freitas e estrelado por Rafael Vitti, que está há duas semanas entre os mais vistos do Brasil e no Top 3 Global da Netflix. Hoje, o longa é a produção de língua não inglesa mais assistida da plataforma.

“Caramelo” é um grande filme — e não é à toa que esteja fazendo tamanho sucesso entre públicos variados. A partir de uma fórmula clássica do cinema — a história com cachorros —, o longa entrega uma narrativa profunda sobre amizade e a finitude da vida.

Ascensão e queda

A trama de “Caramelo” parte de uma premissa simples: Pedro (Rafael Vitti) é um chef que acaba de conquistar o comando de um restaurante. No entanto, ele recebe o diagnóstico de um câncer grave. Ao mesmo tempo, encontra um cachorro abandonado e decide adotá-lo. Posteriormente, dá-lhe o nome de Caramelo.

Com esse ponto de partida, o roteiro de “Caramelo”, assinado por Diego Freitas, Rod Azevedo e Vitor Brandt, faz uma profunda reflexão sobre a finitude da vida e como, às vezes, é preciso uma notícia devastadora — um estado de quase-morte — para olharmos para o lado e revermos o que realmente importa. É o que acontece com Pedro, que acaba encontrando as pessoas certas pelo caminho.

Ao adotar Caramelo, Pedro conhece Camila (Aianne Botelho), que gerencia um abrigo e escola para cães ao lado de Luciana (Noemia Oliveira).

Já nas sessões de quimioterapia, Pedro conhece e desenvolve uma profunda amizade com Léo (Bruno Viinicius), que enfrenta o câncer há anos.

Importante destacar que todos os personagens são muito bem construídos e possuem funções centrais na trama — definindo o tom da nova etapa da vida de Pedro.

Com esse novo universo ao redor do protagonista, “Caramelo” — que tem direção e fotografia deslumbrantes — mergulha na odisseia existencial de Pedro, que passa a viver entre a vida e a morte, entre não adiar mais os sonhos e aprender a permanecer no aqui e agora.

“Caramelo” consegue mesclar com maestria o drama e a comédia, sem nunca fugir de seu tema central: a morte. E faz isso sem apelar, deixando tudo fluir de maneira poética e emocionalmente honesta.

Cabe aqui um destaque especial para a mãe de Pedro, Neide, magistralmente interpretada por Kelzy Ecard. Aliás, todo o elenco de “Caramelo” está espetacular — impressiona a preparação e a entrega dos atores.

O grande momento do cinema brasileiro

“Caramelo” é um grande filme brasileiro — e não será esquecido. Pelo contrário, é o tipo de obra que entra para o imaginário do país e será reexibida ad infinitum.

De fato, estamos vivendo um tempo de ouro do cinema brasileiro — e isso se comprova quando temos “Caramelo” e “O Agente Secreto” como obras contemporâneas e de sucesso internacional. Não é pouca coisa — e coloca o cinema produzido no Brasil em outro patamar.

 

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