OPINIÃO

Leitura corporal e imaginação: o desespero de Eduardo Bolsonaro na narrativa sobre Lula e Trump

Sem lacrações de Trump, que teve gracejos cortados por Lula diante dos jornalistas, Eduardo Bolsonaro "censurou" fala de presidente dos EUA em narrativa desesperada para que não seja mandado de volta ao Brasil.

Escrito en Opinião el
Jornalista, editor de Política da Fórum, especialista em comunicação e relações humanas.
Leitura corporal e imaginação: o desespero de Eduardo Bolsonaro na narrativa sobre Lula e Trump
Eduardo Bolsonaro participa, dos EUA, de comissão na Câmara; Trump e Lula se encontram na Malásia. Renato Araújo Ag. Câmara / Ricardo Stuckert

O respeito demonstrado por Donald Trump por Lula - expresso em vídeo divulgado nas redes sociais pelo perfil da Casa Branca - durante a reunião entre os dois líderes neste domingo (26) em Kuala Lumpur, na Malásia, colocou a estratégia conspiracionista de Eduardo Bolsonaro (PL) em xeque e agora o filho "03" de Jair Bolsonaro (PL) deve focar mais em salvar a própria pele, evitando uma deportação dos EUA que o colocaria, juntamente com o pai, a caminho do Complexo Prisional da Papuda, caso tenha que retornar ao Brasil.

Diante dos jornalistas, Lula encerrou a entrevista quando Trump já ensaiava gracejos, reclamando das "perguntas meio chatas" dos repórteres, que costumeiramente viram lacrações nas redes sociais. Dessa forma, Lula conduziu o encontro para o que queria: uma reunião em que pudesse tratar de tudo, inclusive das absurdas narrativas em torno do processo e da condenação de Bolsonaro, narradas por Eduardo como "perseguição" ao clã.

De portas fechadas, Trump seguiu com a postura de respeito e perguntou a Lula sobre quanto tempo o presidente teria ficado preso no lawfare da Lava Jato. Lula aproveitou a deixa, lembrou os 580 dias da injusta prisão, e falou da Justiça brasileira que o permitiu desmascarar a farsa.

Trump demonstrou empatia e falou sobre a própria história recente, quando também superou quatro processos criminais, entre eles a invasão do Capitólio em 2021, antes de retornar à Casa Branca.

A sinergia no assunto fez com que a narrativa em torno da "perseguição" a Bolsonaro fosse tratada "muito lateralmente", como afirmou o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Rosa, que participou do encontro, em entrevista ao lado do chanceler Mauro Vieira.

"O [que o] presidente Lula utilizou com o exemplo é a injustiça da aplicação da Lei Magnitsky em relação a algumas autoridades, como do Supremo Tribunal Federal (STF), o quão injusta é essa medida em relação a esses ministros porque respeitou-se o processo legal e não há nenhuma perseguição política ou jurídica", disse o assessor de Geraldo Alckmin, sobre o encadeamento do assunto a portas fechadas.

Leitura corporal, imaginação e "censura"

Com portas cada dia mais fechadas na Casa Branca - especialmente no Departamento de Estado, de Marco Rubio, que participou da reunião e obedecerá as ordens de Trump na negociação -, Eduardo Bolsonaro mostrou desespero para tentar emplacar uma narrativa sobre o encontro que incitasse a horda bolsonarista nas redes.

Rapidamente, divulgou um vídeo em que "censura" a curta declaração de Trump sobre o pai, trocando a frase "sempre achei que ele era um cara honesto" - que desdenha da própria narrativa levada pelo clã à Casa Branca - "sempre o considerei um negociador duro".

O "03" ainda tentou emplacar a narrativa de que Lula teria ficado "incomodado" - propagada pelos aliados mais radicais nas redes. No entanto, forçou os apoiadores a usarem a imaginação, já que não tinha quaisquer informações sobre os bastidores do encontro. "Imagine o que foi tratado a portas fechadas?", indagou.

A tentativa, no entanto, se mostrou pouco eficaz diante dos fatos, de que a reunião teve resultados concretos, inclusive com a possibilidade de suspensão do tarifaço e das sanções a Alexandre de Moraes e autoridades durante as tratativas imediatas entre os dois países.

Desesperado e sem as falas "lacradadoras" de Trump, Eduardo então apelou para que os seguidores radicais fizessem a "leitura corporal" dos dois presidentes e apelou justamente àquilo que foi tema da conversa entre os dois líderes: a empatia por superarem questões judiciais e voltarem à Presidência.

"Interessante laço entre Trump e Bolsonaro é a empatia: a capacidade de Donald Trump se colocar no lugar de Jair Bolsonaro e imaginar que, quando sair da presidência, Lula e sua equipe apoiarão a lawfare que certamente Trump sofrerá. Faça a leitura corporal", implorou Eduardo, que agora deve seguir de joelhos para que Trump não o mande de volta ao Brasil, como tem feito com milhares de latino americanos considerado um incômodo pelo presidente dos EUA.

 

Logo Forum