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Milei surpreende - Por Emir Sader

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Emir Sader é sociólogo, cientista político e atuou como professor da USP, Unicamp, Uerj e como pesquisador do Centro de Estudos Socioeconômicos da Universidad de Chile, além de autor de várias obras sobre o tema.
Milei surpreende - Por Emir Sader
Javier Milei. STRINGER / AFP

Ele já estava sem maioria no Congresso. Estava limitado no que poderia fazer. Mas, com sua obsessão pelo Estado mínimo – chegou a dizer que “entre o Estado e a máfia, prefere a máfia” – fez todo o possível: privatizando tudo o que podia e que não dependia do Congresso.

As eleições locais deste ano já davam um resultado desfavorável ao governo. As previsões não eram boas para Milei. O clima geral era desfavorável ao governo, especialmente com as denúncias de corrupção da sua irmã, personagem forte do governo.

Mieli fez tudo o que podia para tentar reverter a situação ou, pelo menos, melhorar seus resultados. Conseguiu um grande empréstimo com Donald Trump mesmo se este declarou que, conforme fossem os resultados destas eleições, não poderia seguir apoiando ao governo argentino. Por outro lado, Milei retomou a velha cantilena do fantasma do retorno do peronismo, valendo-se do favoritismo claro do governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, para se tornar o próximo presidente do país.

Estas eleições renovam apenas uma parte da Câmara e do Senado, mas que poderiam aumentar ou diminuir o isolamento parlamentar do governo.

Já a oposição lutava em duas frentes: contra o governo e contra a abstenção. Nesta segunda frente, perdeu: se deu o maior nível de abstenção desde o retorno da democracia.

Para a surpresa geral, o partido de Milei conseguiu uma vitória de 8 milhões para 5 milhões na província de Buenos Aires, em que o peronismo contava com vitória importante. Da mesma forma nas principais províncias, como Mendoza, Santa Fé e Cordoba.

Provavelmente não daria para Milei recuperar a maioria no Congresso, mas foi suficiente para mostrar a Donald Trump um resultado positivo.

Mas os meios de comunicação declaram “categórico triunfo do governo”. Difícil de explicar, quando a situação econômica nunca foi tão ruim, com a inflação controlada, mas com um nível de recessão, de fechamento de empresas e de desemprego recorde.

A frente de governadores de província, que tiveram um mal resultado com sua lista própria, provavelmente vai se aproximar mais do governo, frente à força que o Milei demonstra.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum

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