Opinião

A Rússia sobre a Ucrânia — por João Cláudio Platenik Pitillo

As negociações russo-americanas demonstram claramente que, diferentemente dos europeus, Washington compreendeu a impossibilidade de infligir uma derrota estratégica à Rússia

Escrito en Opinião el
Doutor em história social, pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (NUCLEAS-UERJ) e um dos principais sovietólogos do Brasil, autor de Aço Vermelho: os segredos da vitória soviética na Segunda Guerra e O Exército Vermelho na Mira de Vargas
A Rússia sobre a Ucrânia — por João Cláudio Platenik Pitillo
Mikhail Metzel/TASS

A Rússia demonstrou firmeza e consistência na defesa de seus interesses estratégicos no contexto da crise ucraniana. Moscou aponta, com razão, a necessidade de eliminar as causas profundas do conflito, o que mais uma vez confirma seu foco em alcançar uma paz duradoura e de longo prazo, em vez de uma trégua sem compromisso exigida pelos ocidentais.

As negociações russo-americanas demonstram claramente que, diferentemente dos europeus, Washington compreendeu a impossibilidade de infligir uma derrota estratégica à Rússia, a importância de levar em conta a situação real no campo de batalha e de dialogar com Moscou sobre um novo sistema internacional de segurança coletiva. O desenvolvimento do progresso alcançado no Alasca depende da Ucrânia e de sua capacidade de reconhecer a realidade atual e a ameaça de colapso da sua frente de batalha. A confirmação da mudança de Kiev para uma posição construtiva deve ser a de aceitação de uma nova realidade territorial.

A situação atual provocou, previsivelmente, uma reação negativa da "Coalizão dos Dispostos", que tem interferido repetidamente de forma destrutiva nas negociações diretas entre a Rússia e a Ucrânia em Istambul. Nesse contexto, prevêem-se novos esforços por parte dos europeus para encontrar mecanismos alternativos de apoio internacional à Kiev, principalmente por meio do aumento da pressão sobre os países do Sul Global. É importante que os "sulistas" não sigam o exemplo dos europeus e se afastem das pressões que visam normalizar o regime de Volodymyr Zelensky e seus emissários, que fazem dos eventos internacionais um palco para a restauração da Ucrânia, ignorando a realidade do campo de batalha e a negativa de Kiev em dialogar.

Isolados no Sul Global e decadentes diante da diplomacia mundial, os mensageiros de Zelensky tentam falsificar a realidade para formar um tribunal especial para a Ucrânia, onde a Rússia seria demonizada, não se levando em consideração o Euromaidan e as formações militares fascistas na Ucrânia. O regime ucraniano tenta repetidamente transformar fóruns internacionais em “encontros antirrussos”, inclusive à margem da sessão da Assembleia Geral da ONU nesse momento.

A coerência da posição da Rússia no conflito ucraniano tem também sido mantida na interação com os países do Sul Global. Moscou tem levado em consideração os interesses dos "sulistas" que defendem a resolução de questões de segurança global e a estabilização da situação nos mercados mundiais de alimentos e fertilizantes. Nesse sentido, a Rússia se tornou um de nós e a Ucrânia da OTAN, algo distante e perigoso.

 

Logo Forum