OPINIÃO

A guerra econômica e a luta política

Urge organizar nas comunidades, escolas, nas ruas e nas redes, a dispersa militância progressista e de esquerda, vanguarda no seio da Frente Ampla que se ensaiou, mas que não se consolidou, ainda

O sindicalista Paulo Vinícius da Silva.Créditos: Arquivo pessoal
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"A unidade é a bandeira da esperança" - João Amazonas


"E quem me vê apanhando da vida/ Duvida que eu vá revidar
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar" - Chico Buarque - Quando o carnaval chegar.

Um espectro ronda a América Latina, o espectro do golpismo. Com mais provas que as páginas da Bíblia Etíope, Bolsonaro tem passaporte carimbado para uma prisão em sala de estado maior, longe dos maus tratos e sevícias a que seu ídolo Brilhante Ustra reservava às suas vítimas, muitas ainda insepultas. É uma conquista democrática do Brasil a prisão em condições normais para Bolsonaro, assegurar-lhe os direitos humanos negados em inúmeras prisões em todo o Brasil. A despeito do júbilo, isso não soluciona nossos problemas. O céu é de ventos e trovoadas, e há que ser bom navegador e ter boa embarcação para ultrapassar as tempestades que a volta de Trump prometem. 

Eles promovem a sabotagem econômica aberta desde abril de 2023, com resolutos movimentos especulativos contra o Brasil e o governo Lula. Em conluio, deram-se dicas valiosas para o "mercado" amigo: a) No dólar não se mexe, deixa subir, foi uma delas; b) Se a instabilidade aumentar, podemos reduzir o ritmo da queda dos juros, foi a outra. Desde então, o Real sofre com a especulação face ao dólar e os juros sobem. Para que? Para diminuir o crescimento do emprego, para ampliar o preço dos alimentos e limitar a distribuição de renda. 

Os especuladores aumentam os juros por trás dos empréstimos e da produção, aumentam o preço do dólar que afeta vários produtos, mas dizem que o mal é o crescimento do emprego. Amigos da onça, os governadores aumentam unilateralmente o ICMS que incide sobre a gasolina, e a culpa fica para o governo federal. a guerra econômica, as sanções e a guerra comercial são ferramentas preferenciais para judiar da população e voltá-la para derrubar o governo. Agora, vemos isso no Brasil.

Isso é um jogo do tigrinho ampliado, o jogo da democracia burguesa cercada pelo fascismo, pelo poder absoluto dos ricos contra os trabalhadores e trabalhadoras. Pode-se até jogar bem, mas o game over é certo. É preciso mudar o jogo. 

A democracia neoliberal representativa já tinha sido expurgada da participação popular. Sucessivos poderes entraram para impedir o exercício da soberania popular. A independência do BACEN, o orçamento impositivo ou não e, agora, as bigtechs. O povo precisa entrar no jogo.

A unificação da comunicação sob a liderança de lula é parte importante da batalha, mas há muito o que fazer no sentido de organizar o povo, e é para isso que serve uma frente popular. A liderança de Lula ultrapassa seu governo e o PT, é fruto das mais profundas e titânicas forças do povo brasileiro, mas o povo que subiu a rampa precisa agir politicamente para fazer cumprir o seu programa, para desmascarar as tramas golpistas que não cessaram em 8/1/2023 e não cessarão até a prisão de Jair Bolsonaro e sua familícia. É uma tarefa maior que qualquer partido, é preciso construir a unidade capaz de a cumprir.

Urge organizar nas comunidades, escolas, nas ruas e nas redes, a dispersa militância progressista e de esquerda, a vanguarda no seio da Frente Ampla que se ensaiou, mas que não se consolidou, ainda. É preciso baixar o degrau para o povo poder ampliar sua participação política. 

Ao contrário, empareda-se o presidente Lula. Os aumentos artificiais absurdos de preços, a sabotagem do orçamento do governo, a voracidade dos especuladores, as mentiras da mídia prometem fortes emoções ao longo desse semestre que verá os procedimentos judiciais definidores do destino de Bolsonaro. Até lá, não haverá descanso, muito ao contrário, será justiça de um lado e pedido de anistia de outro.  Quem comandará as ruas e as redes?

Também o povo deve se unir e mobilizar. Tradicionalmente, o carnaval, 8 de março, o 28 de março e o Primeiro de Maio dão o tom do nosso povo, quando é para a luta crescer. O carnaval abre os caminhos das mais deliciosas manifestações das multidões em festa, e sempre teve conteúdo político. O 8 de março é a força da maioria das pessoas, as mulheres, por sua vida e dignidade, luta de gerações e fortes tradições socialistas. O 28 de março marca o dia do assassinato do estudante secundarista Edson Luís de Lima e Souto, de Belém do Pará, aos 14 anos, no restaurante Calabouço, no Rio, em 1968, é uma data lembrada até hoje em manifestações estudantis, maiores até que o Dia do Estudante, aniversário da UNE, 11 de agosto. 

Há uma grande expectativa esse ano sobre o Primeiro de Maio, Dia Internacional da Classe Trabalhadora. As centrais sindicais devem uma jornada de desagravo aos trabalhadores face ao golpismo, um ato à altura de São Paulo e por todo o Brasil. Por sua natureza estratégica, Brasília necessita de um Primeiro de Maio unificado e que abranja todo o Distrito Federal. Nesse roteiro do primeiro semestre poderemos, na luta, avançar com povo nas ruas e ações organizadas, uma só voz para defender o desenvolvimento e a democracia e exorcizar o golpismo.

 

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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