Desde pequeno, meu sonho era ser cientista, astronauta ou filósofo. Eu era inteligente, curioso, desses que ganham feira de ciências e respondem físico quântico quando perguntam o que querem ser quando crescer. Mas a vida me ensinou. Vi que ser brilhante não é o melhor caminho, e que pensar demais só atrapalha. Aos poucos, fui entendendo que o melhor mesmo era ser tosco. Simples, direto e, se possível, agressivo. Como um tweet com erro de português e três emojis de foguinho.
E não é que deu certo?
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Mas não pense que foi fácil. Ser burro, hoje em dia, exige treino e dedicação. Comecei devagar, trocando leituras por vídeos de gente falando com convicção sobre nada. Depois passei a acreditar piamente em tudo que ouvia no churrasco do meu cunhado: um sujeito que acha que o SUS é controlado pela maçonaria.
O próximo passo foi eliminar o vocabulário acima do nível da quinta série. Troquei “hipocrisia” por “frescura” e qualquer palavra que terminasse em “dade” por um “sei lá”. No começo, eu me engasgava tentando dizer “tipo assim” com naturalidade. Hoje, sou praticamente fluente em disparate.
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Por fim, larguei os livros. Todos. Não leio nem bula de remédio.
Gradualmente, fui aprimorando minha estupidez. Agora me expresso com frases como “bandido bom é bandido morto” e “tem que acabar com tudo isso daí”. Desenvolvi também um tom de voz firme, sempre meio inflamado, porque no mundo de hoje, quem grita não só vence a discussão — ganha seguidor, podcast e até cargo público.
O Brasil, isso ninguém pode negar, fez um pacto sagrado com a mediocridade. Por aqui, ser educado já virou sinônimo de mimimi. Vivemos uma era onde se você disser que prefere Nietzsche a Neymar, é capaz de apanhar com uma bandeira do Brasil.
O brasileiro médio idolatra o indivíduo raiz. O brutamontes. O que bate no peito e diz “sou sincero, falo na cara!”. Mesmo que o que ele diga seja um amontoado de asneiras que fariam até um jumento levantar e ir embora da conversa.
Foi aí eu percebi: não adianta remar contra a maré. O sucesso não está em ser brilhante, mas em ser um holofote defeituoso, piscando forte e confundindo todo mundo. Quem se esforça para ser sensato só ganha ansiedade. Porém, aquele que ostenta ignorância com orgulho vira referência, coach, e até candidato.
Agora, tenho satisfação em dizer que sou uma peça funcional nesse Brasil tapado: sou raso, barulhento e estou sempre pronto a dizer “é isso aí, pô!” mesmo sem saber o que é o “isso”. O importante é parecer sempre certo, mesmo quando se está completamente perdido. Porque no palco da grosseria, a inteligência virou figurante e o aplauso vai para quem xinga mais alto.