ELEIÇÕES 2026

Tarcísio não quer anistia e ataque de Malafaia foi álibi para Hugo Motta engavetar PL

Ao terceirizar para Malafaia os ataques a Hugo Motta, Bolsonaro abriu uma avenida para Tarcísio desfilar na terceira via e ir se consolidando como candidato "anti-Lula" à Presidência em 2026

Silas Malafaia, Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro no ato pela anistia na Paulista.Créditos: Divulgação / Silas Malafaia
Escrito en OPINIÃO el

A velha estratégia de Jair Bolsonaro (PL) de terceirizar ataques por meio de seu guru, Silas Malafaia, foi celebrada nesta terça-feira (8) na Presidência da Câmara, comandada por Hugo Motta (Republicanos-PB).

Sucessor de Artur Lira, o deputado arrumou um álibi para esquecer na gaveta o PL da Anistia e atender aos anseios de seu partido, o Republicanos, e do governador Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), que atua para selar sua candidatura à Presidência em 2026 frente a uma aliança entre Centrão, Faria Lima e mídia neoliberal.

Após se hospedar no Palácio dos Bandeirantes, residência oficial do governador de São Paulo, para participar do ato na Paulista em favor da anistia, Bolsonaro ordenou à bancada do PL que recuasse na ofensiva fascista contra Motta e deputados do Centrão para colocar o PL da Anistia em pauta.

Bolsonaro determinou ao líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que recuasse na estratégia de expor fotos de deputados que não aderiram à proposta em um "carômetro" na internet.

"Atendendo a um pedido do nosso eterno presidente Jair Bolsonaro vamos, estrategicamente, adiar a publicação dos nomes dos parlamentares que assinaram e dos que ainda estão indecisos", escreveu Cavalcante em seu perfil na rede X.

O ex-presidente determinou o recuo após Motta afirmar que "não vamos ficar restritos a um só tema", que aumenta a tensão com os outros poderes. "Não embarcaremos nisso", ressaltou.

"O que eu acho do Hugo Motta - e eu já conversei com ele algumas vezes. Ele leva pressão do ministro lá do Supremo, que não deveria acontecer, que é interferência. Leva pressão por parte do Executivo", afirmou Bolsonaro, em resposta, a um canal da ultradireita.

"O que eu acho que se faz, na imprensa, é que nós, os mais interessados na anistia, partamos para o confronto. E daí, sim, você tem um clima desfavorável. Então eu peço a alguns parlamentares do PL - e de outros partidos também -: vai com calma", emendou, baixando o tom contra Motta.

Além disso, pesquisa Quaest - avalizada pelo Datafolha um dia depois - revela que não há adesão à pauta da anistia e que 56% da população acredita que os envolvidos nas invasões de 8 de janeiro devem continuar presos por mais tempo e cumprirem suas penas.

Ataque de Malafaia

No entanto, em paralelo, Bolsonaro terceirizou a Silas Malafaia os ataques contra Hugo Motta - uma velha tática já usada pela dupla nos embates com Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Na tarde desta terça-feira (8), Malafaia fez estardalhaço nas redes alertando que iria postar um vídeo "com uma denúncia gravíssima contra o presidente da Câmara Hugo Motta".

No vídeo, guru tentou dar um tom de terror na pauta da Câmara que, segundo ele, atende ao Judiciário e ao Executivo, e requentou a narrativa de que Motta estaria sendo pressionado por Moraes e Lula "porque tem investigação da Polícia Federal contra ele o o pai dele". O objetivo era incitar a horda bolsonarista contra o presidente da Câmara.

Porém, a estratégia, dessa vez, deu xabu.

Rapidamente, começaram a circular pelos corredores da Câmara que Motta teria ficado furioso com os ataques de Malafaia a mando de Bolsonaro. E que, por isso, engavetaria o acordo feito com o ex-presidente, de colocar o PL da Anistia em pauta caso a bancada bolsonarista obtivesse os 257 votos necessário para iniciar a tramitação.

No entanto, a Fórum apurou com três fontes no Congresso Nacional que o ataque do guru de Bolsonaro foi celebrado no gabinete da Presidência da Câmara.

Segundo essas fontes, Motta estava dividido entre honrar o acordo com Bolsonaro e pautar o PL da Anistia, dando chances para que o ex-presidente não fosse preso e pudesse reverter a inelegibilidade, e uma negociação mais recente, que envolve diretamente o governador Tarcísio Gomes de Freitas e a cúpula dos Republicanos, braço político de Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus.

Anistia na gaveta

Malafaia é dono da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (Advec) e tem como principal inimigo no eleitorado evangélico o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal. Ambos têm um plano de poder calcado no eleitorado evangélico, principalmente neopentecostal, que é arquitetado desde os anos 1970, a partir do Rio de Janeiro.

A rivalidade foi exposta durante as eleições de 2022, quando Malafaia escanteou Marcos Pereira, bispo licenciado da Universal e presidente do Republicanos, na campanha eleitoral de Bolsonaro.

Pereira ainda teria ficado furioso com as investidas de Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, em cima de Tarcísio Gomes de Freitas, que concorreu ao governo de São Paulo pelo Republicanos. Malafaia queria, juntamente com Bolsonaro, atrair o ex-ministro para a legenda e isolar a turma de Edir Macedo.

No entanto, o Republicanos firmou aliança com o PSD, de Gilberto Kassab,  alçado como principal assessor de Tarcísio no governo paulista - e que hoje atua como principal articulador da candidatura de Tarcísio na terceira via.

Para viabilizar definitivamente a candidatura de Tarcísio, no entanto, é necessário tirar Bolsonaro de uma vez por todas do jogo político em 2026. E isso passa, também, por engavetar o PL da Anistia.

"Se Motta tirar da pauta [o PL da Anistia], Bolsonaro fica puto com ele. Se colocar, o Tarcísio fica puto. Malafaia é o álibi pra ele tirar da pauta e deixar o Tarcísio e o partido feliz", disse uma fonte do Congresso à Fórum.

Ou seja, o ataque de Malafaia deu o álibi que Motta queria para atender aos anseios presidenciais de Tarcísio em conluio com partidos do Centrão, a Faria Lima e a mídia liberal, que propagou a tese de que o presidente da Câmara estaria enfurecido com os ataques de Malafaia - enquanto o ato foi comemorado na "terceira via".

Enquanto o ex-presidente e seus aliados extremistas incitam a horda a culparem Moraes e Lula pela postura de Motta, Bolsonaro é traído nos bastidores por Tarcísio, que o hospedou antes de subir ao lado dele no trio elétrico na avenida Paulista para buscar votos dos apoiadores radicais para o projeto presidencial em 2026.

Pereira, Motta, Edir Macedo, Kassab, Faria Lima e mídia liberal agradecem a Silas Malafaia por deixar Bolsonaro cada dia mais a caminho da prisão e abrir uma avenida para Tarcísio desfilar na terceira via "anti-Lula" no próximo ano.
 

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