A chegada ao trono de Pedro do cardeal americano Robert Francis Prevost e sua escolha de ter como alcunha papal Leão XIV tem o sabor de continuidade e renovação. Continuidade com o legado do Papa Francisco, que reposicionou a Igreja como uma voz ativa nas grandes questões sociais do nosso tempo. Renovação, porque o novo pontífice carrega consigo um ímpeto próprio e uma caminhada eclesiástica que o capacitam a enfrentar os desafios do presente com coragem evangélica.
Como escrevi no artigo de despedida do Papa Francisco, a escolha do “nome papal” seja, talvez, o maior dos desafios de um eleito no Conclave. Não é uma escolha aleatória, estritamente pessoal, ou de cunho emocional: é uma declaração ao mundo dos rumos que pretende tomar enquanto sumo pontífice da maior potência cristã do mundo: a Igreja Católica Apostólica Romana.
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Ao chamar para si o nome de Leão XIV, Prevost resgata os ensinamentos de encíclicas históricas como Rerum Novarum e Laborem Exercens, onde Leão XIII reafirma que a dignidade do trabalhador não é negociável. Suas falas são diretas ao denunciar práticas empresariais que colocam o lucro acima da vida humana, defendendo o direito a condições de trabalho justas e à organização sindical. Em um mundo onde a exploração muitas vezes se disfarça de eficiência, sua voz tem o peso moral de quem fala em nome dos que pouco têm.
É bom lembrar que em sua atuação pastoral, Prevost atuou no Peru, berço da Teologia da Libertação na América Latina através de seu principal expoente, que foi Gustavo Gutierrez. Inclusive o bispo tem um título de cidadania peruana. Não seria um erro dizer que temos um segundo papa sulamericano. E a atuação da igreja no Peru passa pela crítica direta à exploração empresarial, ao acúmulo desmedido de riquezas e à indiferença das elites econômicas não é novidade no magistério da Igreja, mas ganha novo vigor sob sua liderança.
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Leão XIV pode significar que a Igreja recoloca o trabalho humano no centro das preocupações morais e pastorais, insistindo que justiça social não é ideologia, mas Evangelho vivido.
Mas sua visão não se limita à esfera econômica. Herdeiro do espírito franciscano (apesar de ser um agostiniano) de diálogo cultivado por seu antecessor, o novo Papa se compromete com a construção de pontes entre os povos, as culturas e as religiões. Em um mundo tomado por discursos de ódio e violências às minorias, sua opção pelo encontro, pela escuta e pela diplomacia espiritual é uma resposta concreta ao que há de mais urgente: a paz.
O que esperar de Leão XIV? Espera-se um pontífice profundamente enraizado na tradição, mas com os olhos voltados para as periferias do mundo. Espera-se que siga o caminho traçado por Francisco — da simplicidade, da opção pelos pobres, da ecologia integral —, ao mesmo tempo em que dá sua própria contribuição à missão da Igreja no século XXI. Que seja capaz de unir fé e justiça, tradição e escuta, espiritualidade e ação concreta.
Se mantiver o rumo, Leão XIV poderá consolidar uma primavera social e pastoral iniciada por seu predecessor. Uma primavera que não teme denunciar as estruturas de pecado, mas também não desiste de semear esperança onde muitos já só veem cinzas.
Habemus Papam!
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum.