OPINIÃO

Dossiê Geração Z – Por Ana Beatriz Prudente Alckmin

Uma pesquisa da revista Intelligent revelou que 1 em cada 5 jovens recém-formados nos EUA levou um dos pais para entrevistas de emprego

Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial
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A Geração Z está chegando ao mercado de trabalho com comportamentos que surpreendem e, muitas vezes, causam estranhamento. Uma pesquisa da revista Intelligent revelou que 1 em cada 5 jovens recém-formados nos EUA levou um dos pais para entrevistas de emprego. À primeira vista, isso pode parecer exagero ou dependência excessiva, mas há razões mais profundas por trás desse comportamento. Para esses jovens, o mercado de trabalho se apresenta como um ambiente assustador, repleto de incertezas, e isso tem afetado diretamente a forma como eles encaram os processos seletivos. Insegurança em relação ao mundo corporativo, medo de constrangimentos e uma maior dependência emocional e logística dos pais são fatores recorrentes. Além disso, muitos enxergam os pais como parte da sua formação profissional, quase como consultores de vida que os acompanham desde sempre.

Do outro lado, recrutadores relatam dificuldades diante dessa nova realidade. A presença dos pais em entrevistas, por exemplo, pode prejudicar o contato visual e transmitir, mesmo que de forma não intencional, uma imagem de falta de confiança. Mas antes de soltar um “no meu tempo…”, vale a pena refletir. O mercado de trabalho atual é muitas vezes desumano, competitivo e pouco acolhedor. É fácil julgar, mas difícil entender todas as camadas dessa relação. Muitos jovens cresceram cercados por apoio constante e agora se veem pressionados a corresponder a exigências de um sistema hostil, com medo de errar ou parecer fracos. Nesse cenário, o debate deveria ir além da crítica geracional: é o ambiente profissional que também precisa evoluir, com processos seletivos mais empáticos, feedbacks construtivos e menos dinâmicas que expõem ou intimidam.

Curiosamente, essa mesma geração que busca acolhimento no trabalho também tem demonstrado uma inclinação conservadora em outros aspectos. Uma pesquisa da Universidade de Yale apontou que, ao contrário do que muitos imaginavam, a Geração Z tem revelado valores mais tradicionais quando se trata de temas como família, religião e economia. Essa postura pode parecer contraditória com a imagem progressista frequentemente associada aos mais jovens, mas faz sentido quando pensamos no contexto em que cresceram: crises econômicas, pandemia, polarização política e um excesso de estímulos vindos das redes sociais. Diante de tanta instabilidade, buscar segurança em valores mais “concretos” pode parecer uma forma de resistência. Mas esse conservadorismo não é homogêneo. Ele se mistura com traços de individualismo, abertura para questões sociais e uma redefinição do que significa ser conservador na era digital. É como se a Gen Z estivesse moldando uma nova forma de pensar, adaptada às suas experiências globais e hiperconectadas.

Essa complexidade também aparece na relação da Geração Z com a sustentabilidade. Eles são amplamente reconhecidos por seu compromisso com o meio ambiente — e com razão. De acordo com uma pesquisa da EY, 58% afirmam preferir marcas que adotam práticas sustentáveis. No entanto, ao mesmo tempo, vemos o crescimento explosivo de marcas como a Shein, que teve um aumento de 43% só em 2023, com a própria Gen Z como principal público. Essa contradição levanta uma pergunta importante: será que as ações estão acompanhando os discursos? Em tempos de crise econômica, o dilema entre economizar e consumir de forma ética se torna ainda mais intenso. A intenção está lá, mas a prática nem sempre acompanha. Ainda assim, há sinais de mudança. Movimentos como o “deinfluencing” e o “underconsumption core” vêm ganhando força nas redes sociais, promovendo a ideia de consumo consciente, moda de segunda mão e maior responsabilidade nas escolhas. Essa geração pode até tropeçar nas contradições do presente, mas está tentando, à sua maneira, encontrar um caminho mais coerente entre seus valores e suas ações.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum

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