Como as organizações inovadoras estão moldando o futuro? – Por Ana Beatriz Prudente Alckmin
Pesquisadores e especialistas, como Takeuchi e Nonaka, foram pioneiros ao apontar que as empresas bem-sucedidas eram aquelas que haviam abandonado esse modelo rígido de trabalho em favor de uma abordagem mais integrada
Nos últimos anos, o ambiente corporativo tem passado por mudanças radicais na forma como as organizações enfrentam e resolvem problemas, especialmente em um contexto de inovação contínua e desafios cada vez mais complexos.
Antigamente, os processos de trabalho eram orientados por um modelo de cadeia linear, onde equipes eram responsáveis por etapas distintas de um projeto, como requisitos, desenvolvimento, design e qualidade. Esse modelo, em que cada área desempenhava sua função sem interagir com as outras, apresentava grandes limitações, principalmente quando as soluções precisavam ser adaptadas às necessidades reais de um mercado em constante mudança. O resultado disso era um processo fragmentado e muitas vezes ineficiente, que não conseguia responder à altura das demandas de um mundo cada vez mais dinâmico e complexo.
Pesquisadores e especialistas, como Takeuchi e Nonaka, foram pioneiros ao apontar que as empresas bem-sucedidas eram aquelas que haviam abandonado esse modelo rígido de trabalho em favor de uma abordagem mais integrada.
Eles identificaram que o segredo estava na formação de equipes multidisciplinares e autônomas, compostas por membros de diferentes áreas de expertise, como design, desenvolvimento, qualidade e requisitos, que trabalham juntas desde o início do projeto, e não apenas quando uma demanda específica é identificada. Isso cria um ambiente colaborativo em que o conhecimento circula de forma constante e fluida, o que se traduz em maior agilidade e capacidade de adaptação às mudanças do mercado.
Por exemplo, Takeuchi e Nonaka observaram práticas em empresas como Toyota, Honda e Fuji Xerox, onde o desenvolvimento de produtos seguia um fluxo sobreposto, semelhante a um jogo de rugby, em vez da cadeia sequencial clássica. Essas organizações formavam times que se autogeriam, com diversidade de competências e autonomia para tomar decisões integradas.
Essa mudança de paradigma exige que as equipes sejam compostas por profissionais que não apenas dominam suas áreas específicas, mas que também possuam uma visão holística do processo como um todo.
Em vez de seguir uma sequência rígida de etapas como nas abordagens tradicionais, as equipes modernas funcionam como unidades autossuficientes, capazes de realizar todas as etapas de um projeto de forma integrada, desde a concepção da ideia até a entrega final. A prática tem mostrado que essa abordagem permite maior flexibilidade e resultados mais rápidos, já que as equipes podem interagir diretamente durante todo o processo, compartilhando insights e ajustando o trabalho em tempo real.
Além disso, a forma como as organizações tomam decisões também passou por uma evolução.
Em vez de buscar soluções prontas e planejadas de antemão, as empresas hoje estão mais focadas em experimentar, aprender e adaptar-se à medida que novas informações se tornam disponíveis. Essa mudança de mentalidade implica em adotar uma abordagem empírica, baseada na prática e na validação de hipóteses ao longo do caminho. Esse modelo de aprendizado contínuo é fundamental, pois permite que as organizações se ajustem de forma rápida e eficaz aos desafios que surgem, sem ficarem presas a soluções fixas ou pré-determinadas.
Por exemplo, a metodologia Lean Startup de Eric Ries enfatiza a validação contínua de hipóteses usando produtos mínimos viáveis, testes A/B e ciclos rápidos de iteração, resumidos na ideia de construir, medir e aprender para orientar decisões com base no comportamento real do cliente, e não em métricas de vaidade.
Grandes empresas como Dropbox, Airbnb e Zappos adotaram esses princípios com bons resultados. O Dropbox lançou um vídeo explicativo simples como produto mínimo viável e recebeu 75.000 inscrições em um único dia, confirmando a demanda antes do desenvolvimento completo. Já o Airbnb começou listando colchões de ar e, com base no feedback inicial dos hóspedes, evoluiu para a plataforma global que conhecemos. A Zappos validou a hipótese de compra de sapatos online fotografando o estoque de lojas locais e vendendo apenas quando os pedidos aconteciam, sem precisar estocar inicialmente.
A ideia de que aprender é um processo contínuo e constante é central para essa nova forma de trabalhar.
A aprendizagem nas organizações modernas não é algo que acontece de forma pontual, mas um ciclo interminável de testes, ajustes e reavaliações. Um exemplo claro disso é o modelo de aprendizado validado, desenvolvido por Eric Ries, que propõe que o aprendizado real só ocorre quando uma solução é colocada nas mãos do usuário final, e o feedback gerado por essa experiência é incorporado nos próximos ciclos de desenvolvimento. A aprendizagem validada, portanto, é aquela que ocorre em tempo real, à medida que as organizações testam suas ideias e ajustam sua abordagem com base no que funciona e no que não funciona.
A mensuração do aprendizado também se torna uma tarefa mais dinâmica e fluida.
Em vez de focar apenas nos resultados imediatos, as organizações passam a considerar a jornada de aprendizado como um ativo valioso. Isso envolve a documentação de descobertas, a validação de hipóteses e o registro de feedbacks recebidos, que podem ser compartilhados e aplicados em ciclos futuros. A medição do aprendizado se torna, assim, um processo contínuo de reflexão, onde o mais importante não é só o que foi alcançado, mas como o conhecimento foi adquirido e como ele pode ser reutilizado para resolver novos problemas.
Nesse novo contexto, é fundamental entender a natureza dos problemas que se está enfrentando.
Utilizando modelos como o Cynefin, é possível categorizar os problemas de acordo com sua complexidade, e isso ajuda a escolher a abordagem mais apropriada para cada situação. Em contextos simples, onde as soluções são claras e conhecidas, é possível adotar abordagens mais preditivas e determinísticas. Porém, à medida que a complexidade aumenta, as soluções precisam ser mais adaptativas, com equipes capazes de lidar com a imprevisibilidade e a incerteza. Em casos extremos de caos, por exemplo, a resposta é mais imediata e deve ser tomada sem depender de planejamentos extensivos, já que o ambiente exige ação rápida e decisões baseadas em instinto e experiência.
Com o amadurecimento de um problema, à medida que a organização acumula mais conhecimento sobre ele, é possível migrar de uma abordagem empírica, baseada em tentativas e erros, para uma abordagem mais racional e estruturada.
A chave para essa transição está no aprendizado contínuo e na capacidade de evoluir conforme novas soluções e técnicas se tornam disponíveis. O exemplo do uso de conhecimento novo que antes não existia para resolver problemas antigos ilustra bem como a evolução do entendimento sobre um determinado problema pode mudar a abordagem para resolvê-lo.
Em última instância, o sucesso de uma organização moderna está intimamente ligado à sua capacidade de construir uma cultura organizacional voltada para o aprendizado e para a experimentação.
Em um ambiente em que a inovação é impulsionada pela colaboração entre equipes interdisciplinares e pelo feedback constante dos usuários, as empresas se tornam mais ágeis e capazes de responder rapidamente a novos desafios. No entanto, para que isso funcione de maneira eficaz, é necessário mais do que apenas as ferramentas adequadas. Requer uma mudança fundamental na forma como as organizações pensam sobre problemas e soluções, dando prioridade à aprendizagem contínua e ao compartilhamento de conhecimento.
A inovação, hoje, está fortemente ligada a tecnologias emergentes como inteligência artificial generativa e automação inteligente.
Diversas empresas têm aproveitado IA generativa para acelerar o atendimento ao cliente, não substituindo pessoas, mas oferecendo respostas pré-escritas que o humano ajusta, reduzindo tempo e aumentando precisão. A inteligência artificial é vista como uma ferramenta que potencializa processos, e não como um produto final.
As empresas que entenderem a importância de se adaptar a essa nova realidade terão uma vantagem significativa no mercado.
Ao invés de temer o fracasso, elas verão no erro uma oportunidade de aprendizado, uma chance de aprimorar processos e aumentar sua capacidade de inovar. O futuro da gestão de projetos, portanto, está mais ligado ao processo contínuo de experimentação, adaptação e aprendizado do que à busca por soluções definitivas e fixas. As organizações que abraçarem essa mentalidade estarão mais preparadas para prosperar em um mundo de constante mudança.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum