63,8% dos brasileiros são contra a privatização do SUS, aponta Pesquisa Fórum

Levantamento revela ainda que maioria da população acompanhou a polêmica do decreto de Bolsonaro - revogado após pressão - que abria caminho para a privatização do sistema

Foto: Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares
Escrito en PESQUISA FÓRUM el

A pandemia do coronavírus colocou em evidência a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) para o país. Não à toa, em outubro, quando Jair Bolsonaro baixou um decreto que abria caminho para a privatização do sistema, boa parte da população se colocou contra e, alinhada a parlamentares de oposição, fez pressão e levou o presidente a recuar e revogar o decreto.

A 7ª edição da Pesquisa Fórum, realizada entre os dias 4 e 9 de novembro, em parceria com a Offerwise, ilustra essa reação: 63,8% dos entrevistados disseram ser contra a privatização do SUS, enquanto 21,6% se manifestaram favoravelmente à entrega do sistema público à iniciativa privada. 14,6% não souberam opinar.

O levantamento mostra que a posição contrária à privatização do SUS prevalece em todos os segmentos de gênero, escolaridade, faixa etária, renda e região.

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Entre as mulheres, 68,8% são contrárias à ideia da privatização do SUS, enquanto 15,7% são favoráveis e 17,5% não sabem opinar. Já entre os homens, a posição contrária ao fim do Sistema Único de Saúde é um pouco menor, 59,4%, contra 30,3% que são a favor. 10,3% dos entrevistados do sexo masculino não têm opinião formada sobre o assunto.

O estudo revela ainda que, quanto maior o nível de escolaridade, maior o apoio ao sistema público: 70,5% dos brasileiros com Ensino Superior se posicionam contra a privatização do SUS, enquanto apenas 21,4% deste público se dizem a favor; 8,1% não souberam opinar.

Essa posição contrária à privatização cai para 64,8% entre aqueles que possuem o Ensino Médio, contra 20,3% que se dizem a favor, e para 49,1% entre aqueles que possuem somente o Ensino Fundamental, contra 24,9% favoráveis.

No recorte por idade, a ojeriza à privatização do SUS ganha destaque entre os mais jovens: 69,9% dos entrevistados com idades entre 16 e 24 anos se colocam contra a entrega do sistema ao capital privado, enquanto 16% são a favor e 14,2% não sabem opinar. A menor taxa de apoio ao sistema público está entre aqueles com idades entre 35 e 44 anos: 58,8% são contra a privatização, 25,5% são a favor e 15,7% não têm opinião formada.

Quando o filtro é a renda mensal, aqueles que têm maior poder aquisitivo são os que mais apoiam a privatização do SUS. Ainda assim, dentro deste segmento, os que são contra continuam sendo maioria. 30% dos brasileiros com renda de 10 salários mínimos ou mais são a favor da privatização do sistema, enquanto 64% se dizem contra e 6% não opinaram. Já o menor índice de apoio ao fim do SUS está entre aqueles que recebem de 2 a 3 salários mínimos por mês: apenas 17,6% são favoráveis, enquanto 67,6% são contra e 14,8% não deram opinião sobre o assunto.

A região do Brasil que mais concentra pessoas que são contra a privatização do SUS é o Nordeste: 65,7%, contra 21,3% que se dizem favoráveis e 13% que não souberam opinar. Já a região em que a privatização do sistema encontra mais apoio é o Norte: 24,5%. Ainda assim, a maioria da população na região é contra: 61,2%. 14,3% dos entrevistados dessa região não opinaram.

Decreto de Bolsonaro

A Pesquisa Fórum também revela que a maioria dos brasileiros acompanharam a polêmica do decreto de Bolsonaro que abria caminho para a privatização do SUS: 68,2% disseram ter acompanhado o assunto, contra 31,8% que não tiveram proximidade com a pauta.

O Decreto Nº 10.530 , publicado por Bolsonaro no dia 26 de outubro, dispunha sobre "a política de fomento ao setor de atenção primária à saúde, para fins de elaboração de estudos de alternativas de parcerias com a iniciativa privada para a construção, a modernização e a operação de Unidades Básicas de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios". Para especialistas, essas parcerias com a iniciativa privada seriam um primeiro passo para o desmonte e privatização completa do sistema que hoje é público e gratuito.

No dia 28 de outubro, após pressão nas redes sociais por parte da população e iniciativas de parlamentares, que apresentaram projetos para derrubar o texto, o presidente recuou e revogou o decreto, negando, no entanto, que o texto tratasse de privatização.

Pesquisa inova com metodologia

7ª Pesquisa Fórum foi realizada entre os dias 4 e 9 de novembro, em parceria com a Offerwise, e ouviu 1000 pessoas de todas as regiões do país. A margem de erro é de 3,2 pontos porcentuais, para cima ou para baixo. O método utilizado é o de painel online e a coleta de informações respeita o percentual da população brasileira nas diferentes faixas e segmentos.

O consultor técnico da Pesquisa Fórum, Wilson Molinari, explica que os painelistas são pessoas recrutadas para responderem pesquisas de forma online. A empresa que realiza a pesquisa, a Offerwise, conta com aproximadamente 1.200.000 potenciais respondentes no Brasil. “A grande vantagem é que o respondente já foi recrutado e aceitou participar e ser remunerado pelas respostas nos estudos que tenha interesse e/ou perfil para participar. No caso da Pesquisa Fórum, por ser de opinião, não existe perfil de consumidor restrito, como, por exemplo, ter conta em determinado banco, ou possuir o celular da marca X. O mais importante é manter a representatividade da população brasileira, tais como, gênero, idade, escolaridade, região, renda, etc.”

Molinari registra que pesquisas feitas em ruas ou nos domicílios costumam ter margem de erro menor. “Porém sabemos que 90% da população brasileira possui acesso à telefonia celular e, especificamente na situação de quarentena que estamos vivendo, o método online é mais seguro do que o pessoal e sempre é menos invasivo que o telefônico.”

Pouco usado para pesquisas de opinião no Brasil, os painéis online são adotados como método de pesquisa no mundo todo, segundo Molinari. E regulamentados pelas principais associações de pesquisa. “Os painéis hoje são amplamente utilizados para pesquisas de satisfação, imagem de marca, qualidade de produtos e serviços, opinião, entre outras”, acrescenta.