Escola e Forças Armadas são as instituições que brasileiros mais confiam, diz Pesquisa Fórum

Congresso, STF e imprensa, constantemente atacados pelo presidente, sustentam as menores taxas de confiança

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
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A 2ª edição da Pesquisa Fórum, realizada neste mês de maio em parceria com a Offerwise, revela que Escola e as Forças Armadas são, respectivamente, as instituições que os brasileiros mais confiam. São 56,5% os que "confiam muito" nas escolas e 44% nos militares.

Entre os que responderam "confiar muito" nas escolas, a maioria tem ensino fundamental completo (64,6%) e é da região Centro-Oeste do país (72,6%). Apenas 6% dos entrevistados disseram confiar pouco nas escolas, enquanto 37,3% responderam confiar "um pouco".

Com relação às Forças Armadas, o número de reprovação é um pouco maior, mas continua baixo: apenas 14% dos brasileiros "confiam pouco" nos militares e 41% confiam "um pouco". Dos que disseram confiar muito, a maioria é homem (53,8%) e tem mais de 60 anos (55%).

Além disso, ao contrário do que foi visto na instituição escola, a maioria dos que confiam nas Forças Armadas tem ensino superior (51%) e ganham de 5 a 10 salários mínimos (62%).

Por serem instituições que sustentam os maiores índices de confiança, Jair Bolsonaro tem investido nas mesmas desde o início de seu mandato.

Em relação às Forças Armadas, o presidente vem aumentando o número de membros especialmente do Exército em seu governo e constantemente concede benefícios à categoria.

Em meio a pandemia do Coronavírus, o Ministério da Saúde é uma das pastas do governo de Bolsonaro que está sob comando de um militar, o general Eduardo Pazuello, que assumiu o cargo assim que Nelson Teich pediu demissão. No órgão, já são 13 os militares chamados para atuar cargos de comando, a maior parte sem ter formação ou experiência na área da Saúde.

Outro episódio recente evidencia o alinhamento do presidente com a categoria. Ao menos 190 mil militares da ativa, da reserva, reformados, pensionistas e anistiados receberam o auxílio emergencial de R$ 600, que foi criado para atender desempregados e autônomos durante a pandemia. O Tribunal de Contas da União (TCU) já determinou a devolução do dinheiro.

Em relação à escola, ela também é uma instituição que o presidente constantemente investe em prol de uma maior abrangência ideológica de seu governo. Além de ser entusiasta do Sistema Militar de Educação e usar os colégios militares como propaganda de governo - algo rechaçado por parte dos alunos -, Bolsonaro também é apoiador de projetos como o "Escola Sem Partido" e condena o ensino do que considera ser "ideologia de gênero".

Na semana passada, o presidente usou um grupo de crianças para anunciar que pediu uma lei federal proibindo o ensino da “ideologia de gênero” nas escolas. O anúncio foi feito após o padre bolsonarista Pedro Stepien, frequentador das aglomerações promovidas por Bolsonaro, afirmar que tinha um pedido ao presidente.

Igrejas

A Pesquisa Fórum também revelou que as igrejas evangélicas e católicas são instituições com estatísticas igualmente altas com relação ao nível de confiança. Logo depois das Forças Armadas e escolas, as igrejas são os grupos mais confiáveis na sociedade. Surpreende que mesmo o Brasil sendo um país ainda majoritariamente católico, o grau de confiança na igreja católica e evangélica seja praticamente o mesmo.

Para 32,4% dos entrevistados, a igreja católica é "muito confiável", enquanto o mesmo se aplica para 31% em relação à igreja evangélica. Ambas possuem grande influência no governo Bolsonaro, em especial as evangélicas, e constituem um dos principais grupos de apoio do ex-capitão.

Por serem fiéis apoiadores, Bolsonaro a todo instante tentam aprovar projetos e benefícios favoráveis aos religiosos. Em movimento recente, o presidente pressionou a Receita Federal a perdoar dívidas de igrejas evangélicas, algumas delas milionárias.

A Igreja Internacional da Graça de Deus, por exemplo, acumula R$ 144 milhões em dívidas, além de dois processos de R$ 44 milhões no Carf, tribunal administrativo da Receita.

Durante a pandemia do coronavírus, Bolsonaro também tentou classificar os templos religiosos como "atividades essenciais" para impedir seu fechamento na quarentena, mesmo que decisão apresentasse risco de saúde para os fiéis.

Menos confiáveis

Dentre as instituições menos confiáveis, de acordo com a Pesquisa Fórum, estão o Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF). Ao todo, 47,8% da população diz não confiar na Câmara dos Deputados e no Senado, e 44,7% no STF.

A imprensa também sustenta uma taxa alta de reprovação, com 35,5% de pessoas que disseram não confiar na instituição. Apenas 14% afirmam "confiar muito" nos jornais.

As três instituições com taxas baixas de confiabilidade são constantemente atacadas por Bolsonaro. Jornalistas são xingados, desrespeitados e ignorados no Palácio da Alvorada quase diariamente pelo presidente. Em caso recente, o presidente mandou um jornalista "calar a boca" enquanto se defendia das acusações de que estaria interferindo politicamente na Polícia Federal.

O presidente também tem participado quase todos os finais de semana de atos golpistas no Palácio do Planalto que pedem uma intervenção militar no país, além do fechamento do Congresso e do STF.

Os sindicatos também tem baixa taxa de confiança entre os pesquisados (11,4%). As grandes empresas mantém taxa mais alta (27,7%) e as entidades sociais (20,2%).

A Pesquisa Fórum, realizada em parceria com a Offerwise sob consultoria de Wilson Molinari, ouviu 1.000 pessoas de todas as regiões do Brasil entre os dias 14 e 17 de maio e tem uma margem de erro de 3,2 pontos porcentuais, para cima ou para baixo. O método de coleta foi o uso de painel online e a coleta de informações representa em parcela a população brasileira. (Saiba mais aqui sobre a metodologia.)