Arthur Virgílio lava roupa suja em carta aberta a Alckmin

A carta é um documento exemplar da crise pelo qual passam os tucanos: “Enfrente-me em campo aberto. Ou perderemos mais uma eleição e nos tornaremos cada vez mais irrelevantes na cena política brasileira”

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A carta é um documento exemplar da crise pelo qual passam os tucanos: “Enfrente-me em campo aberto. Ou perderemos mais uma eleição e nos tornaremos cada vez mais irrelevantes na cena política brasileira” Da Redação* O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), enviou cara furibunda ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, logo após a convenção deste sábado (9), que escolheu o governador como presidente do partido. Nela, trata, além de questões relevantes, como a provável ausência de prévias para a escolha do candidato à presidência do PSDB, outras um tanto comezinhas, como ter sido bloqueado por um militante ligado a Alckmin para que não aparecesse nas fotos da convenção. Virgílio acusa ainda a hegemonia de São Paulo dentro do partido, ao citar caso do deputado Caio Narcio (de Minas Gerais), que teria tentado subir ao palanque, para abraçar alguém, e “foi barrado por uma senhora de postura marcial: ‘o senhor não pode subir’. Ao que o deputado respondeu: ‘sei que não posso, não sou paulista’”. Mais do que uma série de críticas e ajustes, a carta é um documento exemplar da crise pelo qual passam os tucanos, indicando uma ameaça cada vez mais real, de acordo com as pesquisas, que o próprio Virgílio aponta no final de seu desabafo: “Enfrente-me em campo aberto. Ou perderemos mais uma eleição e nos tornaremos cada vez mais irrelevantes na cena política brasileira”. Leia a íntegra da carta abaixo, com todos os negritos preservados:

Carta de Arthur Virgílio para Geraldo Alckmin

Caro Geraldo, Na reunião da última sexta feira, dia 08 deste mês, patrocinada pelo Tasso (Jereisatti), decidimos, você e eu, sobre os seguintes pontos: — O PSDB realizará prévias para escolha do seu candidato à Presidência da República nas eleições de outubro de 2018. “Prévias amplas, gerais e irrestritas”, abertas, portanto, a todos os filiados ao partido que nele militem há, pelo menos, um ano. Hoje leio declaração do ex-presidente interino Alberto Goldman, dizendo ser impossível tal realização democrática, numa linha de argumentação que não me convence e, sem dúvida, convence, menos ainda, o povo brasileiro. Confio que sua palavra é, foi e será definitiva. Espero que o ilustre companheiro declare, em alto e bom som, que as prévias acontecerão e que oportunidades iguais serão dadas aos dois postulantes à indicação para a disputa presidencial; — Falando em igualdade, repiso que, há meses, requisitei formalmente, à direção nacional, a lista com nome, e-mail, telefones e endereço de cada filiado ao PSDB. Como não obtive êxito, repito a você a justa reivindicação. Tão justa, que poderia, até mesmo, seguir em tom de cabível exigência. Gente com vocação para a vitória, afinal, não usa de escapismos para fugir a um enfrentamento saudável e necessário; — Do mesmo modo, acertamos, eu e você, que a pré-campanha, certamente, haveria de contar com recursos do fundo partidário, divididos em partes milimetricamente iguais entre as suas atividades e as minhas; — Finalmente, realizaríamos pelo menos dez debates, nas mais estratégicas cidades brasileiras. Debates respeitosos, porém duros, que exporão o PSDB, com seus feitos e suas mazelas, com suas ações e omissões, ao escrutínio da militância e, sobretudo, ao olho no olho com a nação brasileira. Sobre a convenção, nela registrei alguns fatos insólitos: 1) durante penosos minutos, fiquei sem saber se teria lugar à mesa ou não; 2) visivelmente reduziram a potência do som, quando discursei; 3) para o Instagram da Rede 45 (conta oficial do PSDB), eu simplesmente “não fui” à convenção. Que feio! 4) quando se começou a entoar o hino nacional, um certo cidadão, que dizem ligado a você, genro não sei bem de quem, intrometeu-se, bruscamente, entre o presidente Fernando Henrique e eu, espero que mandado por ninguém, certamente com intuito de evitar alguma primeira página retratando aquele momento entre o notável sociólogo e seu antigo ministro e duas vezes líder do seu governo. Miudezas, Geraldo, que – tenho certeza! – não fazem parte da perspectiva generosa que, obrigatoriamente, deve fazer parte do caráter de um candidato a dirigir o Brasil. Fiquei feliz com as “vaias” de uma das charangas, porque elas logo silenciaram – e viraram aplausos – diante das razões de quem não é dúbio e não teme jogar na casa do adversário. Não confundamos, aliás, o conceito do PSDB, junto aos brasileiros, com a convenção tão recentemente realizada. O Brasil estava bem distante das centenas de pessoas que foram ao nosso evento, levadas, em sua maioria, por lideranças partidárias. Eu mesmo levei minha “claque”: minha esposa, um deputado estadual, um vereador, um dirigente, e mais duas ou três pessoas. Uma multidão! Não permita, por fim, que se agigante um sentimento de rancor contra o seu estado, meu prezado Geraldo. O deputado Caio Narcio (de Minas Gerais) tentou subir ao palanque, para abraçar alguém, e foi barrado por uma senhora de postura marcial: “o senhor não pode subir”. Ao que o deputado respondeu: “sei que não posso, não sou paulista”. Você sabe como discordei, apesar de toda a estima pessoal, de termos um presidente do PSDB que, ao mesmo tempo, fosse postulante à presidência da República. O gesto truculento contra o Tasso soa, então, como pessoal. E o desmentido dessa jurisprudência, pois, soa como casuística também. Somente me resta, agora, opinar que a única postura que lhe cabe, neste momento, é acabar com esse disse-me-disse sobre as prévias. Declare, com a firmeza que o caracteriza, que elas acontecerão e serão amplas, irrestritas, livres e lisas. Declare que o PSDB terá de fechar questão a favor da reforma da Previdência, em nome do Brasil, e não das próximas eleições. Declare que conduzirá nosso partido pelo caminho aberto do reencontro com os brasileiros, e não pelos atalhos que levam a decisões de cúpula, ao menoscabo aos nossos militantes. Enfim, companheiro, enfrente-me em campo aberto. Ou perderemos mais uma eleição e nos tornaremos cada vez mais irrelevantes na cena política brasileira. Saudações tucanas. Arthur Virgílio Neto Foto: PSDB/George Gianni